Na semana passada, representantes do setor privado brasileiro se reuniram no Brazil Climate Summit, uma agenda ambiental paralela à Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), com a finalidade de tentar vender o Brasil como uma potência verde, podendo assumir um protagonismo mundial nessa seara. Assim, eles querem se descolar da imagem ruim do governo de Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, nas questões ambientais.
O Brazil Climate Summit aconteceu entre quinta e sexta-feira (15 e 16), na Universidade de Columbia, em Manhattan, às vésperas, portanto, da semana do clima de Nova York. O evento sobre a agenda ambiental atraiu a participação de um público variado de 600 pessoas nos dois dias, entre os quais alunos e ex-alunos, especialistas em meio ambiente, executivos de empresas, bancos e investidores internacionais, como Paul Polman, ex-CEO da Unilever, e Silvia Coutinho, presidente do UBS no Brasil.
Em reportagem publicada no jornal O Estado de S.Paulo, a cofundadora da EB Capital e uma das idealizadoras do evento, Luciana Antonini Ribeiro, disse que “independente do governo, queremos tomar a rédea” na agenda ambiental, sinalizando que a ideia é tornar regular o evento ocorrido na semana passada.
Um dos principais temas debatidos na agenda ambiental, segundo a reportagem do Estadão, foi a necessidade de apoio financeiro para o avanço da agenda verde. O diretor de mercados de dívida para a América Latina do Bank of America, Max Volkov, disse, na ocasião, haver estoque de US$ 19 bilhões de emissões de dívida externa no país com perfil ESG, sigla para questões ambientais, sociais e de governança, com foco exclusivamente no setor privado.
“Se você considerar o volume de emissões domésticas, o tamanho do mercado do Brasil é próximo ao do Chile, que é o maior da América Latina”, disse Volkov, acrescentando que há bastante interesse de investidores nas emissões ESG.
Agenda ambiental do exterior força empresas brasileiras a mudanças. BB vai lançar primeiras emissões de créditos de carbono
Depois de defender a mineração e estimular o garimpo ilegal, o governo Bolsonaro tem como proposta para o meio ambiente o estímulo do turismo em terras indígenas. Conforme o capítulo sobre propostas para o crescimento econômico de seu programa de governo, “serão consolidadas e ampliadas no próximo mandato, assim como o atendimento às crescentes demandas nacional e internacional de atividades de turismo ambiental responsável e de etnoturismo, ambos de forma sustentável, promovendo crescimento socioeconômico regional, as culturas locais e gerando bem-estar e lazer ao cidadão brasileiro”.
Em suma, a atual gestão tem ido na contramão do mundo, que defende uma pauta climática em caráter emergencial. O governo Bolsonaro abriu a porteira da Amazônia para o garimpo e exploração de madeira ilegais, problemas que levaram à queda do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusado de envolvimento em crimes ambientes. Hoje, o Brasil tem a imagem manchada no exterior devido à má condução da agenda ambiental.
Apesar disso, instituições governamentais estão trabalhando novas estruturas de financiamento. Segundo a reportagem do Estadão, o Banco do Brasil, por exemplo, prepara o lançamento das suas primeiras emissões de créditos de carbono. A estreia será com quatro operações, no valor de R$ 25 milhões e um total de 500 mil toneladas de CO2. Porém, o potencial é maior. O BB já mapeou 80 transações em seu portfólio de agronegócio, do qual é líder no Brasil.
“Nós juntamos as duas pontas, o lado que tem excesso de crédito de carbono e o outro que precisa compensar. Mapeamos todo esse excedente e demanda e vamos lançar as primeiras quatro emissões no fim do mês”, afirmou o presidente do BB, Fausto Ribeiro, ao Estadão/Broadcast.
Além do BB, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) organizou na agenda ambiental dois editais para a compra de crédito de carbono, em um total de R$ 110 milhões. “O Brasil é uma potência em soluções baseadas na natureza. Temos nossas florestas, uma solução que está na mão”, afirmou o diretor de crédito produtivo e socioambiental do BNDES, Bruno Aranha.
Lembrando que o sistema de créditos de carbono foi criado a partir do Protocolo de Kyoto, em 1997, e visa à diminuição dos gases de efeito estufa, que causam as mudanças climáticas. No Brasil, esse mercado atingiu cerca de US$ 2 bilhões no ano passado e tem crescido a uma taxa anual de 30%, segundo especialistas que participaram do Brazil Climate Summit.
A expectativa é que o segmento dê um salto nos próximos anos, podendo alcançar US$ 50 bilhões até 2030, de acordo com projeções da consultoria global McKinsey. Mas, para isso, precisa superar entraves, como a falta de profissionais especializados, custos elevados e o desmatamento da Amazônia.
Redação ICL Economia
Com informações de O Estado de S.Paulo