Campos Neto prevê impacto de 0,40 p.p. do reajuste da gasolina na inflação. Economista do ICL diz que presidente do BC olha indicador de modo ‘equivocado’

Segundo André Campedelli, explicou que "uma possível inflação, oriunda de aumento de custos de produção, não será combatida com taxa de juros".
16 de agosto de 2023

Logo após o anúncio do reajuste da gasolina e do diesel pela Petrobras nas refinarias, a partir desta quarta-feira (16), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse  que o aumento deve impactar a inflação deste ano, elevando para cima as previsões do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Ao que parece, Campos Neto busca justificativas antecipadas, caso o Copom (Comitê de Política Monetária) decida por interromper o ciclo de baixa da taxa básica de juros (Selic), iniciado na reunião passada.

“Hoje teve um aumento grande, tem um impacto na inflação de mais ou menos 0,40 ponto percentual nos meses de agosto e setembro. O impacto do diesel não é direto na cadeia, mas o impacto da gasolina é direto. Então, a gente provavelmente vai ter algumas previsões para cima [nas projeções para inflação deste ano] com o reajuste de hoje [terça]”, afirmou o chefe da autoridade monetária em almoço organizado pela FPE (Frente Parlamentar do Empreendedorismo).

O preço da gasolina nas refinarias da estatal subiu R$ 0,41 por litro a partir desta quarta-feira, para R$ 2,93. Já o diesel teve alta de R$ 0,78 por litro, para R$ 3,80. A gasolina tem o maior peso no IPCA, considerando os 377 subitens (bens e serviços) que compõem o índice divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na justificativa para o reajuste, a Petrobras explicou que o forte avanço dos preços do petróleo no exterior, além de uma disparada do dólar nas últimas semanas, fizeram com que a empresa atingisse o “limite da sua otimização operacional, incluindo a realização de importações complementares”.

Esses fatores, de acordo com a companhia, tornaram necessários os reajustes tanto na gasolina quanto no diesel, mirando no reequilíbrio dos preços da Petrobras em relação aos praticados pelo mercado e na melhora dos valores de margens da empresa.

Para André Campedelli, economista do ICL, fala de Campos Neto sobre inflação não encontra respaldo na realidade

A inflação alta tem sido o argumento usado por Campos Neto para manter a Selic em patamares elevados. A taxa básica de juros foi mantida em 13,75% de agosto de 2022 até a primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no começo de agosto deste ano, quando o colegiado optou por reduzi-la em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano.

Para o economista do ICL André Campedelli, a fala de Campos Neto “mostra, mais uma vez, que o presidente observa a inflação de maneira equivocada” e que, se o presidente do BC usar esse argumento para manter a taxa básica de juros em patamar alto, será um grande erro.

“Uma possível inflação, oriunda de aumento de custos de produção, não será combatida com taxa de juros. Além disso, um aumento de juros agora somente teria efeito daqui a pelo menos seis meses na inflação. Essa fala mostra uma visão equivocada da autoridade monetária sobre a inflação brasileira”, criticou o economista.

Como os preços dos combustíveis foram usados como moeda eleitoral pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, havia grandes distorções no mercado. Portanto, já era esperado pelo mercado certo impacto dos preços dos combustíveis para o segundo semestre, principalmente depois do que os tributos federais sobre os combustíveis subiram a partir de 29 de junho, quando perdeu a validade a medida provisória que fixava alíquotas menores dos impostos cobrados pela União sobre a gasolina e o etanol.

Com o aumento no preço dos combustíveis, pode diminuir a chance de a inflação fechar o ano dentro da meta perseguida pelo BC, fixada em 3,25% para este ano, com tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Ou seja, o objetivo é considerado cumprido se o IPCA ficar dentro do intervalo de 1,75% (piso) a 4,75% (teto).

À Folha de S.Paulo, a diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, Fernanda Guardado, disse que a autoridade monetária previa o movimento de alta das commodities como risco para inflação à frente e já incorporou parcialmente eventual reajuste no preço da gasolina em suas projeções.

“Uma das mudanças que a gente fez no nosso balanço de riscos foi exatamente essa questão das commodities“, afirmou Guardado em evento organizado pela XP.

“A gente já estava observando na última reunião boa parte do movimento de queda das commodities agrícolas e energéticas se revertendo a partir de junho e julho. No nosso número, o Copom já tinha embutido, seguindo sua governança usual, algum reajuste de gasolina. Parte desse reajuste já estava previsto dentro das nossas projeções”, complementou.

A projeção da autoridade monetária foi revisada para baixo na última reunião do Copom, em 2 de agosto, para 4,9%.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo

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