Com alta da Selic, Brasil volta a ter o 2º maior juro real do mundo. Entenda como o reajuste mexe com a sua vida

Brasil tem juro real de 7,33% com o ajuste para cima anunciado pelo Copom ontem na Selic. O líder do ranking é a Rússia, com taxa real de 9,05%.
19 de setembro de 2024

No momento em que a atividade econômica elevava a marcha, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros, a Selic, para 10,75% ao ano. Com isso, o Brasil voltou a ocupar a segunda posição como o maior juro real do mundo, de acordo com dados compilados pelo site MoneyYou.

O juro real é formado, entre outros pontos, pela taxa de juros nominal do país descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses.

O levantamento do MoneYou mostra que, com a alta da Selic anunciada ontem (18), os juros reais do país ficaram em 7,33%. O líder do ranking é a Rússia, com taxa real de 9,05%.

Na última divulgação, em 31 de julho, o Brasil ocupava a terceira colocação da lista. A combinação de inflação mais forte e cenário externo desafiador continua a pressionar o fechamento da taxa real de juros, segundo o MoneYou.

Depois de Rússia e Brasil, os próximos das lista são:

  • Turquia: 5,47%
  • México: 5,45%
  • Indonésia: 4,37%
  • Índia: 3,08%
  • África do Sul: 2,96%
  • Colômbia: 2,37%
  • Tailândia: 2,03%

A Argentina ficou em último lugar, com -33,92%, porque a inflação do país é altíssima, o que gera distorções.

Quando se leva em consideração as taxas de juros nominais (sem descontar a inflação), o Brasil ocupa a quarta posição. Confira abaixo:

  • Turquia: 50%
  • Argentina: 40%
  • Rússia: 19%
  • Brasil: 10,75%
  • Colômbia: 10,75%
  • México: 10,75%
  • África do Sul: 8,25%
  • Hungria: 6,75%
  • Índia: 6,50%
  • Filipinas: 6,25%

A decisão do Copom, de elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, ocorre depois que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ter divulgado que o PIB (Produto Interno Bruto) avançou 1,4% no segundo trimestre e que o país registrou deflação em agosto.

Na avaliação do comitê, a economia brasileira está aquecida, o que pode gerar pressões inflacionárias no futuro, comprometendo a meta de inflação perseguida pelo Banco Central, de 3% (centro) neste e no próximo ano, podendo oscilar 1,5 ponto percentual para mais (4,5% – teto) ou para menos (1,5% – piso).

Entenda como o aumento da Selic afeta a economia e a sua vida

Na economia, a taxa básica de juros é referência para todas as demais taxas usadas no mercado, como de empréstimos e aplicações financeiras.

Portanto, quando os juros sobem, as consequências são:

  • Cresce o custo de dívida das empresas e dos cidadãos.
  • Aumenta o custo do crédito. Tomar empréstimos fica mais caro.
  • Encarece os investimentos por parte das companhias.
  • Reduz o consumo das famílias, pois é usada como um instrumento de controle dos preços.
  • Cresce a dívida pública, pois eleva os juros pagos pelo governo. Os títulos do Tesouro, por exemplo, fazem parte da dívida pública, o que gera piora das contas do governo.
  • Pode diminuir o apetite ao risco de investidores. Na renda variável, o maior custo de dívida das empresas pode influenciar a forma como investidores calculam o que seria o valor justo das ações das companhias listadas, diminuindo o apetite pela Bolsa de valores.
  • Deve afetar a inadimplência. Como encarece o crédito, pode elevar a inadimplência das famílias, que já é alta no país.

Lado positivo:

  • Aumenta a rentabilidade da renda fixa, como CDBs, LCIs e outras aplicações do tipo, já que a Selic serve de referência para os títulos privados, ou seja, uma boa notícia para os chamados rentistas.

Juros altos afetam todos os setores econômicos. A indústria tende a frear investimentos e as famílias deixam de gastar no comércio e nos serviços, com impactos negativos no mercado de trabalho e na renda das famílias.

Decisão do Fed

Quando toma esse tipo de decisão, o Copom mira um horizonte de seis a nove meses. Em outra frente, ontem o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) decidiu cortar as taxas de juros em 0,50 ponto percentual, o que deve mexer com o dólar e com o fluxo de dinheiro pelo mundo.

Isso pode, inclusive, beneficiar um fluxo maior de capital para o Brasil, melhorando o mercado de ações e também o câmbio, com reflexos também na inflação.

Parte da inflação brasileira é dolarizada, por conta dos diversos insumos e produtos importados que são consumidos no país. Assim, com um dólar mais barato, a pressão dos preços desses itens cai e tende a reduzir a inflação.

No limite, isso poderia fazer o BC brasileiro subir menos (ou voltar a cortar mais cedo) a taxa de juros no futuro.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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