A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, divulgada na manhã desta terça-feira (25), mostra que as preocupações com a inflação devem manter a taxa básica de juros, a Selic, em patamar mais elevado até 2025.
Os membros do colegiado afirmaram que “o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada”. Por isso, reafirmaram, unanimemente, que devem perseguir a reancoragem das expectativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) de 2024 e 2025, independentemente de quais sejam os fatores por detrás da desancoragem.
O Boletim Focus do Banco Central, que traz previsões do mercado financeiro para a economia e está sob investigação do Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas da União), tem mostrado elevação das projeções inflacionárias nas últimas semanas, depois que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, começou a desacreditar a economia brasileira durante participação em eventos dentro e fora do Brasil.
O colegiado também atribui as preocupações em meio ao cenário externo “adverso, em função da incerteza com relação ao ciclo de queda de juros norte-americano e à persistência do processo desinflacionário nas principais economias”, diz trecho do documento.
Na semana passada, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% ao ano, em decisão unânime entre os nove membros do colegiado, interrompendo o ciclo de cortes da Selic, iniciado em agosto de 2023, quando o indicador estava em 13,75% ao ano.
Ainda sobre o cenário externo, a ata diz que “alguns países desenvolvidos postergaram o ciclo de queda [de suas taxas de juros] enquanto outros optaram por um início cauteloso do processo de distensão monetária. Nessas economias, prevalecem preocupações com os respectivos mercados de trabalho e com o início da flexibilização monetária nos Estados Unidos. Já nos países emergentes, verifica-se maior cautela diante de um cenário mais desafiador, com o prosseguimento cauteloso do ciclo de queda de juros em alguns países e sua interrupção em outros países”.
Embora reconheça melhora na atividade econômica, ata do Copom aponta cenário prospectivo de inflação mais desafiador
Em um trecho do documento divulgado hoje, o Copom reconhece melhor nos dados da economia brasileira nos últimos meses.
“Ao longo dos últimos trimestres, os dados de atividade econômica surpreenderam, com maior crescimento em diferentes componentes da demanda. Ressaltou-se a resiliência da atividade doméstica e a sustentação do consumo ao longo do tempo, em contraste com o cenário de desaceleração gradual originalmente antecipado pelo Comitê. Com relação aos dados na margem, por um lado, observaram-se novas surpresas altistas na atividade. Tais surpresas concentraram-se na formação bruta de capital fixo e no consumo das famílias, sustentado primordialmente pelo mercado de trabalho, benefícios sociais e pagamentos de precatórios”, diz.
No mesmo trecho, o documento cita preocupações com os impactos da tragédia no Rio Grande do Sul: “Por outro lado, há grande incerteza a respeito dos efeitos econômicos da tragédia no Rio Grande do Sul. Permanecem incertezas sobre a intensidade da queda de atividade e sua recuperação subsequente, bem como sobre a diminuição do estoque de capital, causadas pelas enchentes e inundações. No agregado, o Comitê avaliou que as projeções atualizadas da atividade revelam-se de fato mais fortes para o ano”.
Ou seja, com os bons dados econômicos da economia brasileira, o Copom prevê impactos inflacionários futuros e, por isso, conclui que “o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada”.
Observou ainda “surpresas benignas no período recente”, mas também “elevação das projeções de prazos mais curtos, envolvendo preços livres”.
O Copom segue mostrando preocupação com a inflação de serviços. “Parte do debate se concentrou na trajetória mais recente da inflação, em que a inflação de bens industriais e de alimentação no domicílio deixa de contribuir para a desinflação nesse estágio do processo desinflacionário. Concomitante a isso, a inflação de serviços, que tem maior inércia, assume papel preponderante na dinâmica desinflacionária no estágio atual”, acrescentou o BC.
O Copom informou que “monitora com atenção” como os desenvolvimentos recentes das contas públicas. “O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária. Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”, acrescentou o BC, na ata do Copom.
“Ao fim, concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária mais contracionista e mais cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária”, diz.
“O Comitê unanimemente avalia que se deve perseguir a reancoragem das expectativas de inflação independentemente de quais sejam as fontes por trás da desancoragem ora observada e ressalta que a reancoragem das expectativas de inflação é vista como elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta. O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira. O Comitê não se furtará de seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação”, diz outro trecho.
O centro da meta de inflação definido pelo CMN (Comitê Monetário Nacional) – composto pelos ministérios da Fazenda (presidência) e do Planejamento e Orçamento, e o Banco Central – é de 3% neste ano, no próximo e em 2026, podendo oscilar 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.
Na ata, o comitê avaliou que “eventuais ajustes futuros” na taxa de juros, com possíveis aumentos na Selic, “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Confira a íntegra da ata do Copom clicando aqui.
Haddad diz que chuvas no RS não impactam longo prazo e ‘eventuais ajustes’ na taxa de juros não significam aumento
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (25) que a pressão inflacionária decorrente das enchentes no Rio Grande do Sul, citadas na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) como fonte de preocupação, afetam a inflação de curto prazo.
“E o horizonte do Banco Central é de médio e longo prazo. Não faz muito sentido levar em consideração o que está acontecendo em função do Rio Grande do Sul para fins de política monetária, porque o juro de hoje está afetando 12, 18 meses para frente”, declarou o ministro.
Questionado se a ata do Copom traz indicação de que a taxa Selic pode subir nos próximos meses, para tentar conter o crescimento das expectativas de inflação, Haddad avaliou que o documento trata apenas da interrupção do processo de queda do juro.
“Eventuais ajustes se for necessário. Sempre vai acontecer, né? O que é importante frisar é que a diretoria [do BC] fala numa interrupção do ciclo [de redução dos juros]. E me parece que essa é uma diferença importante a ser salientada, tá bom”, afirmou Haddad.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do G1