Com nova queda da Selic, Brasil deixa de ser o país com o maior juro real do mundo. Haddad comemora decisão do Copom

Segundo Haddad, o corte nos juros é "boa notícia para as famílias" e afirmou que investidores podem se preparar para um ciclo de crescimento "mais sustentável, com baixa inflação e baixo desemprego"
14 de dezembro de 2023

No dia em que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central anunciou a quarta redução da Selic – neste caso, ontem (13) -, o Brasil deixou de ser o país com a maior taxa de juro real do mundo, invertendo as posições com o México, agora na líderança.

Ontem, o colegiado reduziu a taxa básica de juros da economia de 12,25% para 11,75% ao ano, na última reunião do ano. E, se os indicadores econômicos internacionais e nacionais colaborarem, o Copom promete mais cortes no ano que vem.

Com o novo corte – o quarto na mesma proporção desde agosto -, o juro real (descontada a inflação) no Brasil está em 6,11% ao ano, valor inferior ao do México (6,58%), segundo ranking elaborado pelo Portal MoneYou.

A taxa é uma combinação da inflação projetada para os próximos 12 meses, de 3,9%, considerando dados do relatório Focus do BC, e dos juros de mercado de 12 meses à frente — utilizando o contrato de Depósito Interbancário no dia da reunião do Copom.

Conforme os dados do MoneyYou, os seis primeiros colocados na lista de maior juro real do mundo são, respectivamente: México (1º), Brasil (2º), Colômbia (5,07), Chile (3,81), Indonésia (3,73) e Hungria (3,5).

Em novembro, a despeito das reduções da Selic, o Brasil estava em primeiro lugar, com uma taxa de 6,9% ao ano.

Segundo o levantamento, essa mudança reflete, por exemplo, a combinação de inflação mais baixa e cenário externo positivo.

Além disso, o movimento global de aperto monetário perdeu força e o contexto majoritário entre os bancos centrais é de manutenção das taxas, como ocorreu ontem com o Fed (Federal Reserve, dos EUA), que decidiu manter as taxas de juros na faixa dos 5,25% a 5,50%, e como deve acontecer hoje (14) com o BCE (Banco Central Europeu) e BoE (Banco da Inglaterra).

Entre 176 países, 81,82% mantiveram os juros, 8,52% elevaram e 9,66% cortaram. No ranking de 40 países, 92,5% mantiveram, 5% elevaram e 2,5% cortaram, entre eles o Brasil.

Mas, em termos nominais (quando não é descontada a inflação), o Brasil manteve a sexta posição. As maiores taxas ao ano coletadas pelo portal são as da Argentina (133%), Turquia (40%), Rússia (15%), Colômbia (13,25%) e Hungria (13%).

Entre as grandes economias, os EUA estão com juro real de 1,63% ao ano, e a China com 0,61%.

Apenas seis países do levantamento ainda possuem juro real negativo, entre eles Japão (-2,63%) e Argentina (-23,49%). Mas, neste último caso, a situação é bastante peculiar, pois a inflação no país superou a casa dos 160% ao ano em novembro, fazendo com que a taxa fique negativa.

Após “dar um pito” no BC por causa do juro real, Haddad comemora queda na taxa básica de juros

Em entrevista concedida nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a taxa de juros do país começou a cair “de forma tímida, mas consistente”, enfatizando que os juros reais brasileiros ainda seguem altos, o que deixa o Banco Central com “gordura para queimar” na política monetária. “Nós temos gordura para queimar na política monetária, nossa taxa de juro real ainda está muito distante do segundo colocado [México]”, acrescentou na ocasião.

Ontem, em declaração feita a jornalista na saída do Ministério da Fazenda e após a decisão anunciada pelo Copom, Haddad comemorou, dizendo que os números da inflação mostram que o governo está no caminho certo, e uma política monetária muito restritiva “atrapalha a arrecadação”.

Segundo Haddad, o corte nos juros é “boa notícia para as famílias” e afirmou que investidores podem se preparar para um ciclo de crescimento “mais sustentável, com baixa inflação e baixo desemprego”.

“Vamos convergir para onde a Selic tem que convergir. (…) Desde o começo do ano eu falo: tem que harmonizar o fiscal com o monetário. Uma política monetária muito restritiva atrapalha a arrecadação. Uma política fiscal irresponsável compromete a política monetária. Têm que caminhar juntas. Quanto mais rápido convergir, melhor”, disse.

Ele ainda comentou que os parlamentares têm sinalizado que vão conseguir votar as medidas propostas pelo governo antes de debater o Orçamento para 2024. “Ainda vai exigir muito trabalho de todos nós. Não terminou, mas eu diria que os indícios são de que nós vamos terminar bem”, disse o ministro sobre as negociações com o Legislativo.

Haddad espera aprovação da reforma tributária ainda este ano, e ressaltou que eventuais divergências entre a Câmara e o Senado não devem atrapalhar a tramitação da proposta, uma vez que a espinha dorsal e “quase a totalidade dos detalhes” estão acordados. “Se ficar alguma pendência, isso pode ser discutido em outra oportunidade”, declarou, citando como exemplo a reforma da Previdência.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo e do UOL

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