Empossado nesta terça-feira (4) na presidência do Mercosul por um período de seis meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um discurso pregando a união entre os países do organismo e reforçando suas críticas à União Europeia, que impôs medidas restritivas que travaram o avanço do acordo entre os dois blocos. Lula sucede o presidente da Argentina, Alberto Fernández.
Na cerimônia de posse, realizada durante a 62.ª Cúpula do Mercosul e Países Associados, que teve início ontem (3) em Puerto Iguazu, na Argentina, Lula fez um discurso contundente em defesa da união e da soberania dos países latino-americanos frente a iniciativas neocolonialistas das potências europeias, pelo fortalecimento da democracia e da luta pela igualdade.
“O mundo está cada vez mais complexo e desafiador. Nenhum país resolverá seus problemas sozinho, nem pode permanecer alheio aos grandes dilemas da humanidade. Não temos alternativa que não seja a união”, disse Lula.
O petista também abordou a crise climática em seu discurso, reforçando que “é preciso atuar coordenadamente na proteção de nossos biomas e na transição ecológica justa. Diante das guerras que trazem destruição, sofrimento e empobrecimento, cumpre falar da paz. Em um mundo cada vez mais pautado pela competição geopolítica, nossa opção regional deve ser a cooperação e a solidariedade”.
Em resposta ao discurso de ódio estimulado pela extrema-direita, o presidente reforçou que “é urgente renovar o compromisso histórico do Mercosul com o estado de direito”, enfrentando aqueles que querem “perverter a democracia”. “Estou convicto que a construção de um Mercosul mais democrático e participativo é o caminho a trilhar”, completou.
Ao longo de seu mandato temporário, um dos principais desafios do petista é destravar o acordo com a União Europeia. O parlamento francês aprovou, em abril, uma norma que proíbe a venda nos países do bloco de produtos ligados ao desmatamento. No entendimento de países do Mercosul, o dispositivo trava a conclusão do acordo, que vem sendo negociado há 20 anos.
“Estou comprometido com a conclusão do acordo com a União Europeia, que deve ser equilibrado e assegurar o espaço necessário para adoção de políticas públicas em prol da integração produtiva e da reindustrialização. O Instrumento Adicional apresentado pela União Europeia em março deste ano é inaceitável”, enfatizou.
Nas palavras do presidente, “parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções”, e conclamou o Mercosul a apresentar “uma resposta rápida e contundente”. “É inadmissível abrir mão do poder de compra do Estado – um dos poucos instrumentos de política industrial que nos resta. Não temos interesse em acordos que nos condenem ao eterno papel de exportadores de matérias-primas, minérios e petróleo”, reforçou.
Em discurso, Lula aborda adoção de moeda no comum pelo Mercosul para “reduzir custos e facilitar convergência”
Lula destacou que a adoção de uma moeda comum para realizar operações de compensação entre os países do bloco “contribuirá para reduzir custos e facilitar ainda mais a convergência”. “Falo de uma moeda de referência específica para o comércio regional, que não eliminará as respectivas moedas nacionais”, enfatizou.
O petista também defendeu a ampliação e o aprimoramento de acordos com países vizinhos como Chile, Colômbia, Equador e Peru, bem como a retomada de uma “agenda externa ambiciosa” com o objetivo de aumentar o acesso a mercados para os produtos de exportação dos países do bloco.
Também expressou o desejo de explorar novas frentes de negociação com parceiros como a China, a Indonésia, o Vietnã e com países da América Central e Caribe. “A proliferação de barreiras unilaterais ao comércio perpetua desigualdades e prejudicam os países em desenvolvimento”, explicou.
Sobre a adoção da moeda comum, a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, afirmou ontem (3), em conversa com jornalistas, que o Brasil, na presidência pro tempore (por seis meses) do Mercosul, terá como prioridade a convergência macroeconômica em moeda comum no bloco.
A diplomata de carreira representou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na reunião de ministros e presidentes de Bancos Centrais do Mercosul.
Ela ressaltou que o Brasil vai promover mudanças operacionais no Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML), de modo a fortalecer o mecanismo de compensação e incentivar seu uso. “A gente está dando um passo a mais, com uma visão de longo prazo, de maior integração financeira do Mercosul”, disse Rosito, em entrevista coletiva. “O SML tem funcionado muito aquém do seu potencial”, acrescentou.
Segundo ela, regras harmônicas do SML poderiam servir de base para as transações em moedas locais, não mais em dólar, de forma rápida e segura. Ela também destacou que o Banco Central apoia as medidas operacionais para fortalecer o SML e, no longo prazo, a “consequência natural” seria a adoção de uma moeda comum no Mercosul, embora nenhum prazo tenha sido estabelecido nesse sentido.
Em abril, o CMN (Conselho Monetário Nacional) autorizou que transações no SML aconteçam nas respectivas moedas locais.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e de O Estado de S.Paulo