Após pedido de recuperação judicial, rede Americanas será excluída do Ibovespa e de todos os índices da B3 a partir desta 6ª feira

Mesmo com escândalo bilionário, empresa pagou, em uma década, o equivalente a R$ 505,4 milhões para diretores, valor maior que o praticado no mercado por suas pares
20 de janeiro de 2023

Depois de ter seu pedido de recuperação judicial aceito pela Justiça do Rio de Janeiro, a rede Americanas será excluída do Ibovespa e de todos os índices da B3. A exclusão, válida a partir de hoje (20), é norma para as empresas que entram em recuperação judicial. Ontem (19), a empresa entrou com o pedido declarando ter uma dívida de R$ 43 bilhões, o qual foi aceito no fim da tarde pelo juiz Paulo Assed Estefan, da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro.

No dia 11 de janeiro, a Americanas comunicou, após o fechamento do mercado financeiro, a saída de seu então CEO Sergio Rial (a pedido do próprio) e reportou ter encontrado “inconsistências contáveis” no valor de R$ 20 bilhões. Desde o anúncio, os papéis da empresa caíram quase 80% na Bolsa brasileira e a empresa tem sido alvo de processos de entidades representantes de acionistas e, também, de credores.

Com a exclusão, o índice será rearranjado com aumento de participação das demais empresas. A Americanas integra também os índices IGCX, ICO2, ICON, IBXX, IGCT, IGNM, IBRA, IVBX, ISEE, ITAG, SMLL, IBXL e GPTW.

O pedido da recuperação judicial da rede varejista é o quarto maior já feito no Brasil. A Americanas fica atrás somente da Odebrecht, Oi e Samarco. De acordo com o comunicado enviado ontem à Justiça, a empresa alegou que teria em torno de R$ 800 milhões no caixa, valor bem menor que os R$ 8,6 bilhões reportados no balanço de resultados do terceiro trimestre de 2022.

Mesmo diante de escândalo bilionário, rede Americanas pagou remuneração polpuda a diretores

Desde que estourou o escândalo bilionário, a direção da Americanas não veio a público explicar exatamente o que aconteceu. As notícias têm pingado a conta gotas na grande imprensa. O que se especula é que, com toda a certeza, a situação não é de hoje. Outro aspecto é que empresas listadas na bolsa têm seus balanços divulgados. Além disso, a empresa passou por uma auditoria independente pela PwC, que aprovou, em fevereiro, o balanço de 2021 da rede de varejo. Diante disso, a pergunta que fica é: como ninguém viu?

Por tudo isso, é ainda mais surpreendente que a empresa se destaque em meio aos seus pares, como Magalu, por remunerar bem a sua diretoria. Levantamento feito com base nas informações prestadas pela companhia no Formulário de Referência, documento que as empresas abertas entregam anualmente à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o órgão regulador do mercado.

Em uma década, a diretoria da Americanas recebeu, em termos nominais (sem correção pela inflação), R$ 505,4 milhões. O valor acumulado é quase o dobro do pago a suas diretorias por dois pares entre as companhias abertas, a Lojas Renner (R$ 252,8 milhões) e a Magalu (R$ 270,9 milhões).

Os dados foram compilados pelo o especialista em governança corporativa Renato Chaves, ex-diretor da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BB).

Conforme informações do jornal O Estado de S.Paulo, proporcionalmente à receita líquida, a remuneração da diretoria da Americanas foi 0,27% em 2021, mais do que o dobro da Renner (0,12%) e da Magalu (0,11%). Em 2020, as proporções foram mais próximas: 0,29% para a Americanas, 0,20% para a Renner e 0,21% para a Magalu. Na média de 2012 a 2021, a remuneração total da diretoria da Americanas ficou em 0,29% da receita líquida, até abaixo do 0,39% da Renner.

Diante dos dados, Renato Chaves avaliou: “Eles são agressivos, isso é fato. Todos sabem que as empresas que têm o grupo como controlador (os acionistas de referência da Americanas, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira) são agressivos com remuneração”.

Essa agressividade também pode ser vista no pagamento de bônus. O levantamento mostra que, em 2020 e 2021, mesmo com a pandemia de Covid-19, a diretoria da empresa recebeu 26% e 27% de sua remuneração total em bônus, respectivamente. Renner e Magalu não pagaram bônus em 2021. Em 2020, os bônus responderam por 9% da remuneração total da diretoria da Renner e por 16%, no caso da Magalu.

Na média da década, de 2012 a 2021, essa proporção se aproxima, com a Magalu pagando os mesmos 32% da remuneração total em bônus que a Americanas.

Na avaliação de Chaves, a cultura corporativa agressiva acaba tornando a perseguição por metas como uma pressão para que os executivos apresentem resultados de curto prazo. E essa pressão pode acabar servindo de incentivo para que executivos cometam fraudes.

Para coibir esse problema, ele sugeriu reforçar canais de denúncia interna, trocando ouvidorias de dentro da empresa por comitês externos, garantindo independência dos processos.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias
 

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