Caso Americanas é corrupção que usa fraude como método e blinda controladores, afirma integrante da CPI

Para deputado, o principal desafio da CPI é não deixar que se faça uma “blindagem” dos donos da varejistas, o trio de bilionários Lemann, Telles e Sicupira. “Muito difícil imaginar que não soubessem ou tenham sido enganados”
20 de junho de 2023

A notícia de que um dos ex-diretores da Lojas Americanas, acusado na semana passada por assessores jurídicos da própria varejista de ser um dos participantes da “fraude bilionária”, é mais um indício de que não se trata apenas de um malfeito, mas corrupção, termo que vem sendo evitado pela imprensa comercial. A avaliação é do deputado federal Tarcísio Motta (Psol-RJ), integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga na Câmara o que já é considerado o “maior caso de corrupção da história do Brasil”, com desvios próximos de R$ 50 bilhões.

Segundo reportagem do jornal O Globo, em 2021, enquanto as fraudes na Americanas eram maquinadas em ritmo crescente, um dos executivos, Marcio Cruz, estava usando o dinheiro de seu bônus milionário para comprar a casa própria. Na ocasião, ele desembolsou R$ 32,5 milhões à vista por uma mansão no Leblon, bairro de alto padrão no Rio de Janeiro. No último dia 13, o atual CEO da companhia, Leonardo Coelho Pereira, afirmou em depoimento à CPI haver indícios de participação das empresas de auditoria PwC e KPMG e de ex-diretores.

A fraude consistia em produzir artificialmente lucros contábeis e esconder o endividamento da empresa, inicialmente minimizado como “inconsistências” nos demonstrativos financeiros da Americanas. O desafio da comissão, no entanto, será não deixar que ela “faça uma blindagem dos donos da Americanas”, destacou o parlamentar em entrevista à edição desta segunda-feira (19) do ICL Notícias, transmitido pela TVT e a Rádio Brasil Atual. Motta faz referência ao trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. Os três controlavam a maior parte das ações da Americanas, por meio da 3G Capital.

Caso Americanas: “Impossível não saberem da fraude”

Americanas

Crédito: Reprodução ICL Notícias

Para o psolista, “é muito difícil imaginar que eles não soubessem ou tivessem sido enganados ao longo desse tempo todo enquanto os diretores faziam isso, tiravam da empresa a partir dos lucros fajutos para que com seus dividendos e bônus pudessem aumentar sua riqueza.”

De acordo com o deputado, a atual gestão da Americanas quer que a CPI corrobore a investigação interna que responsabiliza alguns, mas blinda outros – nesse caso, seus acionistas. “É muito curioso que são os empresários incensados há décadas como aqueles mais modernos, mais meritocráticos. E a única saída que eles têm é se autodeclararem como incompetentes por não terem visto uma fraude como essa. Mas é impossível acreditar nisso”, rebate.

“A CPI deve ir atrás das conexões entre a fraude e esses três bilionários, porque para nós isso é importante perceber. Não é um ponto fora da curva, é um modus operandi do capitalismo brasileiro da forma como lida com esse tipo de situação. Ou seja, é uma oportunidade importante para desvendar esse mito que, por exemplo, o Lemann leva para o campo da educação ao defender a questão da meritocracia da educação, do esforço pessoal que faz acontecer. (É a chance) da gente desvendar para as pessoas o tanto que tem de corrupção e fraude nesse modelo de gestão apresentado como ‘moderno, limpinho e bonitinho’”, contestou Tarcísio.

Silêncio da mídia comercial

A CPI também deve convocar Lemann, Telles e Sicupira, mas espera reunir um conjunto de provas antes disso. Em paralelo, os parlamentares cobrarão novos documentos e provas do CEO da Americanas. O objetivo é ainda reunir material para impedir que a imprensa comercial silencie sobre esse escândalo. Diferentemente da cobertura sobre a Operação Lava Jato, o caso ganhou pouco espaço no noticiário, principalmente no televisivo da TV Globo. Na semana passada, o Jornal Nacional, por exemplo, dedicou apenas 39 segundos para expor as denúncias de Pereira.

“É uma corrupção privada, num modelo de gestão que usa a fraude como método e a forma de blindagem dos principais nomes, símbolos e mitos como uma forma de se salvar diante dessa ação. Ou seja, não há um reconhecimento dessa ação ou (a pretensão de) mudar a forma como isso acontece. (…) Esses mesmo três (bilionários) conseguiram influir no processo da Eletrobras recém-privatizada. Mesmo (acionistas) minoritários, eles influenciam nas decisões políticas e isso é um alerta para nós. A eficiência privada cai por terra nesse sentido também. É corrupção feita para que gente rica e poderosa continue sendo rica e poderosa”, critica o integrante da CPI.

Rede Brasil Atual

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