O presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou, na quarta-feira (10), o reajuste aprovado pelo Congresso Nacional do valor repassado a estados e municípios para a merenda escolar. Atualmente, o governo federal repassa apenas R$ 0,36 para a compra de alimento de cada estudante do ensino fundamental e do médio, e somente R$ 0,53 por aluno matriculado na pré-escola.
Os valores não são atualizados desde 2017 e a situação que ficou ainda mais grave diante da recente explosão dos preços de alimentos. Com isso, vem piorando a qualidade da refeição oferecida pelas escolas públicas, muitas vezes a única a que muitas crianças e jovens têm acesso no Brasil.
O aumento do valor foi aprovado pelo Congresso Nacional e incluído na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias). O texto previa o reajuste, com base na inflação, do orçamento do Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que beneficia os mais de 35 milhões de matriculados em instituições públicas no Brasil.
O programa, que é o único do governo federal voltado à merenda escolar, sofreu uma redução de 20% em valores reais no orçamento entre 2014 e 2019.
Neste ano, estratégico em razão da perda nutricional ocasionada pelos dois anos de fechamento escolar na pandemia, o orçamento foi reduzido para R$ 3,96 bilhões, ante R$ 4,06 bilhões de 2021.
Nas razões ao veto, Bolsonaro afirmou que o reajuste “contraria o interesse público” porque causaria “um aumento na rigidez orçamentária”, tirando do governo federal a flexibilidade para alocar recursos. Justificou ainda que iria “onerar” os demais orçamentos do Ministério da Educação e dos demais órgão da União.
Merenda escolar é a única refeição de milhões de crianças brasileiras
Se Bolsonaro não tivesse vetado o reajuste, a estimativa era de que o programa de alimentação escolar teria um acréscimo orçamentário entre 34% e 40%, uma vez que a última atualização é de 2017, segundo Pedro Vasconcelos, assessor de advocacy do Observatório da Alimentação Escolar entidade que, diante desse contexto, elaboraram uma carta destinada a eleitoras/es e candidatas/os nos âmbitos federal e estadual, contendo propostas que podem ser implantadas para garantir o direito de toda e todo estudante a se alimentar adequadamente.
Segundo o Observatório da Alimentação Escolar, as entidades que defenderam a aprovação do reajuste pelo Congresso criticaram o veto presidencial e afirmaram que o governo está mais interessado em assegurar auxílios não permanentes, com a finalidade de angariar votos, do que políticas perenes para o enfrentamento da fome.
Os veto é visto, por profissionais da área, como um ataque a nutricionistas, cozinheiras/os, professoras/es e aos demais colaboradores que vivenciam cotidianamente a falta de recursos para garantir o básico de uma alimentação escolar de qualidade. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) é a principal política pública para a garantia dessas refeições, especialmente para crianças e adolescentes. Porém, além do expressivo aumento da fome no Brasil e da gravidade da situação alimentar das famílias, o valor do repasse de recursos para a alimentação escolar é insuficiente e não garante a proteção do direito humano à alimentação e à nutrição adequadas (Dhana).
Atualmente, 33 milhões de pessoas passam fome no país, de acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Os dados mostram que a insegurança alimentar grave em domicílios com crianças menores de 10 anos subiu de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022; e a fome está presente em 22,3% dos domicílios que tiveram acesso ao Pnae.
O veto de Bolsonaro terá de ser votado pelo Congresso e só poderá ser derrubado por maioria absoluta dos deputados e senadores. Não há ainda previsão para a votação, que pode acontecer antes ou depois das eleições.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias