As contas externas tiveram déficit de US$ 4,136 bilhões em julho, segundo dados do Banco Central (BC) sobre a balança comercial do Brasil, divulgados esta semana. No acumulado de 12 meses, o déficit alcança US$ 36,6 bilhões, equivalente a 2,08% do Produto Interno Bruto (PIB). As exportações de bens totalizaram US$ 30,226 bilhões em julho, aumento de 17,4% em relação a igual mês de 2021. As importações somaram US$ 26,072 bilhões, incremento de 33,8% na comparação com julho do ano passado. Com esses resultados, a balança comercial fechou com superávit de US$ 4,154 bilhões no mês de julho, ante saldo positivo de US$ 6,262 bilhões em julho de 2021.
Os economistas do ICL, André Campedelli e Deborah Magagna, explicam que a elevada remessa de lucros ao exterior e o pagamento de juros sempre tiveram um grande peso na conta de serviços, o que faz com que, mesmo nos casos de expressivo superávit da balança comercial, ocorra um déficit na conta de transações correntes, que representa o lado real da economia, ou seja, aquele que registra a atividade envolvendo bens e serviços.
“O saldo positivo considerável da balança comercial para o mês de julho não foi suficiente para repor a saída de recursos monetários gerados pelos serviços. De forma desagregada, o saldo da remessa de lucros ao exterior foi de US$ 3,5 bilhões, enquanto o pagamento de juros representou US$ 2,9 bilhões, que, somados, bem acima do resultado positivo da balança comercial”, afirma os economistas.
O déficit na conta de serviços (viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos e seguros, entre outros) somou US$ 2,122 bilhões em julho, aumento de 59,2% ante os US$ 1,333 bilhão em igual mês de 2021. Relatório divulgado pelo Banco Central prevê piora nas contas externas este ano e maior chance de estouro da meta de inflação em 2023.
Outras contas, que também se destacaram pelo déficit, no lado dos serviços, são: aluguel de equipamentos, que registrou déficit de US$ 670 milhões; os transportes com déficit de US$ 726 milhões; saldo com viagens que teve déficit de US$ 661 bilhões.
Na balança comercial de julho, ocorreu uma entrada de US$ 7,7 bilhões de investimentos líquidos diretos
Do lado monetário da balança comercial de pagamentos, na conta de capitais, ocorreu uma entrada de US$ 7,7 bilhões de investimentos líquidos diretos, resultado de uma entrada de US$ 5,6 bilhões em participação de capital e de US$ 2,1 bilhões em operações intercompanhia.
Os dados mostraram que a entrada de investimento direto foi maior na compra de ações de empresas do que em investimento em capital de fato. Com isso, houve um saldo acumulado em 12 meses de US$ 64,5 bilhões, correspondente a 3,73% do PIB. “A entrada expressiva de capital deve-se à procura por um país emergente, como o Brasil, depois das sanções à Rússia. Hoje, o Brasil é um dos países preferidos dos investidores que buscam mercados emergentes”, segundo Deborah Magagna e André Campedelli.
Em relação às reservas internacionais, quase não houve alterações, com um volume atual de US$ 346,4 bilhões, um aumento apenas marginal, se observado o resultado do último mês. Isso mostra que ocorreu um forte equilíbrio entre entrada e saída de capitais na balança de pagamentos como um todo, ou seja, o déficit na conta de transações correntes conseguiu ser recomposto pela entrada de recursos na conta de capitais.
O déficit na conta de transações correntes continuou elevado, mas está conseguindo ser recomposto pelos saldos positivos na conta de capitais. “Nos próximos meses, o cenário pode se inverter. Há grande volume de capital migrando para aplicações mais seguras, como os títulos públicos dos Estados Unidos”, explicam os economistas do ICL.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do “Economia para Todos – Boletim Diário de Notícias Econômicas e Atualização do Mercado”