Em aceno ao mercado, Ceron admite que governo precisa controlar gastos para atingir grau de investimento

O economista do ICL André Campedelli aponta que Moody's não subiria nota de crédito do Brasil se Haddad fosse mais heterodoxo na economia.
4 de outubro de 2024

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, em uma fala que faz aceno ao mercado financeiro, admitiu que é preciso controlar o ritmo de crescimento dos gastos obrigatórios para manter de pé o arcabouço fiscal (regra que limita o crescimento de gastos) e, assim, atingir o grau de investimento, considerado um selo de bom pagador.

A fala de Ceron foi no contexto de que, na última terça-feira (1º), a agência internacional de classificação de risco Moody’s elevou a nota de crédito do Brasil, deixando o país a um passo do grau de investimento. A mudança para melhor causou estranhamento no mercado financeiro e foi comemorada pelo governo.

“O Brasil está diante de uma nova responsabilidade para consolidar ciclo de crescimento sustentável. Precisa garantir o cumprimento do arcabouço, que as despesas tenham uma tendência de crescimento em linha com o arcabouço”, disse o secretário de Tesouro.

Na avaliação de Ceron, um “pacto” pelo grau de investimento deveria ser firmado com toda a sociedade, envolvendo os estados, municípios, os demais poderes (Legislativo e Judiciário), com a população e, também, com o mercado financeiro.

“O desafio é uma oportunidade, o país está a meio passo do grau de investimento. É a grande oportunidade do país fazer a virada”, declarou o secretário.

O Brasil atingiu o grau de investimento uma única vez. Aconteceu em 2008, no segundo mandato do governo Lula. Depois, o país perdeu em 2015.

Uma das consequências do grau de investimento é a obtenção de juros menores na “rolagem” da dívida brasileira e favorece também investimentos. Há fundos internacionais que também só operam em países com o selo de bom pagador.

Ceron disse que serão necessárias medidas estruturais para conter o ritmo de crescimento das despesas obrigatórias. Tais medidas ajudariam na revisão dos gastos obrigatórios e no cumprimento das metas fiscais, mas, por outro lado, limitariam políticas públicas.

Grau de investimento: para economista do ICL, Moody’s não elevaria nota do Brasil se gestão econômica fosse mais heterodoxa

Na edição de ontem do ICL Mercado e Investimentos, os economistas e apresentadores do programa, Deborah Magagna e André Campedelli, comentaram a reação negativa do mercado financeiro à elevação da nota.

grau de investimento

O economista e apresentador do ICL Mercado e Investimentos, André Campedelli. Reprodução: YouTube

Em tom de ironia, Deborah comentou: “Então a Moody’s fez o L  [de Lula] agora?”.

André, por sua vez, comentou que a reação do mercado vem da “má vontade” com o governo do presidente Lula, mas lembrou que foram justamente os gastos feitos pelo atual mandato permitiram a retomada econômica, e os indicadores macroeconômicos têm refletido isso.

Ele ainda comentou que a Moody’s é uma agência de mercado, com viés liberal, e não premiaria a gestão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se ele tivesse fazendo uma gestão heterodoxa.

“A Moody’s é uma agência de mercado. Ela está premiando uma atuação de mercado, liberal. A Moody’s não subiria a nota se o Haddad estivesse fazendo um governo mais heterodoxo, mesmo com a economia crescendo. O que está acontecendo é que o mercado mundial está vendo o Haddad como um bom liberal, inclusive neste programa fazemos críticas ao Haddad principalmente porque a gente acha que a condução econômica dele, principalmente na questão fiscal, é excessivamente liberal”, pontuou.

Veja os comentários completos de Deborah Magagna e André Campedelli no vídeo abaixo:

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do ICL Mercado e Investimentos

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