Na contramão do discurso do governo de que a economia vai bem, o Banco Central elevou de 29% para 46% a probabilidade de o Brasil estourar a meta de inflação em 2023. A informação consta no Relatório Trimestral de Inflação, publicado nesta quinta-feira (29). Além disso, no mesmo documento, o BC passou a prever também o maior rombo das contas externas em três anos, devido à piora na balança comercial brasileira.
A meta de inflação para o ano que vem é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, um piso de 1,75% e um teto de 4,75%. Mas a atual projeção do BC é de que o índice fique em 4,6% em 2023, contra expectativa de 4% na última edição do relatório de inflação, publicada em junho. O mercado, por sua vez, tem expectativa de 5,01% no indicador.
Para este ano, o BC diminuiu a probabilidade de estouro da meta de 3,5% de “próximo de 100%” para 93%, enquanto a projeção para inflação neste ano diminuiu de 8,8% para 5,8%. O mercado, por sua vez, prevê inflação em 5,88% este ano, acima, portanto, do teto da meta.
A respeito das projeções de 2023, alguns aspectos forçaram o BC a rever a previsão, como a depreciação cambial, o crescimento das expectativas de inflação, crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) mais forte do que o esperado e, principalmente, a possibilidade de retorno da tributação federal sobre combustíveis, medida eleitoreira do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, para forçar a queda no preço da gasolina e, consequentemente, da inflação.
Trecho do relatório diz que “especificamente para 2022, destaca-se o efeito das medidas tributárias, que foi o principal fator para a surpresa desinflacionária de -2,37 p.p. no trimestre encerrado em agosto. A elevação das projeções para 2023 resultou principalmente da hipótese de retorno da tributação federal sobre combustíveis”.
Na última segunda-feira, o relatório Focus, do BC, informou que o mercado projeta alta do PIB de 2,67%, enquanto o Ministério da Economia prevê crescimento de 2,7%.
Contudo, para 2023, o BC projetou um crescimento de 1%, o dobro da expectativa do mercado de 0,5%. No entanto, ainda é menos da metade da projeção feita pelo Ministério da Economia, que chegou a 2,5%.
Piora na balança comercial fez BC baixar projeções para as contas externas e meta da inflação pode estourar
Para este ano, o Banco Central passou a prever um superávit da balança comercial de US$ 42 bilhões, além de maior rombo das contas externas em três anos, ou seja, saldo menor que os US$ 86 bilhões previstos antes, devido ao crescimento das importações em detrimento das exportações.
Em junho, a instituição projetava um saldo positivo da conta de transações correntes de US$ 4 bilhões em 2022. Este mês, o valor foi revisado para um déficit de US$ 47 bilhões. Se confirmado, será o maior déficit desde 2019, quando o saldo ficou negativo em US$ 65 bilhões.
As exportações passaram de US$ 342 bilhões (na projeção anterior, em junho) para US$ 331 bilhões, enquanto as importações avançaram de US$ 257 bilhões para US$ 289 bilhões na mesma base de comparação.
“Os preços das importações aumentaram fortemente até junho e, apesar da acomodação em julho e agosto, continuam em patamar alto, especialmente os preços de combustíveis e bens intermediários”, informou o BC no relatório.
Para 2023, o Banco Central estimou uma pequena melhora no saldo comercial, para um superávit de US$ 54 bilhões.
Além disso, o BC subiu de 11,9% para 14,2% a estimativa para o crescimento do crédito bancário neste ano, impulsionado principalmente por pessoas físicas. Apesar do aumento, a instituição ainda prevê desaceleração na comparação com o ano passado, quando foi registrada uma expansão de 16,3%.
Contudo, para o ano que vem o BC estimou uma alta de 8,2% para o crédito bancário, com nova desaceleração.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias