Os ministros Marina Silva (Meio Ambiente) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) apresentaram suas divergências sobre o projeto da Petrobras em audiência na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, na quarta-feira (24), sobre a extração de petróleo na foz do Rio Amazonas. Silveira defendeu a posição da Petrobras. Além disso, Marina teve de argumentar para deputados sobre uma MP editada no final do governo Jair Bolsonaro (PL), que voltou a ter trechos que afrouxam as regras de proteção da mata atlântica, itens que tinham sido retirados pelo Senado. O texto segue para sanção de Lula.
A Petrobras já divulgou que vai pedir reconsideração de licença na Foz do Amazonas. No Congresso Nacional, segundo a reportagem publicado no jornal O Estado de S Paulo, Silveira defendeu o projeto da Petrobras. “Não temos e não devemos ter dentro de um governo dois ou três governos. Devemos ter um único governo”, afirmou o ministro, que definiu o tema como “estratégico”. “Não consigo compreender não haver nas questões estratégicas a possibilidade de superarmos questões burocráticas”, disse.
A Petrobras defende a exploração enquanto um parecer técnico do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) recomenda o indeferimento do pedido de licença ambiental feito pela companhia. Considerada como o “novo pré-sal”, a região constitui uma das cinco bacias da margem equatorial, que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte e fica próxima à fronteira marítima com a Guiana Francesa.
O que está em jogo agora, na prática, é uma licença para perfuração, com o objetivo de averiguar o volume de petróleo disponível. Para a exploração em si, a Petrobras precisaria abrir um segundo pedido de licenciamento. Segundo Marina, o processo levaria de dois a dois anos e meio.
O tema, disse Marina, foi objeto de portaria interministerial de 2012, e de consolidação pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2016, que determinou que a avaliação preceda, quanto possível, aos leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP) aos blocos de possível exploração no País.
O posicionamento de Marina a colocou não só contra o projeto da Petrobras, como também contra a oposição, que é a favor, e contra os membros que eram do seu próprio partido, a Rede. O senador Randolfe Rodrigues (AP), que também é líder do governo no Congresso, deixou a legenda por defender o tema. O Amapá seria um dos Estados mais beneficiados.
O ministro ressaltou que o respeito do Brasil à questão ambiental e legal é indiscutível e que, ainda que haja discussões legais no Congresso Nacional, a atual legislação será “completamente respeitada”, reforçando que, ainda assim, não se trata de tema insuperável.
Na Câmara, Marina defendeu a posição do Ibama e justificou que a solução possa evitar problemas futuros. “Esse relatório técnico, de dez técnicos do Ibama, todos assinaram que precisa da avaliação ambiental estratégica. Uma avaliação dessa leva de dois a dois anos e meio. E a decisão do governo é que vamos fazer sim a avaliação ambiental estratégica”, afirmou.
Em seguida, disse que está tranquila sobre a possibilidade de sofrer injustiças. “O Ibama é que vai julgar. Às vezes a gente perde muito tempo com os atalhos e os atalhos não são bons em determinadas questões”, afirmou. “Eu compreendo, estou com 65 anos, comecei essa luta desde que eu nasci. Já apanhei igual a couro de pisar tabaco. Eu prefiro sofrer injustiça do que praticar injustiça.”
Projeto da Petrobras deveria atuar no campo da geração de energia, não apenas explorar petróleo, afirma Marina Silva
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Crédito: Agência Brasil / Fernando Frazão
Numa crítica ao projeto da Petrobras, Marina falou que a empresa deveria não apenas explorar petróleo, mas também para deveria atuar no campo da geração de energia. Para ela, o Brasil não pode perder uma nova oportunidade de ser vanguarda na produção de energias renováveis.
No Senado, Silveira foi na contramão. “O petróleo e gás além de suprimento são divisa para o Brasil combater desigualdades”, afirmou.
Na terça-feira (23), Marina saiu vitoriosa na queda de braço ante Silveira e disse que a decisão do Ibama será cumprida. “Ontem, tivemos uma discussão e foi muito importante. Foi a discussão de um governo republicano, que respeita a lei, que não é negacionista”, comentou Marina, na Câmara. Como mostrou o Estadão, porém, a Petrobras afirmou que pedirá que o Ibama reconsidere a decisão.
O ex-senador afirmou que dentro da própria autarquia um diretor tinha um parecer que superava o dos técnicos, que pediram a negativa. Este outro documento, declarou, apontava uma saída para a questão do licenciamento. Diante disso, o ministro conversou com o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, mas disse ter recebido com surpresa a decisão da autarquia sem uma “discussão mais profunda”.
Agostinho disse na Câmara que o Ibama está “à disposição para qualquer tipo de esclarecimento” e que aguarda que a Petrobras apresente as complementações.
Redação ICL Economia
Com informações do jornal O Estado de S Paulo