Os preços das commodities estão em queda diante da perspectiva de recessão na economia global, que se agravou depois da China registrar desempenho econômico abaixo do esperado no Produto Interno Bruto (PIB) – apenas 0,4% no trimestre encerrado em junho. A China crescendo pouco significa menos demanda global, afetando fortemente inclusive o Brasil.
Os preços futuros da soja, por exemplo, têm sido negociados abaixo de US$ 15, perto de níveis do começo do ano e cerca de 18% abaixo do pico de junho; os preços futuros de milho também caíram para US$ 5,88 por bushel (o equivalente a 27,2 kg), o menor patamar em seis meses; e o desempenho dos metais ligadas à construção caíram de 10% a 40% desde maio (o minério de ferro está bem abaixo do nível em que estava antes do início da guerra da Ucrânia, em fevereiro).
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o economista Felippe Serigati, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), explica que “de um lado, temos um cenário de desaceleração da economia mundial, que se observa principalmente nas commodities minerais e metálicas, que acompanham o crescimento da construção civil de países importantes, como a China. O comportamento do cobre também sempre ajuda a apontar para um cenário de desaceleração e isso também se reflete no mercado de petróleo. (…) O mundo está perdendo fôlego e demanda menos commodities.”
O Brasil é, de certa forma, o que mais depende da China e, com a economia chinesa desacelerando, isso significa que podemos ter piora no balanço de pagamentos, sem grande alívio da inflação e câmbio desfavorável.
Essa situação é refletida em uma pesquisa do Bank of America, publicada na última terça-feira (19), que apontou que os investidores estão mais pessimistas em relação aos ativos brasileiros, citando fatores externos como os principais riscos, mas também preocupados com o cenário fiscal do país e atentos à eleição presidencial.
Os analistas não esperam uma rápida recuperação. A economia global enfrenta uma inflação elevada, ao menos desde o início da pandemia da Covid-19, e a perspectiva dos governos de que a alta de preços ficaria pressionada por pouco tempo não está acontecendo. Diante disso, o principal instrumento utilizado tem sido a elevação da taxa de juros para tentar segurar a inflação.
“O mundo cresce menos, os juros estão subindo. O investidor para e pensa: o que estou fazendo investindo em commodities e em economias emergentes? Com taxas de juros maiores, vou investir em títulos públicos nos Estados Unidos”, diz Serigati.
Por outro lado, mesmo diante das incertezas, o economista da FGV afirma que o mercado de commodities agrícolas pode mostrar resiliência nos próximos meses. “O mundo está de olho nos grãos do Brasil, ainda não compramos todos os insumos de produção e há bastante espaço para manter preços.”
Preços das commodities X retração da economia brasileira
O gestor de commodities Victor Nehmi também pondera que a expectativa de desaceleração ainda não se traduziu em recessão. “Há um burburinho porque as commodities tinham subido muito, mas, por enquanto, os estoques de grãos e petróleo estão baixos no mundo também pelas sanções impostas à Rússia”, diz.
Segundo ele, “os produtores brasileiros acabam se preocupando menos com uma queda brusca dos preços por uma questão de oferta. Mesmo que a Ucrânia volte a exportar grãos, esse retorno levará tempo para acontecer. O fator que ainda preocupa e que pode levar a um quadro de escassez de grãos é a menor oferta de fertilizantes no mercado”, complementa.
O consenso entre os analistas, no entanto, é que, dado o nível de inflação global, a retração da economia mundial é inevitável e o mercado de ações ainda não colocou isso no preço.
O Brasil deverá sofrer com uma recessão ainda maior do que outros países porque, apesar do Banco Central brasileiro ter se adiantado no aperto monetário, será preciso continuar aumentando os juros para manter a taxa básica da economia (Selic) elevada por mais tempo. A avaliação é do economista Simão Davi Silber, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), ouvido pelo Correio Braziliense.
“O efeito colateral dessa conjuntura é que 2023 está perdido para a economia brasileira. Neste ano, por conta da recuperação do setor de serviços, devido ao arrefecimento da pandemia, o país pode crescer entre 1,7% e 1,8%”, frisa Silber.
Esse cenário cada vez mais incerto na economia e na política brasileira — agravado com a piora no quadro fiscal, especialmente após a promulgação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Eleitoral, que cria mais insegurança jurídica e desconfiança dos investidores na manutenção das regras fiscais — só aumenta os prêmios de risco da dívida pública.
Redação ICL Economia
Com informações das agências