Artigo de Deborah Magagna e André Campedelli *
Na semana passada uma situação chamou a atenção dos analistas de mercado. Trata-se das mudanças nos indicadores que os analistas utilizam para falar se uma economia vai bem ou mal, justamente o índice da bolsa de valores e a taxa de câmbio. Diferente do que era “esperado” pela turma da Faria Lima, tivemos uma alta expressiva do Ibovespa e uma queda do preço do dólar nessa última semana, fazendo o mês ser positivo pela métrica que esta turma utiliza.
Obviamente esse autor não vai se utilizar de maneira tão torpe e rasa para analisar se o governo vem fazendo um bom trabalho ou não. Mas é interessante observar como estão sendo feitas as “análises” do primeiro mês do governo Lula a partir de tal realidade. A palavra da vez é sorte, e parece que pela primeira vez em algum tempo, os tais analistas vêm levantando outras variáveis para além daquelas que estes geralmente utilizam, as falas do presidente Lula ou do ministro Haddad.
O cenário econômico teve muitas variáveis que realmente ajudam a entender esses dados positivos do começo do governo Lula. A incerteza sobre a economia global, a falta de mercados intermediários de risco e a manutenção da Selic em elevado patamar fizeram com que ocorresse uma elevada entrada de divisas estrangeiras no país, principalmente na bolsa de valores. Mesmo com a elevação da taxa básica de juros nos Estados Unidos, que elevou um pouco a taxa de câmbio na última sexta-feira, no geral, o resultado foi aquele contrário do que todos falavam.
E isso leva a uma importante lição: não se pode analisar a economia de forma tão rasteira como boa parte dos analistas de mercado vem fazendo. As mudanças na taxa de câmbio e na bolsa de valores pouco mostram a real situação da economia do país. Esses dados servem apenas para mostrar como estão os ganhos do mercado financeiro e na realidade, somente a turma da Faria Lima que acha que isso é a coisa mais importante da economia de um país.
A realidade é que, até pelo pouco tempo de governo, quase nada de concreto conseguiu ser feito. Apenas sinalizações sobre os rumos da política fiscal e tributária é que foram realizados. Ainda estão sendo desenhadas a reforma tributária e a futura regra fiscal do novo governo Lula. Então de fato nada mudou no último mês. A única mudança importante foi a aprovação da PEC da Transição, ainda no final do governo Bolsonaro, para gerar certo espaço fiscal que permita o governo Lula funcionar. Então, pouco mudou.
E mesmo assim, os analistas da Faria Lima continuam falando sobre um aumento considerável do “risco fiscal” neste último mês. Nada mudou, nenhum gasto a mais foi efetivamente gerado, mas essa palavra não sai das análises. Até mesmo na ata do COPOM o termo é amplamente usado, alertando para riscos futuros de inflação. Mas esse parece mais um fantasma assustando o mercado do que algo que de fato está ocorrendo.
Então, sim, Lula teve sorte nesse começo de governo se fizermos a análise com a métrica da Faria Lima. Mas a realidade é que não temos como fazer análise profunda alguma sobre o começo do governo Lula. Pouca coisa foi feita além de sinalizações. O Congresso acaba de ser empossado e agora de fato deve começar o terceiro governo Lula. Qualquer análise feita até o momento ou está sendo apressada demais ou está apenas buscando curtidas em redes sociais.
*Deborah Magagna é economista do ICL, graduada pela PUC-SP, com pós-graduação em Finanças Avançadas pelo INSPER. Especialista em investimentos e mercados de capitais
*André Campedelli é economista do ICL e professor de Economia. Doutorando pela Unicamp, mestre e graduado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, com trabalhos focados em conjuntura macroeconômica brasileira