Ata do Copom mostra preocupação com meta fiscal e sinaliza que ritmo de corte na taxa de juros deve ser mantido

No documento, divulgado na manhã desta terça-feira, a autoridade monetária diz que o crescimento da "incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal" levou "a um aumento do prêmio de risco".
7 de novembro de 2023

A ata do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada na manhã desta terça-feira (7), mostra que a autoridade monetária está preocupada com as incertezas nas contas públicas devido às recentes discussões sobre possível mudança na meta de zerar o déficit fiscal em 2024. Também mostra preocupação com o cenário externo volátil.

Sendo assim, aponta que os membros do conselho mantiveram o posicionamento dos últimos meses e concordam com o ritmo de corte da taxa de juros em 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões. Segundo o comitê, “esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

No documento, a autoridade monetária acrescentou “que já vinha avaliando que a incerteza fiscal se detinha sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas, mas nota que, no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco”.

O Congresso Nacional deverá votar no fim de novembro a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que estabelece as regras para a elaboração do Orçamento de 2024.

O governo adiou a decisão de enviar ao Congresso mensagem para modificar a meta de zerar o déficit no ano que vem. Diante da fala recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de que será difícil cumprir essa meta, chegou-se a cogitar a mudança do objetivo para 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto).

Mas, agora, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ganha mais tempo para tentar convencer o restante do governo a postergar uma flexibilização da meta, além de estender no Congresso a análise de medidas que podem elevar receitas da União.. Pelas contas da equipe econômica, são necessários R$ 168 bilhões a mais em caixa para zerar o déficit em 2024.

O colegiado ainda reafirma na ata a importância da “firme persecução” das metas fiscais já estabelecidas para a “ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária [definição dos juros para conter a inflação]”.

O argumento é que, se o governo gastar mais, isso pode pressionar a inflação e, consequentemente, forçar a manutenção da taxa de juros em patamar mais elevado.

Ata do Copom: colegiado confirma necessidade de manter política mais contracionista devido ao cenário externo

Na ata, o Copom afirma que “debateu a extensão do ciclo de ajustes na política monetária em um cenário global incerto” em sua última reunião. “O Comitê percebe a necessidade de se manter uma política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante para que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem das expectativas”, disse, em referência à reunião realizada na semana passada, quando foi promovido o terceiro corte consecutivo na taxa básica de juros (Selic) de 0,50 ponto percentual, de 12,75% para 12,25%.

No Boletim Focus do Banco Central, divulgado ontem (6), o mercado financeiro manteve as projeções da inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 4,63% para 2023, mas subiu levemente a expectativa para o indicador, de 3,90% para 3,91%, para o ano que vem.

A meta central de inflação este ano, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se o índice oscilar entre 1,75% e 4,75%. Portanto, se a previsão do mercado se confirmar, a inflação ficará abaixo da banda máxima da meta.

Na reunião, segundo o colegiado, “enfatizou-se novamente que a extensão do ciclo [de cortes da Selic] ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.

O colegiado ainda avaliou que o cenário externo mostra-se “adverso” por causa da elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da inflação persistente e elevada em diversos países.

Além disso, apontou que juros altos em outros países podem “trazer pressões sobre o câmbio e impactar o preço dos ativos domésticos, contribuindo para um processo desinflacionário interno mais lento no curto prazo”.

Quanto ao cenário interno, a autoridade monetária informou que um conjunto de indicadores recentes de atividade econômica “segue consistente com o cenário de desaceleração [do PIB] esperado pelo Comitê”, o que aconteceria “ao longo do segundo semestre [de 2023]”. “Nota-se uma desaceleração nos dados de atividade referentes a agosto, em particular em serviços. Por outro lado, o mercado de trabalho segue aquecido, mas apresenta alguma moderação na margem [últimos meses]”, concluiu.

Sobre a inflação ao consumidor, o documento diz que o indicador segue a trajetória esperada de desaceleração, “com uma composição benigna, exibindo desaceleração tanto na inflação de serviços quanto nos núcleos de inflação”.

Porém, observou que as expectativas de inflação (do mercado e do próprio BC) seguem desancoradas (acima das metas centrais para os próximos anos) e “são um fator de preocupação”.

Ainda, o colegiado abordou a guerra entre Israel e Hamas, embora grave, não trouxe efeitos consideráveis à taxa de câmbio e ao preço do petróleo.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias

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