Estiagem prolongada pode afetar preços dos alimentos, transportes e energia elétrica

Dados do Cemaden mostram que o Brasil enfrenta a pior estiagem de sua história recente e a situação pode piorar.
4 de setembro de 2024

Dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais) mostram que o Brasil enfrenta a pior estiagem de sua história recente. A seca nos rios já começa a afetar, por exemplo, os preços dos alimentos, da energia elétrica e da logística.

A previsão dos meteorologistas é de que as ondas de calor e a estiagem permaneçam em quase todo o país pelo menos até novembro, trazendo um cenário preocupante, que pode levar a uma série de reflexos negativos na economia brasileira.

O solo seco e os baixos níveis dos rios prejudicam não só as safras agrícolas como também a geração de energia elétrica, o custo de combustíveis e o transporte de cargas pelo país, impactando diretamente o bolso dos brasileiros.

Ontem (3), o Cemaden publicou dados atualizados sobre a situação. A projeção do Índice Integrado de Seca (IIS) para setembro de 2024 alerta para o agravamento da seca em diversas regiões do Brasil.

O destaque é para a expansão dos municípios com condição de seca extrema no Amazonas (8 municípios), Mato Grosso (73 municípios), Mato Grosso do Sul (7 municípios) e Goiás (43 municípios).

Na Bacia do Rio Paraná, a seca continua crítica, variando de severa a extrema em parte da região. Essa situação exige atenção e ações preventivas para minimizar os impactos socioeconômicos e ambientais, sobretudo em relação ao maior risco de propagação do fogo.

Em 2021, devido à estiagem, houve aumento de 21,21% na energia elétrica residencial, que foi o segundo subitem de maior contribuição para a inflação oficial do país. Só perdeu para a gasolina, que avançou 47,49%. Naquele ano, o IPCA chegou a 10,06%, maior nível desde 2015.

Isso ocorre porque grande parte da matriz energética brasileira é por hidrelétricas. Quando há secas nos rios, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) é obrigado a acionar as termelétricas, movidas a combustíveis fósseis e, portanto, com custo mais caro.

Ministro de Minas e Energia diz que cenário atual de estiagem não deve ter as consequências de 2021 e que vai revisar bandeira tarifária

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse ontem (3) que o cenário atual não deve trazer reflexos para o próximo ano. “Nós não atravessaremos em 2025 o que aconteceu em 2021”, afirmou.

Recentemente, a bandeira tarifária foi alterada de “verde”, em que não há cobrança extra pelo consumo de energia, para a “vermelha patamar 2”, a mais cara e que adiciona R$ 7,88 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos pelas famílias.

A última vez que isso havia ocorrido foi em agosto de 2021, época de crise hídrica.

Nesta quarta-feira (4) o ministro disse que pode revisar a decisão de aplicar a bandeira tarifária no patamar “vermelha 2” nas contas de luz.

A bandeira tarifária encarece a conta de luz, em períodos de pouca chuva e muito consumo de energia, para destimular o desperdício. O dinheiro vai para uma conta específica do governo – e pode ser usado em ações para mitigar a crise hídrica, por exemplo.

Questionado sobre uma possível revisão , o ministro disse que “isso pode acontecer” e citou a existência de “problemas técnicos e objetivos”.

O ministro se refere a uma inconsistência notificada pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) no último dia 31.

A Câmara afirma que houve um erro no cálculo de despacho de uma usina, o que pode ter influenciado o acionamento da “bandeira vermelha patamar 2”. Ou seja, pode ser que o patamar de acréscimo na conta de luz seja menor.

Silveira destaca ainda que a conta que recebe os valores pagos a mais na conta de luz está superavitária – o que também permitiria uma revisão para níveis menores de cobrança.

Em julho, o acumulado do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para a janela de 12 meses chegou próximo de 4,50%, o teto do intervalo permitido pela meta perseguida pelo Banco Central do Brasil (BC). O centro da meta estabelecido pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3% neste e no próximo ano, podendo oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Especialistas já alertam que o principal efeito da estiagem é o encarecimento da conta de luz, mas o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já tem buscado saídas para minorar os impactos. O Executivo negocia, por exemplo, a antecipação de R$ 18 bilhões que a Eletrobras deve depositar ao longo de 25 anos, para reduzir a conta de luz dos consumidores brasileiros em até 10%.

Alimentos

Outro problema da estiagem é o desabastecimento de produtos agrícolas, resultado das quebras de safras e perda de alimentos, situação que pode ser agravada pelos recentes incêndios no interior de São Paulo.

Em entrevista ao g1, Alexandre Pires, do Ibmec, disse que a extensão da seca — presente em quase todo o país — tende a prejudicar, principalmente, produções como soja, gado e itens de hortifruti. “Neste ano, vamos ter uma quebra de safra por conta da seca, que já vem se intensificando ao longo dos últimos meses. Há uma generalização da estiagem”, afirmou.

Em julho, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas estimada para 2024 deve totalizar 298 milhões de toneladas, 5,5% menor que a obtida em 2023 (315,4 milhões de toneladas), redução de 17,4 milhões de toneladas.

Cadeias logísticas

A estiagem prejudica também as áreas que dependem do modal aquaviário para transporte de produtos, como alimentos. A Zona Franca de Manaus é uma das áreas mais afetadas, pois os rios da região estão em níveis alarmantes, o que dificulta o tráfego de embarcações.

“Isso acaba atrapalhando a oferta de insumos para a indústria no Centro-Sul, principalmente no Sudeste”, disse Alexandre Maluf, da XP Investimentos, ao g1.

O economista apontou que, por essa razão, alguns produtos devem sofrer “estresse na cadeia logística”, ou seja, uma menor oferta de alguns itens, porque o transporte vem sendo prejudicado pela seca.

Entre os produtos que devem sentir mais esses impactos, ele destacou equipamentos eletrônicos; insumos para a indústria; motopeças e autopeças.

Para o economista, no entanto, mesmo que a situação gere um impacto inflacionário, deve ser algo de “curto prazo”.

Redação ICL Economia
Com informações do g1

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