Depois que veio à tona um rombo bilionário em sua contabilidade, a rede Americanas, de comércio varejista, sofreu ontem (12) um tombo histórico na Bovespa, perdendo bilhões em seu valor de mercado. As ações da empresa caíram 77,33%, para R$ 2,72, com consequências futuras ainda difíceis de mensurar. O valor de mercado da empresa caiu de R$ 10,82 bilhões para R$ 2,45 bilhões. Ou seja, a companhia perdeu R$ 8,37 bilhões em valor na Bolsa em um dia, segundo a TradeMap.
A queda nas ações da empresa – que, ao longo do dia, respingaram em algumas de seus pares, como a Magalu – contribuíram negativamente para o fechamento da Bolsa brasileira ontem (12). O Ibovespa fechou o pregão de quinta-feira em queda de 0,59%, a 111.850 pontos, rompendo um ciclo de seis altas consecutivas.
Mas o que ocorreu com a empresa? Até o momento, o que se sabe é que foi descoberto um rombo de R$ 20 bilhões na contabilidade da rede, que inclui Submarino e Ame. Na quarta-feira, após o fechamento do mercado financeiro, a empresa emitiu um comunicado dizendo que o agora ex-CEO, Sérgio Rial, tinha deixado a empresa – a pedido dele próprio – juntamente com o diretor financeiro e de relações com investidores, André Covre.
Ontem de manhã, Rial, que foi CEO do banco Santander, participou de uma conferência fechada organizada pelo BTG Pactual sobre os problemas contábeis divulgados na véspera pela companhia. Na conferência, transmitida online para número limitado de participantes, ele afirmou que, apesar de ficar por apenas 10 dias no comando da empresa, encontrou sinais relacionados a falhas em identificação de financiamentos bancários que deveriam ter sido identificados como dívida. “Uma das primeiras coisas que me chamou atenção é por que nas cartas de circularização aos bancos isso não aparece como dívida”, disse.
O detalhe é que a “inconsistência contábil” vem de anos e não havia sido detectada em uma auditoria independente feita na rede. Ou seja, há muitos nós que precisam ser desatados e, até o momento, a empresa não emitiu nenhum comunicado público sobre o assunto.
Principais acionistas da rede Americanas perderam R$ 2,36 bilhões, mas ainda continuam entre os maiores bilionários do país
Os maiores acionistas da Americanas são os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira, donos da 3G Capital, que controlam outras empresas gigantes, como a Ab-Inbev, maior cervejaria do mundo, a Kraft-Heinz e o Burger King. No Brasil, eles fundaram a Ambev (fusão da Brahma e Antarctica). Sicupira é o maior investidor da empresa como pessoa física. Ele detém, sozinho, 1,98% da empresa – uma alocação que encolheu de R$ 214 milhões para R$ 48 milhões no pregão de ontem.
De acordo com reportagem do UOL, a posição dos três encolheu, no conjunto, R$ 2,36 bilhões no pregão de ontem da Bolsa brasileira. Pelo mais recente ranking de bilionários da Forbes, no final do ano, Lemann é o homem mais rico do país (fortuna de R$ 72 bilhões, em dezembro de 2022). Telles (R$ 48 bilhões) e Sicupira (R$ 39,8 bilhões) são respectivamente terceiro e quarto na lista.
Embora sejam, juntos, os maiores acionistas das Americanas, eles não majoritários. Os três controlam o equivalente a 31% da companhia por meio de uma série de estruturas jurídicas baseadas no Brasil e no exterior. Alguns familiares dos três também aparecem como acionistas da companhia.
O maior acionista individual da Americanas é a holding Velame Administração de Recursos, baseada em São Paulo, que tem na estrutura societária familiares de Lemann e Sicupira, com 15,20% das ações da rede varejista.
Ainda segundo a reportagem do UOL, esta participação acionária valia R$ 1,64 bilhão na noite de quarta (11) e, ontem, depois do pregão, o lote valia R$ 371 milhões.
A BRC S.A.R.L., outra companhia pertencente aos três, tinha uma posição de 11,58% Americanas. No fim do pregão de quarta, este naco valia R$ 1,25 bilhão; 24 horas depois, R$ 283 milhões. A BRC é uma companhia de investimentos com sede em Luxemburgo, um pequeno país europeu com uma das legislações tributárias mais amistosas para investidores internacionais de todo o mundo rico, segundo a reportagem do UOL.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do UOL