O relatório Lucrando com a Dor, apresentado pela Oxfam no Fórum Econômico Mundial, explicita a urgência de tributar os super-ricos no Brasil e no mundo. De acordo com o estudo, a pandemia da Covid-19 foi “um dos melhores momentos da história para a classe bilionária” e impulsionou “o maior aumento sistêmico da desigualdade de renda já visto”.
São 573 novos super-ricos no mundo, que mesmo na dor e no sofrimento de milhões de pessoas aumentaram suas fortunas, afirma o relatório. São empresários do setor alimentício, grandes petrolíferas, gigantes farmacêuticas e de tecnologia que controlam as redes sociais e plataformas digitais.
“O aumento das fortunas de um pequeno grupo de pessoas enquanto a maioria da população do mundo enfrenta o drama da fome, falta de acesso à saúde e à educação, falta de perspectiva de vida, é aviltante. Os valores humanos estão escorrendo pelo ralo dos privilégios e da concentração de renda, riqueza e poder”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
Sobe para 55 o número de super-ricos no Brasil
No Brasil o cenário de crise jogou para a insegurança alimentar cerca de 120 milhões de pessoas e o país voltou ao mapa da fome, enquanto o número de super-ricos subiu para 55, de acordo com o ranking da revista Forbes. O desemprego está em patamares recordes e o atual governo brasileiro encerra a gestão com o salário mínimo menor do que quando entrou em 2019, antes da pandemia.
A fim de buscar recursos para aumentar investimentos que mitiguem esta realidade, seis projetos foram protocolados na Câmara dos Deputados para tributar os super-ricos, em setembro passado. Os projetos preveem recursos para políticas sociais, em especial de apoio e defesa dos direitos das vítimas da cavid-19 e aos mais de 130 mil órfãos como para tratamento das sequelas.
O auditor fiscal e vice-presidente do Instituto Justiça Fiscal (IJF), Dão Real Pereira dos Santos, avalia que é decisão política acabar com a pobreza, a marginalização e a fome. “Com esforço coletivo da população e participação predominante dos super-ricos é perfeitamente possível acabar com a pobreza”, afirma.
“Na pandemia, mesmo com a economia estagnada, os super-ricos acresceram 40% na sua riqueza. Parte desse acréscimo provém do empobrecimento da população. Isso é injustiça”, critica o auditor fiscal.
De acordo com o relatório da Oxfam, o mundo poderá ter um milhão de pessoas empurradas para a pobreza extrema a cada 33 horas em 2022, quase a mesma velocidade do surgimento de novos bilionários durante a pandemia (um a cada 30 horas).
“Os super-ricos e poderosos estão lucrando com a dor e sofrimento das pessoas. Isso é inadmissível. Alguns ficaram ricos negando a bilhões de pessoas o acesso a vacinas, outros explorando a alta dos preços da comida e da energia”, afirma Katia Maia.