O Copom (Comitê de Política Monetária) deve anunciar, nesta quarta-feira (20), a sexta redução seguida de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, reduzindo o percentual dos atuais 11,25% para 10,75% ao ano. Ainda assim, a taxa básica de juros, que permeia a vida de todos os brasileiros, continuará sendo uma das mais altas do mundo.
Isso posto, a decisão de hoje colocará a Selic no menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,25% ao ano. Será, portanto, o menor nível em pouco mais de dois anos.
No Boletim Focus do Banco Central, o mercado financeiro prevê que a taxa básica de juros encerrará o ano em 9%. A dúvida que permeia entre analistas, no entanto, é como será o ritmo do corte.
Apesar do início do ciclo de redução da taxa Selic, iniciado em agosto do ano passado, o indicador permaneceu no patamar de 13,75% por cerca de um ano, esmagando investimentos, encarecendo o crédito e o mercado de trabalho.
Tanto que a “prudência” exagerada do colegiado foi amplamente criticada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e por vozes do empresariado, como Luiza Trajano, do Magazine Luiza.
Ontem, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) soltou comunicado em que o presidente da entidade, Ricardo Alban, defendeu corte de 0,75 p.p. na Selic na reunião de hoje.
Segundo Alban, ampliar o tamanho da redução da Selic é compatível com o atual cenário de inflação sob controle e é essencial para reduzir os custos de financiamento para empresas, além de incentivar novos investimentos.
“Depois de o governo federal e a sociedade brasileira empreenderem esforços para acelerar o crescimento econômico com o retorno da política industrial, com base no programa Nova Indústria Brasil, o Banco Central precisa juntar esforços dando sua contribuição. A situação da inflação no Brasil já permite, há algum tempo, a redução mais relevante dos juros reais”, disse o presidente da CNI.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 5,6%, em fevereiro de 2023, para 4,5% em fevereiro de 2024, no acumulado de 12 meses, e está dentro do limite superior da meta de inflação para 2024 (4,5%).
Economistas do ICL já disseram que manter a taxa Selic nas alturas não contribui para fazer a roda da economia girar
As mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia. A meta de inflação deste ano, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%. Para o ano que vem, a meta é igual.
Na semana passada, os economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 somará 3,79% e, a de 2025, 3,52%. Ou seja, acima da meta central nos dois anos.
Desde o início, os economistas do ICL (Instituto Conhecimento Liberta) já disseram que manter a taxa básica de juros em patamar tão elevado não contribui para a melhora econômica, uma percepção, como se vê, também do empresariado. A Selic alta, na avaliação deles, penaliza principalmente a população mais vulnerável.
O economista e fundador do ICL, Eduardo Moreira, apoiou quando o presidente Lula começou a criticar os juros no país e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por manter uma política monetária tão austera, algo muito ruim para a retomada econômica.
“Não temos inflação de demanda. Tem pouca gente querendo comprar e [quando isso acontece] o preço cai. O que o Lula está querendo dizer é: ‘vocês [Banco Central] estão querendo que as pessoas não comprem no Brasil?’. A inflação não está alta porque as pessoas estão querendo comprar. Temos 33 milhões de pessoas passando fome, um monte de gente desempregada, perda de renda. Querem fazer a pessoa que já não tem nada comprar menos ainda”, criticou Moreira. “Os únicos que saem ganhando [com essa taxa de juros] é a Faria Lima”, completou o economista.
André Campedelli e Deborah Magagna, economistas e apresentadores do ICL Mercado e Investimentos, programa diário transmitido diariamente pelo canal do YouTube, também teceram críticas à condução da política monetária não só no Brasil como em outras partes do mundo.
“É preciso repensar esse movimento único, de tentar controlar a inflação somente com base na taxa de juros. É evidente que existem muitas fontes inflacionárias, e boa parte delas não são afetadas por apertos monetários. Mesmo assim, os bancos centrais do mundo só se utilizam deste único método para isso. É preciso repensar globalmente tal atuação, pois vimos o resultado desastroso do aperto monetário em todo o mundo, que foi uma economia inerte e gerando cada vez mais problemas sociais”, escreveram, em artigo.
Lembrando que, além do Copom, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) também anuncia sua decisão sobre os juros hoje. Lá, a expectativa é de manutenção da taxa de juros em uma banda entre 5,25% e 5,50%, a mais alta em 22 anos e, ainda assim, a inflação continua um pouco longe da meta de 2% ao ano.
Efeitos da queda da Selic na economia
Entre os efeitos da redução da taxa Selic estão:
- Diminuição das taxas bancárias: a tendência é que os cortes de juros sejam repassados aos clientes. Em janeiro desse ano, a taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas e empresas atingiu o menor patamar desde junho de 2022, segundo dados do Banco Central.
- Crescimento da economia: com juros mais baixos, a expectativa é de um comportamento melhor do consumo da população e, também, de melhora dos investimentos produtivos, impactando positivamente o PIB (Produto Interno Bruto), o emprego e a renda. Os dados de atividade têm surpreendido positivamente.
- Melhora das contas públicas: as reduções de juros também favorecem as contas públicas, pois diminuem as despesas com juros da dívida pública. Em 2023, a despesa com juros somou R$ 718 bilhões em 2023, ou 6,6% do PIB. Analistas esperam uma pressão menor com o processo de queda dos juros.
- Impacto nas aplicações financeiras: investimentos em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, porém, tendem a ter um rendimento menor, com o passar do tempo, do que teriam com juros mais elevados. Com a queda da Selic, a tendência é que os investimentos em renda variável fiquem mais atrativos.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do InfoMoney