Artigo de Deborah Magagna e André Campedelli *
Durante o período de 2011 a 2014, a economia brasileira passou por uma desaceleração durante o governo Dilma, mesmo assim, com uma inflação mais controlada do que se vê atualmente e com um nível de desemprego bem reduzido.
O nível de atividade econômica média deste período foi de 2,1%, sendo que o ano mais baixo foi de 0,46%, já no final do primeiro mandato da presidenta, e o ano mais elevado foi de 3,74%, no seu primeiro ano. E todos os analistas econômicos daquele momento falavam sobre o chamado pibinho do governo Dilma.
Alguns anos depois, temos o governo Temer e Bolsonaro, quando a atividade econômica do país pouco se elevou. Com exceção de 2021, em que ocorreu recuperação da crise oriunda da pandemia mundial, nenhum resultado acima de 2% foi registrado. O desemprego atingiu níveis elevadíssimos, não conseguindo ficar abaixo dos dois dígitos e a situação da classe trabalhadora está cada dia mais difícil. Porém, o termo pibinho não voltou a aparecer nas grandes colunas dos jornais brasileiros. Então temos que identificar as coisas da maneira certa.
O crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre não passa de mais um pibinho que Paulo Guedes consegue alcançar para o Brasil. Com exceção do primeiro trimestre de 2021, este tem sido o resultado do governo Bolsonaro, uma atividade econômica muito fraca, quase parando e chegando até mesmo a alcançar a recessão técnica, num momento em que todos os países do mundo estavam acelerando sua atividade econômica.
Agora vem o primeiro resultado do ano. E as notícias foram celebradas por diversos analistas e grandes mídias brasileiras. Mas na verdade o resultado foi fraco, o PIB pouco cresceu e a qualidade do PIB está cada vez pior. Cada vez mais dependente do setor de serviços, com uma indústria em frangalhos e dependendo dos níveis de exportação para ter alguma atividade econômica de demanda nesta economia.
A economia brasileira depende cada vez mais do setor agropecuário e do setor de serviços, e a queda do primeiro fez com que a economia tivesse esse comportamento pífio neste momento. Além disto, somente o consumo externo, ou seja, as exportações, é que fizeram com que nossa atividade econômica tivesse algum dinamismo, sendo que as famílias e empresas estão cada vez mais estagnadas.
Para piorar, a perspectiva sobre o futuro, medido pelo investimento, está cada vez mais precarizado. O investimento teve uma queda de 3,5%, o que significa que os empresários não estão pensando que a demanda futura será elevada. O nível de investimento está baixíssimo e a perspectiva para o futuro é cada vez pior. Até o final do governo Bolsonaro, deve persistir o mesmo cenário, de baixa atividade econômica e com uma qualidade de PIB cada vez pior.
Temos um pibinho, em que Paulo Guedes é cada vez mais responsável. A desindustrialização parou de ser consequência e passou a ser plano econômico. Cada vez mais a economia está se voltando para o agronegócio e para o setor de serviços. A demanda das famílias se encontra cada vez mais enfraquecida e a economia se torna mais voltada para fora do que internamente. Vivemos em um país que pensa no agronegócio e nas exportações, com uma massa de pessoas que para a elite econômica deve somente servir para fornecer serviços para elas.
Este é o país de Guedes, o país que as elites querem. Para esta parcela a economia realmente está bem, para os demais, temos o pibinho.
*Deborah Magagna é economista do ICL, graduada pela PUC-SP, com pós-graduação em Finanças Avançadas pelo INSPER. Especialista em investimentos e mercados de capitais
*André Campedelli é economista do ICL e professor de Economia. Doutorado pela Unicamp, mestre e graduado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, com trabalhos focados em conjuntura macroeconômica brasileira