O Brasil ganhou 1,42 milhão de trabalhadores informais do começo da pandemia, no primeiro trimestre de 2020, até os primeiros três meses de 2022. De janeiro a março deste ano, o total de informais atingiu a marca de 38,203 milhões de cidadãos e cidadãs brasileiros, representando o maior número de pessoas nessa situação em um primeiro trimestre desde o início da série histórica, em 2015, da pesquisa feita pelo Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas). Os cálculos foram feitos a partir dos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O mercado de trabalho até conseguiu voltar ao patamar pré-pandemia mais cedo do que se previa, mas a qualidade dos postos gerados ainda é motivo de preocupação entre os especialistas.
Segundo os pesquisadores, novos postos foram gerados por meio do trabalho informal. Seria uma recuperação impulsionada por funções que exigem menor escolaridade, as quais, consequentemente, geram rendimentos mais baixos.
Nessa conta, entram os trabalhadores do setor privado sem carteira assinada, empregadores sem CNPJ e quem trabalha por conta própria e também não tem registro de pessoa jurídica.
Maioria do 1,4 milhão de trabalhadores informais está no sudeste e nordeste
Além de ressaltarem as diferenças de condições entre trabalhadores formais e informais, os últimos dois anos também marcaram as diferenças regionais.
No período, houve um aumento de 527,1 mil trabalhadores informais nos estados do sudeste, enquanto 370,7 mil pessoas no nordeste entraram nessa situação. As duas regiões concentram o maior número de trabalhadores ocupados do país.
No recorte dos trabalhadores informais, os dados são mais preocupantes no nordeste – onde ela aumentou 1,2% e chegou a 53,62% no primeiro trimestre – e no norte (mais 0,13%), onde atingiu 56,61% no período. Nessas regiões, portanto, mais da metade dos trabalhadores está na informalidade.
A melhora do mercado de trabalho pode estar atrelada a uma recuperação sazonal que a Pnad registrou, mas a tendência para o ano não é boa. A economia está estagnada e a perspectiva para o segundo semestre é de piora de cenário.
De acordo com economistas, nos momentos em que a economia brasileira estimulava as políticas de crédito e aumento real do salário mínimo, as regiões norte e nordeste apresentaram taxas de crescimento acima da média do país. Mas a redução do crescimento econômico levou o norte e o nordeste para o fundo do poço, já que a maior parte dos municípios tem forte dependência do setor público.
Taxa de trabalhadores informais cresce desde 2019
A partir de 2019, a taxa trabalhadores informais cresceu muito no país, justamente por essa dificuldade de gerar empregos de qualidade. No período, o indicador só teve uma leve queda nos estados do centro-oeste, de 0,6%, chegando a 36,9%. Ainda assim, a pequena diminuição não deve ser comemorada.
O centro-oeste apenas voltou para o nível em que estava em meados de 2020. É um pouco melhor do que no resto do país, mas ainda é um patamar alto para a região, o que acende o alerta amarelo sobre a baixa qualidade da recuperação do mercado de trabalho.
Os informais foram os mais afetados no pico da pandemia com as medidas consideradas necessárias de distanciamento e de proibição de atividades que provocavam aglomerações.
Com o início da recuperação, o desemprego foi voltando ao patamar anterior à crise sanitária, mas devido ao retorno dos trabalhadores informais às suas atividades.
Entre 2020 e 2022, a desocupação de longa duração (a partir de dois anos) cresceu 23,1% no nordeste e 12,8% no Norte, caindo, novamente, apenas no centro-oeste (-14,8%). No Brasil como um todo, o aumento foi de 11,3%.
Parte da alta da informalidade também se explica pelo aumento da chamada taxa de participação na força de trabalho. Esse indicador aponta a porcentagem de pessoas em idade de trabalhar (14 anos ou mais) que estão empregadas ou em busca de trabalho.
A taxa de participação teve queda brusca durante a pandemia, com as medidas de isolamento, e foi se recuperando com a reabertura e o avanço da vacinação, quando as pessoas puderam voltar à força de trabalho. Ela era de 62,1% no primeiro trimestre deste ano, mas ainda abaixo do primeiro trimestre de 2019 (63,4%) e do mesmo período de 2020 (62,7%).
Os pesquisadores avaliam, ainda, que há muitas incertezas quanto à dinâmica da eleição em outubro e sobre como indicadores importantes da economia – inflação e juros – vão se comportar nos próximos meses. Seria preciso rever a proposta de desenvolvimento do país. Mas, por enquanto, não há medidas efetivas para alavancar as regiões mais pobres.
A questão da baixa qualidade do trabalho gerado nos últimos meses é indissociável do aumento da informalidade e vai ser preciso olhar para esses trabalhadores com mais atenção, dizem os pesquisadores.
Relatório do Banco Mundial aponta que crises recorrentes deixam marcas que podem durar ao menos dez anos.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias