No momento em que a atividade econômica elevava a marcha, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros, a Selic, para 10,75% ao ano. Com isso, o Brasil voltou a ocupar a segunda posição como o maior juro real do mundo, de acordo com dados compilados pelo site MoneyYou.
O juro real é formado, entre outros pontos, pela taxa de juros nominal do país descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses.
O levantamento do MoneYou mostra que, com a alta da Selic anunciada ontem (18), os juros reais do país ficaram em 7,33%. O líder do ranking é a Rússia, com taxa real de 9,05%.
Na última divulgação, em 31 de julho, o Brasil ocupava a terceira colocação da lista. A combinação de inflação mais forte e cenário externo desafiador continua a pressionar o fechamento da taxa real de juros, segundo o MoneYou.
Depois de Rússia e Brasil, os próximos das lista são:
- Turquia: 5,47%
- México: 5,45%
- Indonésia: 4,37%
- Índia: 3,08%
- África do Sul: 2,96%
- Colômbia: 2,37%
- Tailândia: 2,03%
A Argentina ficou em último lugar, com -33,92%, porque a inflação do país é altíssima, o que gera distorções.
Quando se leva em consideração as taxas de juros nominais (sem descontar a inflação), o Brasil ocupa a quarta posição. Confira abaixo:
- Turquia: 50%
- Argentina: 40%
- Rússia: 19%
- Brasil: 10,75%
- Colômbia: 10,75%
- México: 10,75%
- África do Sul: 8,25%
- Hungria: 6,75%
- Índia: 6,50%
- Filipinas: 6,25%
A decisão do Copom, de elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, ocorre depois que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ter divulgado que o PIB (Produto Interno Bruto) avançou 1,4% no segundo trimestre e que o país registrou deflação em agosto.
Na avaliação do comitê, a economia brasileira está aquecida, o que pode gerar pressões inflacionárias no futuro, comprometendo a meta de inflação perseguida pelo Banco Central, de 3% (centro) neste e no próximo ano, podendo oscilar 1,5 ponto percentual para mais (4,5% – teto) ou para menos (1,5% – piso).
Entenda como o aumento da Selic afeta a economia e a sua vida
Na economia, a taxa básica de juros é referência para todas as demais taxas usadas no mercado, como de empréstimos e aplicações financeiras.
Portanto, quando os juros sobem, as consequências são:
- Cresce o custo de dívida das empresas e dos cidadãos.
- Aumenta o custo do crédito. Tomar empréstimos fica mais caro.
- Encarece os investimentos por parte das companhias.
- Reduz o consumo das famílias, pois é usada como um instrumento de controle dos preços.
- Cresce a dívida pública, pois eleva os juros pagos pelo governo. Os títulos do Tesouro, por exemplo, fazem parte da dívida pública, o que gera piora das contas do governo.
- Pode diminuir o apetite ao risco de investidores. Na renda variável, o maior custo de dívida das empresas pode influenciar a forma como investidores calculam o que seria o valor justo das ações das companhias listadas, diminuindo o apetite pela Bolsa de valores.
- Deve afetar a inadimplência. Como encarece o crédito, pode elevar a inadimplência das famílias, que já é alta no país.
Lado positivo:
- Aumenta a rentabilidade da renda fixa, como CDBs, LCIs e outras aplicações do tipo, já que a Selic serve de referência para os títulos privados, ou seja, uma boa notícia para os chamados rentistas.
Juros altos afetam todos os setores econômicos. A indústria tende a frear investimentos e as famílias deixam de gastar no comércio e nos serviços, com impactos negativos no mercado de trabalho e na renda das famílias.
Decisão do Fed
Quando toma esse tipo de decisão, o Copom mira um horizonte de seis a nove meses. Em outra frente, ontem o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) decidiu cortar as taxas de juros em 0,50 ponto percentual, o que deve mexer com o dólar e com o fluxo de dinheiro pelo mundo.
Isso pode, inclusive, beneficiar um fluxo maior de capital para o Brasil, melhorando o mercado de ações e também o câmbio, com reflexos também na inflação.
Parte da inflação brasileira é dolarizada, por conta dos diversos insumos e produtos importados que são consumidos no país. Assim, com um dólar mais barato, a pressão dos preços desses itens cai e tende a reduzir a inflação.
No limite, isso poderia fazer o BC brasileiro subir menos (ou voltar a cortar mais cedo) a taxa de juros no futuro.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias