O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ontem (24) que o corte de gastos que vem sendo defendido pela equipe econômica não se trata, por exemplo, de bloqueios ou contingenciamentos no orçamento de ministérios específicos. Ao mesmo tempo, o mandatário da Fazenda comentou que o reforço do arcabouço fiscal é “questão estrutural”.
Em Washington, nos Estados Unidos, onde está participando de reunião do G20 (grupo das 19 maiores economias do mundo mais União Africana e União Europeia), Haddad foi questionado sobre uma possível resistência em outros ministérios da Esplanada pelo plano de revisão de gastos ainda estar concentrado apenas no Ministério da Fazenda.
“Não é um programa. A Fazenda trabalha com questões estruturais, o arcabouço fiscal é uma questão estrutural, o reforço do arcabouço fiscal é uma questão estrutural. É diferente de fazer bloqueios e contingenciamentos, que são momentâneos, para garantir o cumprimento da lei aprovada pelo governo”, disse em conversa com jornalistas.
Haddad destacou que o corte de gastos “não diz respeito” a nenhum ministério específico. “Tem questões que são conjunturais, como bloqueio e contingenciamento, e questões estruturais. Estamos focados nas questões estruturais, que não se referem a este ou aquele ministério”, completou.
Um dia antes, Haddad já havia reforçado que o fortalecimento do arcabouço fiscal é o melhor caminho diante das projeções negativas das contas públicas brasileiras feitas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Conforme as projeções do organismo internacional, a dívida pública do Brasil atingirá 92% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2025 e alcançará 97,6% nos próximos cinco anos. O resultado primário só deverá voltar a ser positivo em 2027, segundo as estimativas.
“Do ponto de vista fiscal, eu penso que o fortalecimento do arcabouço fiscal é o remédio mais adequado para o momento que nós estamos vivendo”, disse o ministro para jornalistas em Washington (EUA).
Haddad garante que inflação vai fechar o ano dentro da meta
O ministro da Fazenda também comentou a prévia da inflação, medida pelo IPCA-15, que avançou 0,54% em outubro em relação a setembro (+0,13%).
Haddad garantiu que a inflação vai fechar o ano dentro da meta estipulada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que é de 3% (centro), com tolerância entre 1,5% e 4,5%.
“Embora os núcleos tenham apontado aí uma variação superior à esperada, mas, se lembrarmos que o mês passado aconteceu exatamente o oposto, no acumulado do ano, estamos entendendo que a inflação deve ficar dentro da meta”, frisou.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o avanço do indicador foi influenciado, principalmente, pelo aumento de 5% da conta de luz – fruto da mudança da bandeira vermelha 1 para 2 pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) – e pela alta nos preços dos alimentos.
“No meu ponto de vista, tem mais a ver com a questão do câmbio e da seca do que propriamente algum impulso maior dos preços reiterado”, avaliou.
Viagem aos EUA
O ministro da Fazenda teve agenda oficial nos Estados Unidos até ontem, por ocasião das “Annual Meetings” do FMI e do Banco Mundial, bem como a última reunião Ministerial da Trilha de Finanças do G20.
Na terça-feira, ele se reuniu com a diretora do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Lael Brainard. A pauta do encontro se concentrou na atuação do Brasil na presidência do G20, transição ecológica e as relações entre os países.
“[Foi] um convite da Casa Branca para que nós trocássemos impressões sobre o que está acontecendo. Conversamos muito sobre o G20 e sobre as relações bilaterais. Falou-se muito da participação dos Estados Unidos na transformação ecológica brasileira, coisa que o Brasil tem insistido desde o começo do ano passado, desde a primeira reunião bilateral entre os presidentes. Tudo é um pouco lento na esfera internacional, mas o potencial de parceria é muito grande”, afirmou Haddad.
Ontem, em discurso na reunião ministerial do G20, Haddad defendeu que os super-ricos “paguem sua cota justa” em impostos para combater a desigualdade, o financiamento de projetos climáticos e aumento no investimento de prevenção, preparação e resposta a pandemias.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias