O ciclo de alta da taxa básica de juros dos EUA deve se estender por um longo período ainda. A inflação americana permanece em patamares altos e os investidores e economistas já esperam que, na próxima semana, o Fed (Federal Reserve) opte por manter o aperto monetário com novo aumento na taxa em pelo menos 75 pontos-base, no terceiro aumento consecutivo nesse patamar. Porém, na visão deles, novos aumentos devem vir depois de setembro.
Trata-se de mais uma tentativa para tentar domar os índices inflacionários, que não arrefecem. Na terça-feira passada, foi divulgado o dado da inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), que apontou nova alta em agosto, indo na contramão das expectativas de um declínio mensal de 0,1%.
A queda acentuada dos preços da energia não conseguiu compensar o aumento dos custos em outros setores. Por isso, o núcleo da inflação, que exclui itens voláteis como energia e alimentos, registrou aumento alarmante de 0,6% no mês. Em função do resultado, as bolsas sofreram um tombo na terça-feira, respingando nos mercados no resto do mundo.
Com o aumento de 0,75 ponto percentual previsto pelos analistas, a taxa de fundos federais dos EUA chegaria a uma faixa de 3% a 3,25%. Na terça-feira, os traders de contratos futuros de fundos federais também aumentaram as chances de um aumento total em pontos percentuais em setembro para cerca de 30%.
As impressões do mercado internacional a respeito da condução da política monetária dos EUA foram publicadas em reportagem do Financial Times, traduzida pelo jornal Folha de S.Paulo. “Chamar isso de decepção seria um eufemismo”, disse David Rosenberg, economista-chefe e presidente da Rosenberg Research. “Tudo o que nos resta é a visão de que os falcões [do Comitê Federal de Mercado Aberto, Fomc na sigla em inglês] até agora continuam acertando, e eles estão no comando.”
Na visão de Rosenberg, “quaisquer que fossem as probabilidades de recessão antes do IPC (inflação ao consumidor), mesmo que esse não seja o cenário básico, essas probabilidades deram um salto significativo.”
Fed deve estender ciclo de aumento da taxa básica de juros dos EUA, que pode chegar a 4% até o fim do ano
O anúncio da inflação americana de agosto deu um susto no mercado. As ações despencaram em consequência disso, com o S&P 500 caindo 4,3% em seu pior dia de negociação no ano. O Nasdaq Composite caiu mais de 5% e os rendimentos dos títulos do governo dos EUA de curto prazo, que sobem à medida que os preços caem e são altamente sensíveis a mudanças nas perspectivas de políticas, também subiram.
Por isso, subiram as apostas de que o Fed deve estender o ciclo de aperto monetário, restringindo, desse modo, a atividade econômica por mais tempo.
Analistas projetam que para uma alta da taxa básica de juros para mais de 4% até o final do ano, antes de atingir um pico de cerca de 4,3% em março de 2023.
No entanto, alguns analistas avaliam que, talvez, uma dose mais alta do remédio para tentar controlar a inflação não seja suficiente. O receio é de que a inflação futura possa sair do controle, desencadeando o chamado ciclo de feedback, em que os trabalhadores exigem salários mais altos e as empresas são forçadas a continuar aumentando os preços, levando a uma inflação geral mais alta.
Para tentar acalmar os ânimos do mercado, na semana passado, o diretor do Fed Christopher Waller prometeu não repetir erros anteriores. “As consequências de ser enganado por um abrandamento temporário da inflação podem ser ainda maiores agora se outro erro de avaliação prejudicar a credibilidade do Fed. Então, até que eu veja uma moderação significativa e persistente do aumento dos preços básicos, apoiarei a adoção de medidas adicionais importantes para endurecer a política monetária.”
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo