O presidente Jair Bolsonaro deixou o Brasil mais pobre. A constatação do empobrecimento do país está em um balanço da situação econômica, publicado em reportagem da Folha de S. Paulo no sábado (16), revelando que foram as escolhas de reduzir o investimento público, manter o arrocho fiscal e a inflação descontrolada as responsáveis pela atual crise social que o país enfrenta. Não bastasse isso, o governo vai liquidando o que resta do patrimônio nacional, privatizando empresas estatais ou deixando de investir nelas.
O retrato de um país mais pobre se expressa na redução drástica do PIB (Produto Interno Bruto) per capita, que divide a riqueza produzida pela economia pelo número de habitantes. Comparado a 2018, este valor foi reduzido de US$ 9.151,40 (ou R$ 49 mil) para US$ 7.500 (ou R$ 41 mil). Se comparada ao PIB per capita de 2011, o resultado é cerca de R$ 31 mil a menos por habitante.
O rendimento médio do trabalhador também caiu de R$ 2.823 no início de 2019 para R$ 2.613 no trimestre de março a maio deste ano. Além da redução da renda, ainda há a pressão da carestia sobre elas, ou seja, as rendas foram reduzidas e com que sobra compra-se cada vez menos.
Depois de viver um período com políticas de inclusão social e de estímulo ao crescimento da economia, criadas durante a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que permitiu geração de emprego e distribuição de renda, o Brasil andou para trás e ficou mais pobre. Um dado deixa isso bem claro: “Os recursos destinados a iniciativas que servem de apoio à ampliação do bem-estar social, em áreas como trabalho, saneamento, habitação, lazer e cultura, despencaram. Caíram de R$ 111,6 bilhões em 2015, um ano antes da criação do teto, para R$ 73,4 bilhões no ano passado, queda de 34% em valores ajustados pela inflação”, diz o jornal.
Além de detalhar retrocessos do atual governo, a reportagem critica a tentativa de Bolsonaro a respeito da possibilidade de decretar “estado de emergência que não existe”, para tirar da frente a Lei Eleitoral e tentar interferir no curso da campanha política deste ano com medidas eleitoreiras. Esse dispositivo foi incluído na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) Eleitoral, ou PEC dos Auxílios, promulgada na semana passada.
A economista Débora Freire, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que houve negligência com relação à situação social do país, que hoje está mais pobre. “Eu atribuo os problemas de hoje ao modelo de política econômica, que não prevê estímulos para a recuperação e deixou de lado a área social. Antes da Covid, o Bolsa Família tinha filas enormes. Famílias que empobreceram na crise, já elegíveis para o programa, não estavam sendo atendidas. Isso não poderia ter acontecido, porque uma vez que uma família cai na extrema pobreza ela pode levar gerações para se recuperar”, disse.
Privatizações também contribuem para deixar o país mais pobre
Para alavancar a economia e gerar empregos, uma das estratégias poderiam ser os investimentos nas estatais, mas o que se viu nos últimos três anos foi justamente o contrário. O governo optou pela política de privatizar o patrimônio público e usar o dinheiro arrecadado para fins eleitoreiros, o que deixa o Brasil mais pobre.
Durante governo Bolsonaro, foram arrecadados R$ 304,2 bilhões com privatizações e desinvestimentos de estatais. A outorga de R$ 67 bilhões da Eletrobras elevou esse volume e a maior parte desse valor, cerca de R$ 41 bihões, será gasto com os auxílios previstos na PEC Eleitoral – o grande pacote eleitoreiro de Bolsonaro.
Durante o ICL Notícias, no YouTube, nesta manhã (18), o economista Eduardo Moreira disse que o Brasil cria “bombas” e, depois, busca soluções ineficientes para solucioná-las. “O país cria a bomba do alto endividamento, que culmina com privatizações, e é proposital (esse sistema). As privatizações ocorrem para que o Brasil possa equacionar as suas dívidas, mas não faz minimamente o dever de casa. O governo privatizou, por exemplo, a Eletrobras, e o preço da energia não para de subir”, criticou.
Segundo Moreira, esse ciclo endividamento-privatizações penaliza, sempre, a população mais vulnerável, que é quem acaba pagando a conta da má gestão financeira do estado.
Enquanto havia resistência do Congresso, a equipe de Paulo Guedes, ministro da Economia, fez privatizações silenciosas, sem debate público ou discussões com o Legislativo. Foi o caso, por exemplo, de diminuir a influência do Estado na economia desfazendo de ações detidas pela Petrobras, Banco do Brasil, BNDESPar e CaixaPar.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S. Paulo e agências