A cúpula do Brics, bloco de países emergentes que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, começou nesta terça-feira (22), com o intuito de discutir os próximos passos na ampliação e fortalecimento do grupo. No entanto, isso não significa que o Brics será antagonista de outros grupos econômicos, como o G7. “Nós acreditamos que o Brics tem grande contribuição a dar. Brasil, África do Sul, Índia, China e Rússia podem, cada um a partir de sua perspectiva, oferecer ao mundo uma visão que seja coerente com seus propósitos e que não signifique nenhum tipo de antagonismo a outros fóruns importantes dos quais nós mesmos participamos”, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na abertura do fórum de negócios do bloco, em Joanesburgo.
Além de Haddad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou, ontem de manhã (21), em Johanesburgo, na África do Sul, para participar da cúpula. Ele estava ao lado da primeira-dama, Janja Lula da Silva, e da ex-presidenta Dilma Rousseff, que preside o banco do Brics.
Em post em seu perfil oficial na rede X, antigo Twitter, o presidente Lula também reforçou o mesmo recado. “O Brics não é contraponto ao G7, nem ao G20, nem contra ninguém. Queremos nos organizar enquanto Sul Global, uma coisa que não existia antes. Somos importantes no debate global, sentando na mesa de negociação, em pé de igualdade com a União Europeia e os Estados Unidos”, escreveu o petista.
Em outra postagem, Lula disse que “a relação comercial do Brasil com os países do Brics cresceu 370% desde 2009. Cresceu de 48 bilhões de dólares em 2009 para 178 bilhões em 2022. Queremos acordos onde todos nossos países ganhem”. Também reforçou que a expectativa dele para o encontro é criar um mundo “mais justo e solidário” e acabar com a fome.
Uma das pautas que estará na mesa da cúpula é a ampliação do Brics. A China, maior economia do grupo e que vive recentemente uma espécie de “guerra fria” com os Estados Unidos, defende uma ampla expansão do Brics.
Na lista de países há inimigos históricos dos Estados Unidos, como Irã, Venezuela e Cuba. Por essa razão, a fala de Haddad tenta apaziguar qualquer tentativa de colar na imagem da expansão do bloco um antagonismo aos demais existentes.
Em seu discurso, Haddad defendeu ainda o multilateralismo. Disse que é preciso reformar organismos internacionais para que eles melhor reflitam o novo cenário global e a ascensão de economias emergentes.
Além daqueles três países, a lista de nações candidatas a aderir ao Brics também inclui Argélia, Argentina, Bangladesh, Barein, Belarus, Bolívia, Egito, Etiópia, Honduras, Indonésia, Cazaquistão, Kuwait, Marrocos, Nigéria, Arábia Saudita, Senegal, Palestina, Tailândia, Emirados Árabes Unidos e Vietnã.
Influência econômica do Brics é a chave para interesse de países em aderirem ao bloco
Os cinco países que formam o Brics representam mais de 42% da população mundial. Também respondem por quase um quarto do PIB (Produto Interno Bruto) e 18% do comércio global.
Com esse peso, o Brics poderia usar sua influência política e econômica para promover reformas há muito necessárias em entidades como o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional), a fim de fornecer uma representação mais realista de um mundo atualmente multipolar.
Fundado oficialmente em 2009, o grupo de países emergentes tem entre suas conquistas mais notáveis a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) – ou Banco Brics –, em 2015, que atualmente é presidido por Dilma Rousseff.
O banco multilateral de desenvolvimento tem US$ 50 bilhões (cerca de R$ 250 bilhões) em capital subscrito para financiar projetos de infraestrutura e outros relacionados ao clima em países em desenvolvimento.
A instituição financeira tem entre seus acionistas, além dos países membros do bloco, Bangladesh, Egito e Emirados Árabes Unidos entre seus acionistas. A instituição já aprovou mais de US$ 30 bilhões em empréstimos.
O bloco também criou um Acordo de Reserva de Contingência de US$ 100 bilhões, uma facilidade de liquidez em moeda estrangeira que os membros podem aproveitar durante eventuais fases de turbulência financeira global.
Outro ponto em discussão é a criação de uma moeda comum entre seus membros para transações comerciais entre os países do bloco, reduzindo, dessa forma, a dependência ao dólar.
Graças ao crescimento chinês e à ascensão da Índia, o Brics viu sua influência econômica aumentar nas últimas duas décadas. Mas, obviamente, o caminho do bloco até aqui vem oscilando diante das divergências entre alguns de seus membros. A expectativa é de que, a partir da cúpula que começou hoje na África do Sul, um novo ciclo se inicie.
O histórico do Brics, no entanto, faz com que o bloco seja enxergado como uma alternativa geopolítica a uma ordem mundial ainda liderada pelos Estados Unidos. Como vem salientando o presidente Lula, a ideia é fortalecer o Sul Global.
Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S. Paulo e site G1