O economista anarcocapitalista Javier Milei assumiu a presidência de Argentina em 10 de dezembro passado, enfrenta, nesta quarta-feira (24), sua primeira greve geral. A razão é muito simples: desde que assumiu o cargo, a vida dos argentinos, que já era ruim, ficou muito pior.
No entanto, ninguém pode dizer que foi enganado. Milei está, de fato, promovendo a anarquia econômica prometida durante a campanha eleitoral, com um pacotaço de decretos e decisões que já estão impingindo sofrimento à população, principalmente aos argentinos de baixa renda.
A greve geral de hoje foi convocada pela CGT (Confederação Geral dos Trabalhadores), sindicato ligado ao kirchnerismo, movimento de oposição. A paralisação incluirá transporte, saúde, educação, indústria, aeroportos, bancos, restaurantes e teatros, principalmente das 12h à 0h.
A ideia da centrais de trabalhadores é caminhar até o Congresso, mas o Ministério da Segurança, segundo informações do jornal El Clarín, já disse que acionará o protocolo “antipiquetes”, um artifício adotado pelo governo de Milei para impedir a livre manifestação.
Sob o lema “a pátria não se vende”, a mobilização é uma reação às duas medidas anunciadas pelo presidente ultraliberal, em dezembro passado, para desregular a economia e reduzir os gastos do Estado. São elas o megadecreto e um pacotão apelidado de “lei ônibus”, que está sendo discutido no Congresso.
O primeiro pacote, com 366 artigos, já está em vigor, mas teve a parte relativa à reforma trabalhista suspensa pela Justiça. Já o segundo foi reformulado pelo governo. A nova proposta, apresentada na última segunda-feira (22), exclui 141 dos 664 artigos originais do pacote, mas mantém as reformas liberais de base.
Argentina: mesmo sem maioria, Milei conseguiu levar proposta para o plenário da Câmara nesta quinta-feira (25)
Embora tenha sido eleito sem maioria no Congresso, basicamente peronista, Milei conseguiu maioria para levar o texto da “lei do ônibus” ao plenário da Câmara já nesta quinta-feira (25).
Segundo informações da imprensa local, ele teria pressionado assessores e parlamentares ligados a ele a chegar a um acordo em comissões com a chamada “oposição dialoguista”, composta por partidos de centro e centro-direita.
Resta saber como a força (ou não) da mobilização de hoje nas ruas do país conhecido por seus piquetes baterá nos parlamentares.
Além disso, Milei está longe de estar morto politicamente. Ele venceu as eleições contra Sérgio Massa, ex-ministro da Economia do governo do peronista Alberto Fernández com mais de 55% dos votos válidos.
Outro aspecto é que a CGT, acusada de ter ficado longe das ruas durante o governo de Fernández, em um momento em que a pobreza cresceu muito na Argentina, convocou a mobilização contra um presidente que tem 58% de aprovação em seu país. A CGT é a maior central sindical do país e esta é a primeira mobilização organizada pela entidade em cinco anos.
No entanto, ao longo dos dias, a paralisação foi recebendo a adesão de diversos outros grupos, incluindo a coalizão peronista União pela Pátria e a esquerda.
De seu lado, Milei tem minimizado e criticado a convocação da greve, assim como setores empresariais. “Há duas Argentinas. Uma que quer permanecer no atraso, no passado e na decadência, […] e outra que votou nas ideias da liberdade”, afirmou o presidente a uma rádio local na última segunda-feira.
Brasil também realiza manifestações
A Argentina é um dos maiores parceiros comerciais do Brasil e há entidades por aqui apoiando a greve geral dos argentinos hoje.
Estão agendadas manifestações e panelaços em frente a embaixadas e consulados da Argentina em Brasília (10h), Porto Alegre (13h) e São Paulo (17h), e em países como Uruguai, França, Espanha, Alemanha e Bélgica. Segundo os sindicatos, mais de 200 associações internacionais apoiaram a medida.
A paralisação por lá também afetou viagens marcadas para o país vizinho. Companhias aéreas como Gol e Latam cancelaram e adiaram voos oriundos do Brasil nesta quarta, já que a Associação de Pessoal Aeronáutico (APA), por exemplo, prometeu parar da 0h à 0h, o que afeta também viagens internas.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo