Brasil tem mais cartões de crédito do que gente, segundo dados do Banco Central. São 208,7 milhões de plásticos ativos no país

Para especialistas, alta inadimplência deve-se à liberação imediata de cartões, com linhas pré-aprovadas, desacompanhada de educação financeira e de falta de transparência sobre os custos
11 de julho de 2023

Nos últimos quatro anos, o número de cartões de crédito ativos no Brasil passou de 98,9 milhões, em dezembro de 2018, para 208,7 milhões, no fim de 2022, segundo o Banco Central (BC). O país tem 203 milhões de brasileiros, de acordo com o último Censo 2022, divulgado em junho pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O número total de plásticos emitidos em uso é quase o dobro da população economicamente ativa do Brasil, de 107,4 milhões. Tem gente com mais de um cartão na mão e sem saber usar corretamente o crédito disponível. Algumas linhas de crédito podem ter juros maiores que 400% ao ano, como no rotativo.

Com o aumento de juros, as dívidas das pessoas aumentaram. O endividamento médio das famílias chegou a 48,5% da renda anual em abril deste ano, bem próximo do recorde da série histórica do BC, de 50,1%, de junho de 2022.

Outra base de dados, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio), indica que 78% das famílias no Brasil estão endividadas.

Para especialistas, a alta inadimplência deve-se à liberação imediata de linhas de crédito, chamadas pré-aprovadas, desacompanhada de educação financeira e de falta de transparência sobre os custos.

Distribuição de cartões de crédito, sem o devido preparo, aumenta o endividamento das famílias, alerta BC

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Crédito: Envato

O cartão sem o devido preparo do consumidor para usá-lo de forma responsável pode “aumentar o nível de endividamento das famílias”, alertou o último relatório de economia bancária do Banco Central. Os técnicos dizem que o tema merece atenção porque algumas linhas de crédito podem ter juros maiores que 400% ao ano, como no rotativo.

O coordenador do MBA de Gestão Financeira da FGV, Ricardo Teixeira, explicou para a reportagem do G1 que há uma relação entre o aumento da informalidade no mercado de trabalho e o desequilíbrio financeiro das famílias.

Isso porque há uma vasta oferta de crédito pré-aprovado, com liberação imediata. Muitos passam a usar esse crédito, sempre com a convicção do pagamento das contas. Ao mesmo tempo, a taxa de informalidade é estimada em 38,9% da população ocupada, equivalente a 38 milhões de trabalhadores informais em maio, segundo o IBGE. Nem sempre há recursos suficientes para o pagamento.

Os cartões de crédito na modalidade private label, aqueles oferecidos por grandes redes de varejo para fidelizar os clientes, não estão sujeitos à regulação do Banco Central, por não serem emitidos por instituições financeiras. Porém, é bastante comum o envolvimento de instituição financeira como participante da operação, sobretudo para que esta financie o pagamento da fatura para o cliente.

Apesar do aumento da competição no setor de cartões de crédito, especialmente com o surgimento das fintechs, o mercado ainda é dominado por conglomerados bancários.

A descentralização desse segmento seria um dos “remédios” para reduzir o custo de crédito ao consumidor, afirmou o vice-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), Ricardo de Barros Vieira, para a reportagem do G1.

Redação ICL Economia
Com informações do G1 e das agências de notícias

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