Um relatório elaborado pelo Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), apresentado à Cúpula de Líderes do G20, ocorrida na segunda e terça-feira (18 e 19), no Rio de Janeiro, mostra que o Brasil é o país que mais paga juros da dívida bruta no mundo.
Segundo o relatório, a dívida bruta do Brasil representa 84,6% do PIB (Produto Interno Bruto) e paga juros de 5,96% do PIB. Enquanto isso, o Japão, por exemplo, tem uma dívida de 252,3% do PIB e paga 0,12% de juros em relação ao PIB.
Entre 24 países pesquisados, a Argentina tem uma dívida pública de 154,5% do PIB, quase o dobro da do Brasil, mas paga juros equivalentes a 2,4% do PIB.
Em carta aos líderes do G20, o presidente do FSB, Klaas Knot, que é presidente do BC da Holanda, pede a implementação “contínua, completa, coerente e em tempo útil” das reformas regulatórias no sistema financeiro.
Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB brasileiro no ano passado foi de R$ 10,9 trilhões. Considerando a estimativa do FBS, o custo de juros foi então de R$ 649 bilhões, soma quatro vezes maior que o orçamento anual do Bolsa Família, programa de transferência de renda à população de baixa renda.
Em 2022, o Brasil aparecia também como o campeão entre 154 países no pagamento de juros da dívida pública em levantamento do FMI (Fundo Monetário Internacional). O custo dos juros era então equivalente a 8,03% do PIB, na estimativa do Fundo.
O FSB coordena globalmente o trabalho de reguladores nacionais e organismos internacionais definidores de normas e padrões para o setor financeiro e tende a se transformar progressivamente numa organização mundial para o setor financeiro.
Economista do ICL diz que juros da dívida são altos devido à taxa Selic
O economista e coapresentador do ICL Mercado e Investimentos, André Campedelli, abordou o tema na edição de ontem (21) do programa. Segundo ele, o Brasil nem tem uma das maiores dívidas do mundo, mas é campeão em pagamento de juros da dívida bruta. “O que encarece o pagamento da dívida de um país? Justamente o pagamento da taxa de juros”, disse André.
A taxa básica de juros, a Selic, está atualmente em 11,25% ao ano, após a retomada do ciclo de alta do juros pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central. A previsão do mercado financeiro é de que o indicador termine o ano em 11,75%. Ou seja, como a última reunião do ano do colegiado é em dezembro, a projeção é de mais uma alta de 0,50 ponto percentual na taxa.
Lembrando que a Selic permaneceu por mais de um ano em 13,75% e o ciclo de baixa só começou em março, mas a taxa voltou a subir em setembro.
Segundo André, esse discurso da dívida pública gera um debate completamente enviesado sobre a necessidade de se fazer corte de gastos, como o mercado vem pressionando o governo a fazer. “Não vai adiantar [fazer corte de gastos] porque a taxa de juros está elevadíssima! É justamente o fato de a gente pagar uma taxa de juros tão elevada que encarece a nossa dívida bruta. Estamos com uma Selic batendo quase 12% ao ano! É óbvio que a dívida bruta vai aumentar. A dívida bruta, diferentemente da líquida, considera o gasto com juros”, explicou.
A economista e também apresentadora do programa, Deborah Magagna, disse que essa notícia “começou a fazer barulho durante a semana”, porque a grande mídia gosta de olhar a dívida bruta desse modo enviesado. “Se a gente tem o maior pagamento de juros, por que eles estão olhando para o valor da dívida? Essa abordagem precisa ser modificada”, frisou.
Veja a análise completa no vídeo abaixo:
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e ICL Mercado e Investimentos