Crise energética pode provocar recessão econômica na Europa, mas, por outro lado, ser benéfica a algumas empresas brasileiras

Estudos elaborados pelo Santander e Itaú BBA mostram que determinadas categorias de empresas brasileiras com negócios no continente podem ser beneficiadas com custo maior de energia a concorrentes
20 de setembro de 2022

Já se vão sete meses desde que a Rússia invadiu a Ucrânica, conflito sem data para acabar e que, além das centenas de vidas ucranianas e de outras dezenas de vidas russas perdidas, começa a alargar o estrago na economia europeia, com uma grave crise energética. Muitos países europeus, dependentes do fornecimento de gás pela Rússia, começam a sentir os efeitos amplificados do custo da energia na inflação, no consumo da população e na produção industrial. Por outro lado, algumas empresas brasileiras com negócios no exterior podem se beneficiar da crise energética no continente.

Os alertas a respeito de uma possível recessão econômica na Europa têm sido diários. Se os prognósticos estiverem corretos, a Europa entrará em recessão entre o fim deste ano e início do próximo, alargando os efeitos danosos da pandemia de Covid-19 que o mundo sequer teve tempo de se recuperar. Caso isso realmente aconteça, muitas empresas brasileiras, expostas direta ou indiretamente à crise europeia, podem sofrer as consequências do colapso no velho continente.

A crise no fornecimento de energia na Europa deve ficar ainda mais crítica com a chegada do inverno no Hemisfério Norte. Contudo, os impactos nos preços já têm sido bastante onerosos, pressionando índices de inflação e exigindo que os bancos centrais subam as taxas de juros com o intuito de reduzir a pressão inflacionária.

No começo deste mês, o BCE (Banco Central Europeu) elevou a taxa básica em 0,75 ponto percentual, sinalizando que novas altas podem acontecer nos próximos meses, já que a inflação não cede. A última estimativa divulgada pelo Eurostat, o escritório de estatística da União Europeia, apontou que a inflação de agosto atingiu uma taxa anualizada de 9,1%, sendo que apenas os preços de energia subiram 38,3%.

Em alguns países, governos já estão subsidiando as contas de luz em meio a crise e colocando em ação planos para reduzir o consumo, pois a oferta de energia não acompanhou a retomada econômica do pós-pandemia de Covid.

Além de graves problemas sociais que a falta de gás pode trazer à população europeia durante o inverno, há muita preocupação com a atividade industrial, principalmente na Alemanha, Itália, Europa Central e Oriental. Na Alemanha, a divulgação da inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês), ontem (19), ajudou derrubar os mercados nesta manhã de terça-feira (20). O PPI local subiu para 7,9% em agosto. A taxa anualizada atingiu 45,8% ante os 37,9% projetados pelo mercado local.

A Economist Intelligence Unit (EIU) lembra que o setor industrial responde por quase 30% do PIB da Alemanha, e a dependência do gás russo é alta, de 35% (antes da guerra era de 55%).

As projeções indicam que principais danos à economia venham das indústrias de uso intensivo de energia, como química, siderurgia, vidro e fertilizantes, que serão as primeiras a enfrentar o racionamento de gás. Mas outros setores também devem ser afetados, como máquinas e fabricação de automóveis, com efeitos colaterais sendo sentidos na Itália, Áustria e Europa Central.

Crise energética na Europa pode ter saldo positivo para empresas brasileiras com negócios no continente

A crise de energia na Europa pode trazer impactos positivos para algumas empresas brasileiras com negócios no continente europeu. Um estudo feito neste mês pela estrategista de ações do Santander, Aline de Souza Cardoso, e divulgado pelo portal InfoMoney traçou um panorama da situação.

De acordo com o estudo, as companhias nacionais estão alocadas em três categorias. Numa cesta à parte, estão empresas controladas por grupos europeus  – Telefônica Brasil (VIVT3), TIM Brasil (TIMS3), Ambev  (ABEV3), Engie Brasil (EGIE3), Energias do Brasil (ENBR3), Neoenergia (NEOE3), Assaí (ASAI3) e Carrefour Brasil (CRFB3).

Nesse grupo, o impacto de uma recessão nos países-sedes será pequeno em termos de receita, mesmo que aconteça um forçado corte de custos e uma redução nos fluxos de caixa nas matrizes. Já aquelas com maior dependência de receitas vindas da Europa e as que possuem uma porcentagem relevante de custos operacionais no continente sentirão mais os efeitos da crise.

Nesses grupos, o diagnóstico é que Iochpe-Maxion, Embraer (MYPK3), Weg (WEGE3), Natura (NTCO3), Klabin (KLBN11), Suzano (SUZB3), CSN (CSNA3), Aeris (AERI3) e Tupy (TUPY3) são as mais expostas à Europa. A exposição dessas empresas é de 20% ou superior.

Mas há boas notícias. Segundo a análise do Santander, um inverno rigoroso em ambiente de escassez de energia pode tornar algumas dessas empresas mais competitivas por não enfrentarem os mesmos custos de energia de grupos locais concorrentes. Tupy, Weg e Klabin, por exemplo, têm forte concorrência no norte e no centro da Europa, que são as áreas de maior risco de menor oferta de gás da Rússia.

Outra análise feita pelo Itaú BBA vai na mesma linha em relação aos negócios da Weg. Um relatório assinado por Daniel Gasparete aponta que a fase crítica da Europa pode acelerar a necessidade de eficiência energética, com possibilidade de isso se traduzir em maior demanda por motores de baixa tensão.

“Acreditamos que isso possa sustentar um impulso positivo de ganhos para a Weg na região, permitindo assim que a empresa ganhe participação em um grande mercado em meio à crise”, afirmou, destacando que a empresa tem sete plantas no continente.

Redação ICL Economia
Com informações do portal InfoMoney e de agências de notícias

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