O Banco Central já admite oficialmente um estouro da meta de inflação pelo segundo ano seguido em 2022. A informação consta no Relatório Trimestral de Inflação, divulgado pelo Banco Central (BC) nesta quinta-feira (30).
A probabilidade de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine 2022 abaixo do piso da meta é de 0% e de ficar acima do teto é de 100%, de acordo com as estimativas feitas pelo Banco Central (BC). A meta deste ano é de 3,5% com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o BC não vê chance de a inflação neste ano ficar abaixo de 5%, o teto desse intervalo.
Para 2023, a chance de ficar abaixo do piso é de 5% e a de ficar acima do teto é de 29%. Para 2024, a chance de ficar abaixo do piso é 19% e a de ficar acima do teto é 10%.
O Banco Central estima, no relatório de inflação, um IPCA de 8,8% para 2022, de 4% para 2023 e de 2,7% para 2024. De acordo com o IBGE, a prévia da inflação de junho chegou a 12% no acumulado dos últimos doze meses.
As metas foram fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e, para alcançá-las, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic). Atualmente, o Comitê de Política Monetária (Copom) já está mirando na meta de 2023, pois as decisões sobre taxa de juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.
Para tentar cumprir a meta do próximo ano, o BC elevou neste mês a taxa básica de juros para 13,25% ao ano, o maior patamar desde 2016. A instituição também indicou que a Selic ficará alta por um período maior de tempo.
Fatores que determinam estouro da meta de inflação
De acordo com o relatório, os principais fatores que elevaram as revisões de inflação são a alta nos preços de petróleo, atividade econômica mais forte do que o esperado, além do crescimento nas expectativas de inflação e da inflação observada pelo IBGE. Também há pressão do setor de serviços e de bens industriais.
O documento do BC ressalta a inflação dos preços livres, que deve se reduzir ao longo do tempo por conta das altas de juros e também dos preços administrados, e aponta que “entre os preços administrados, destacam-se, como itens inflacionários para 2022, combustíveis, produtos farmacêuticos, plano de saúde, emplacamento e licença e taxa de água e esgoto; atua em sentido contrário energia elétrica em função do comportamento das bandeiras tarifárias e da incorporação de estimativa dos efeitos do Projeto de Lei nº 1.280/2022”.
Lembrando que, em 2021, o IPCA somou 10,06%, o maior desde 2015. Com isso, ficou bem acima do teto da meta para 2021, que era de 5,25%. Em janeiro deste ano, o BC avaliou que o estouro da meta em 2021 aconteceu por conta do aumento dos preços de “commodities” (produtos básicos com cotação internacional, como alimentos e minério), da energia e da falta de insumos.
Inflação faz aumentar risco Brasil, que voltou ao patamar do início da pandemia
A alta inflação no país, além de atingir o poder de compra do trabalhador, acaba aumentando o chamado risco Brasil. Na última terça-feira (28), o risco Brasil, indicador que mede a capacidade de um país pagar suas dívidas, voltou aos 300 pontos, patamar que o Brasil havia atingido pela primeira vez em 16 de março de 2020, ou seja, no começo da pandemia de Covid-19. Àquela época, o risco Brasil ficou três meses acima daquele nível, iniciando trajetória de queda depois disso. Os dados são da S&P Global Market Intelligence.
O movimento de alta do risco Brasil começou novamente em 30 de maio de 2022, atingindo os 300 pontos na terça-feira, levado por uma série de fatores desfavoráveis, tanto nos cenários interno quanto no externo.
Lá fora, os níveis recordes de inflação apontados pelas grandes economias do mundo e uma forte desaceleração econômica global, ocasionadas pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia, podendo levar a uma possível recessão mundial, preocupam os investidores.
No âmbito brasileiro, a má condução da política econômica, com impactos na inflação e nas contas públicas, tem preocupado os investidores, pois indica que o governo pode não honrar seus compromissos financeiros.
Portanto, o aumento do risco Brasil é muito ruim para a imagem do país, pois esse indicador funciona como parâmetro de confiabilidade muito utilizado por investidores.
Redação ICL Economia
Com informações das agências