Em evento em Nova York, setor privado tenta se descolar da imagem ruim do Brasil na agenda ambiental para impulsionar negócios

Tentando se descolar da imagem ruim deixada pelo governo Bolsonaro nas questões ambientais, evento em Nova York reuniu 600 agentes dispostos a fazer do Brasil protagonista do meio ambiente
19 de setembro de 2022

Na semana passada, representantes do setor privado brasileiro se reuniram no Brazil Climate Summit, uma agenda ambiental paralela à Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), com a finalidade de tentar vender o Brasil como uma potência verde, podendo assumir um protagonismo mundial nessa seara. Assim, eles querem se descolar da imagem ruim do governo de Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, nas questões ambientais.

O Brazil Climate Summit aconteceu entre quinta e sexta-feira (15 e 16), na Universidade de Columbia, em Manhattan, às vésperas, portanto, da semana do clima de Nova York. O evento sobre a agenda ambiental atraiu a participação de um público variado de 600 pessoas nos dois dias, entre os quais alunos e ex-alunos, especialistas em meio ambiente, executivos de empresas, bancos e investidores internacionais, como Paul Polman, ex-CEO da Unilever, e Silvia Coutinho, presidente do UBS no Brasil.

Em reportagem publicada no jornal O Estado de S.Paulo, a cofundadora da EB Capital e uma das idealizadoras do evento, Luciana Antonini Ribeiro, disse que “independente do governo, queremos tomar a rédea” na agenda ambiental, sinalizando que a ideia é tornar regular o evento ocorrido na semana passada.

Um dos principais temas debatidos na agenda ambiental, segundo a reportagem do Estadão, foi a necessidade de apoio financeiro para o avanço da agenda verde. O diretor de mercados de dívida para a América Latina do Bank of America, Max Volkov, disse, na ocasião, haver estoque de US$ 19 bilhões de emissões de dívida externa no país com perfil ESG, sigla para questões ambientais, sociais e de governança, com foco exclusivamente no setor privado.

“Se você considerar o volume de emissões domésticas, o tamanho do mercado do Brasil é próximo ao do Chile, que é o maior da América Latina”, disse Volkov, acrescentando que há bastante interesse de investidores nas emissões ESG.

Agenda ambiental do exterior força empresas brasileiras a mudanças. BB vai lançar primeiras emissões de créditos de carbono

Depois de defender a mineração e estimular o garimpo ilegal, o governo Bolsonaro tem como proposta para o meio ambiente o estímulo do turismo em terras indígenas. Conforme o capítulo sobre propostas para o crescimento econômico de seu programa de governo, “serão consolidadas e ampliadas no próximo mandato, assim como o atendimento às crescentes demandas nacional e internacional de atividades de turismo ambiental responsável e de etnoturismo, ambos de forma sustentável, promovendo crescimento socioeconômico regional, as culturas locais e gerando bem-estar e lazer ao cidadão brasileiro”.

Em suma, a atual gestão tem ido na contramão do mundo, que defende uma pauta climática em caráter emergencial. O governo Bolsonaro abriu a porteira da Amazônia para o garimpo e exploração de madeira ilegais, problemas que levaram à queda do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acusado de envolvimento em crimes ambientes. Hoje, o Brasil tem a imagem manchada no exterior devido à má condução da agenda ambiental.

Apesar disso, instituições governamentais estão trabalhando novas estruturas de financiamento. Segundo a reportagem do Estadão, o Banco do Brasil, por exemplo, prepara o lançamento das suas primeiras emissões de créditos de carbono. A estreia será com quatro operações, no valor de R$ 25 milhões e um total de 500 mil toneladas de CO2. Porém, o potencial é maior. O BB já mapeou 80 transações em seu portfólio de agronegócio, do qual é líder no Brasil.

“Nós juntamos as duas pontas, o lado que tem excesso de crédito de carbono e o outro que precisa compensar. Mapeamos todo esse excedente e demanda e vamos lançar as primeiras quatro emissões no fim do mês”, afirmou o presidente do BB, Fausto Ribeiro, ao Estadão/Broadcast.

Além do BB, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) organizou na agenda ambiental dois editais para a compra de crédito de carbono, em um total de R$ 110 milhões. “O Brasil é uma potência em soluções baseadas na natureza. Temos nossas florestas, uma solução que está na mão”, afirmou o diretor de crédito produtivo e socioambiental do BNDES, Bruno Aranha.

Lembrando que o sistema de créditos de carbono foi criado a partir do Protocolo de Kyoto, em 1997, e visa à diminuição dos gases de efeito estufa, que causam as mudanças climáticas. No Brasil, esse mercado atingiu cerca de US$ 2 bilhões no ano passado e tem crescido a uma taxa anual de 30%, segundo especialistas que participaram do Brazil Climate Summit.

A expectativa é que o segmento dê um salto nos próximos anos, podendo alcançar US$ 50 bilhões até 2030, de acordo com projeções da consultoria global McKinsey. Mas, para isso, precisa superar entraves, como a falta de profissionais especializados, custos elevados e o desmatamento da Amazônia.

Redação ICL Economia
Com informações de O Estado de S.Paulo

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