Eduardo Moreira: ‘Copom foi unânime sobre Selic para não ceder às pressões do mercado’

Na avaliação do economista e fundador do ICL, mercado financeiro vem especulando com o dólar com o objetivo de interferir na escolha do futuro presidente do Banco Central.
21 de junho de 2024

O mercado financeiro vem jogando pesado nos últimos tempos, em um movimento especulativo que tem feito o dólar subir, com o objetivo de “boicotar o próximo indicado” à presidência do Banco Central. Essa é a avaliação do economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira. “Querem impor, boicotar o próximo indicado e continuar mantendo a história do arrocho fiscal”, explicou o economista durante sua participação no ICL Notícias 1ª edição desta sexta-feira (21).

Com mais de duas décadas de experiência no mercado financeiro, Moreira disse que esse jogo foi todo armado para forçar o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC a interromper o ciclo de queda na taxa básica de juros, a Selic, como aconteceu na última quarta-feira (19).

Isso porque, no meio do caminho do mercado, havia os bons indicadores econômicos. Como elencou Moreira, a inflação está caindo, o PIB (Produto Interno Bruto) está subindo, o desemprego também está diminuindo… “Com uma economia saudável, eles tinham que criar esse pânico de alguma maneira. Então, onde eles foram criar? Nas expectativas lá na frente”, disse.

O caminho adotado foram dois: o primeiro, ataque ao dólar. “Começou a especular para subir a cotação do dólar para cima, comprar dólar, comprar, comprar, e colocar o Banco Central em corner (sem ter para aonde correr); no médio prazo, o que define a taxa de câmbio é o fluxo que você tem de entrada e saída de recursos no país, o quanto você exporta, o quanto você importa. Mas, no curto prazo, com ataques especulativos, com muita compra e venda, você tem oscilações maiores”, disse.

Esse movimento, na avaliação de Moreira, foi coordenado com o Boletim Focus do Banco Central, documento que traz projeções do mercado financeiro para a economia, e que está sob investigação do Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas da União).

O órgão ingressou com uma representação para “identificar eventuais desvios de finalidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na definição da taxa Selic”.

Segundo o subprocurador Lucas Furtado, a apuração se daria por suposta “grande influência as projeções constantes do chamado ‘Boletim Focus’, elaborado a partir de pesquisas macroeconômicas realizadas por diversas instituições, tais como bancos, consultorias, corretoras”.

Ainda dentro do teatro armado pelo mercado, entrou a mídia, abordando que as expectativas econômicas pioraram. “Então criou-se esse ciclo para piorar as expectativas e para forçar o Banco Central a parar a queda de juros e para forçar o Lula a ter que ouvir o mercado a respeito do próximo presidente do BC”, pontuou Moreira.

O mandato do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, termina em 31 de dezembro deste ano. Para o seu lugar, o nome mais cotado é o de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária do BC e ex-número 2 do Ministério da Fazenda.

Por que os nove membros do Copom votaram de modo unânime?

Dos nove membros do colegiado, cinco foram indicados pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – incluindo Campos Neto – e quatro pelo atual governo.

Na reunião anterior do Copom, houve uma divisão de votos entre as duas alas. A ala indicada por Bolsonaro defendeu um corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic – decisão que acabou prevalecendo -, enquanto os quatro indicados por Lula defenderam um corte de 0,50 p.p. Depois, a ata da reunião mostrou porque o grupo indicado pelo atual governo votou desse modo (leia clicando aqui).

A leitura que Moreira faz da decisão é a seguinte: o mercado fez pressão para haver um dissenso entre a diretoria, para, no dia seguinte, se especular ainda mais sobre o dólar e faz a Bolsa brasileira cair, porque “essa é a única maneira de fazer o governo indicar alguém que a gente chancele”.

“Os diretores decidiram, então, assumir a derrota para acalmar o mercado e não fazer o que o mercado queria que fizessem”, disse.

O objetivo disso, segundo Moreira, é financeiro, obviamente. “Tem uma turma, principalmente a turma do mercado, que tem que sempre fazer tudo o que ela pode fazer para manter a taxa de juros o mais alto possível e pra garantir que, em primeiro lugar, antes de qualquer coisa no país, se garanta o pagamento dos juros dela”, criticou.

 

Assista o comentário completo de Eduardo Moreira no vídeo abaixo:

 

Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias 1ª edição

Continue lendo

Assine nossa newsletter
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.