O endividamento das famílias brasileiras chegou a 77,9% em 2022, em mais um recorde. A Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), divulgada nesta quinta-feira (19) pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), mostra que o percentual de endividados no país subiu sete pontos percentuais de 2021 (70,9%) para o ano passado.
O levantamento aponta que os principais vilões do brasileiro foram o cartão de crédito (86,6%), os carnês (19%) e o financiamento de automóveis (10,4%)
Para o CNC, há três motivos principais para o aumento do endividamento: efeito da pandemia sobre o emprego e fechamento dos negócios, retomada do consumo reprimido com as medidas para contenção da transmissão da Covid-19 e inovações em métodos de pagamento, como o Pix.
Além do endividamento das famílias, inadimplência também bate recorde de 28,9%
Não foi só o endividamento que subiu no ano passado. Com a inflação e os juros altos impactando o custo de vida, principalmente para o brasileiro mais pobre, a inadimplência também bateu recorde e chegou a 28,9%. Isso significa que, a cada dez famílias, três atrasaram algum pagamento no ano passado, segundo a pesquisa. O número é 3,7 pontos percentuais maior do que o registrado em 2021.
Pesquisa feita pelo Datafolha em dezembro mostrou que a prioridade de quem recebe os R$ 600 do Auxílio Brasil (atual Bolsa Família) era comprar comida (76% dos entrevistados). Depois disso, as outras prioridades eram o pagamento de dívidas (11%) e a compra de remédios (5%).
Segundo a CNC, duas a cada dez famílias que recebem até 10 salários mínimos mensais se declararam “muito endividadas”. As dívidas chegam a comprometer 30,9% da renda dessas pessoas. Por outro lado, quando analisados os dados daquelas que recebem mais de 10 salários mínimos mensais, os números caem praticamente pela metade, o que, para a CNC, sugere que o superendividamento está concentrado entre os mais pobres.
Por essa razão, Guilherme Mercês, diretor de Economia da CNC, disse que os programas de refinanciamento de dívidas, como o que está sendo debatido pela equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, são fundamentais. Porém, não resolvem o problema estrutural, que é a alta taxa de juros, a qual, por consequência, turbina o custo do crédito. Portanto, baixá-la é fundamental. “Em termos estruturais, o que vai resolver [o endividamento] é uma taxa de juro mais baixa, para baixar o custo de crédito de forma geral”, disse.
A Selic, taxa básica de juros, terminou 2022 a 13,75%, o maior valor desde 2017. No começo deste mês, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, disse que o governo deve anunciar, em breve, o programa Desenrola Brasil, de renegociação de dívidas, que também contemplará empresas inadimplentes. O programa é uma promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias