A elevação da taxa de juro nos Estados Unidos agravou o cenário econômico para as economias emergentes. No entanto, a percepção de risco dos investidores internacionais piorou de forma mais intensa no Brasil do que no conjunto das economias da América Latina. O risco-país brasileiro está no patamar de 290 pontos, sendo que o risco na Colômbia está na faixa de 168 pontos, por exemplo. As incertezas em torno da Petrobras e da política fiscal têm afastado a atratividade dos investidores internacionais pelo Brasil.
Desde o início do ano, o risco-país brasileiro, medido em CDS (Credit Default Swap), subiu 87 pontos, para o patamar de 290 pontos, de acordo com um monitoramento realizado pela consultoria Tendências. No mesmo período, a média do risco-país de Colômbia, Chile, Peru e México avançou 58 pontos, para 168 pontos.
Juro mais alto tira o ritmo de crescimento da economia no mundo todo porque encarece o crédito para as famílias e os investimentos para as companhias. Por esse motivo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deste ano de 4,4% para 3,6%.
A saída de capital dos investidores do País – dólar – acompanha a piora na percepção de risco. A moeda local perde valor frente ao dólar norte-americano diante do movimento dos investidores de buscar ativos mais seguros nos Estados Unidos, com a alta dos juros. Em junho, o dólar já subiu 10,55% em relação ao real até a última sexta-feira (24). Segundo alguns economistas, a alta de juros lá fora responde por 65% do movimento de desvalorização recente do real.
No caso do Brasil, por ser uma grande economia, tem mais entrada e saída de recursos, quando comparado com outros países, o que provoca a oscilação da moeda e do risco-país. Dessa forma, a economia brasileira sente mais as mudanças de cenário global.
A comparação feita pela Tendências inclui países latino-americanos que despertaram algum interesse dos investidores nos últimos anos, mas que passaram por incertezas recentes, sobretudo com disputas políticas.
Risco-país do Brasil aumenta mediante pacote de bondades do governo Bolsonaro, como “voucher caminhoneiro”, aumento do vale-gás e do Auxílio Brasil
O Brasil sofre ainda com incertezas internas que despertaram a preocupação recente dos investidores. As principais dúvidas são se o governo Jair Bolsonaro (PL) e o Congresso vão intervir na política de preços da Petrobras e qual será o custo fiscal para conter a alta dos preços dos combustíveis.
De olho na reeleição, a alta do preço da gasolina e do diesel se tornou um problema para Bolsonaro, que está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desde 2019, quando assumiu, Bolsonaro já indicou quatro presidentes para a Petrobras – a última escolha foi a de Caio Paes de Andrade.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), chegou a debater alterações na lei das Estatais, também numa tentativa de controlar os preços dos combustíveis – a lei foi sancionada durante o governo de presidente Michel Temer e tem como um dos objetivos evitar que setores do Executivo e de partidos políticos interfiram na gestão das estatais.
O mercado também se debruça sobre qual pode ser o custo fiscal das medidas adotadas pelo governo federal para mitigar a alta dos combustíveis no custo de vida do brasileiro. O governo tem sinalizado com a criação de um “voucher caminhoneiro” e aumentos do vale-gás e do Auxílio Brasil.
Na sua última ata, o Comitê de Política Monetária (Copom) reconheceu riscos para a economia diante da incerteza sobre o “arcabouço fiscal” e das políticas que estimulem a economia em ano eleitoral. O Banco Central sinalizou que deve manter o juro alto por mais tempo.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias