Investidores estrangeiros já retiraram quase R$ 30 bilhões da bolsa brasileira em 2024

Para analistas, a retirada de recursos está, em grande parte, relacionada à remuneração mais alta dos títulos da dívida dos EUA, considerados os mais seguros do mundo.
22 de abril de 2024

De janeiro até 17 de abril deste ano, os investidores estrangeiros retiraram o equivalente a R$ 29,4 bilhões da B3, a Bolsa brasileira. O saldo neste mês está negativo em R$ 7,55 bilhões.

Na avaliação de analistas, a retirada de recursos está, em grande parte, relacionada aos sinais de aquecimento da economia norte-americana, que mantém pressões inflacionárias e, consequentemente, taxas de juros mais altas.

Hoje, os juros norte-americanos estão no intervalo entre 5,25% e 5,50% ao ano e, diante da economia resiliente, não há sinais claros no horizonte a respeito de quando o Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos) vai iniciar a trajetória de cortes.

Isso faz com que os investidores retirem seus recursos de economias emergentes, como o Brasil, para aplicá-los nos títulos da dívida norte-americana, os Treasuries, considerados os mais seguros do mundo, ainda que a taxa básica de juros brasileira esteja na casa dos 10,75% ao ano.

A mudança na postura dos investidores estrangeiros vem sendo notada desde o fim do ano passado, que encerrou com um aporte líquido de R$ 44,85 bilhões, época em que o mercado apostava em uma queda dos juros americanos em março.

Como o Fed decidiu manter as taxas de juros inalteradas, houve saques líquidos de R$ 22,9 bilhões no primeiro trimestre deste ano.

A retirada foi a maior registrada num período de três meses desde o terceiro trimestre de 2021 (R$ 23,7 bilhões).

Em 2023, o Ibovespa, principal indicador da B3, subiu mais de 20%, na maior alta anual desde 2019.

Boa parte desse movimento tinha como base algumas premissas: um ambiente fiscal controlado, o início dos cortes de juros nos EUA em março, no mais tardar em junho; e uma Selic em 9,0% ao ano ou menos ao final de dezembro de 2024.

Mudança na política fiscal também é explicação mudança de otimismo na Bolsa brasileira

Os analistas também atribuem a fuga de capital às recentes mudanças na política fiscal do Brasil. Na semana passada, o governo federal realizou mudanças nas metas fiscais dos próximos anos, o que trouxe apreensão ao mercado financeiro sobre se o governo vai conseguir equilibrar as contas públicas.

No próximo ano, em vez de um superávit primário (saldo positivo entre gastos e despesas do governo, sem contar o pagamento dos juros da dívida pública) de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) a nova previsão é de um resultado zero, com eventual déficit de 0,25% do PIB. Para 2026, a estimativa de saldo positivo caiu de 1% para 0,25% do PIB.

Mas não é segredo para ninguém que o mercado financeiro é muito ruim de fazer projeções econômicas. Errou feio todas as projeções feitas no início do governo Lula 3. O desempenho da economia brasileira foi muito melhor do que esperavam.

Além disso, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, que está um degrau abaixo do ministro Fernando Haddad, negou que tenha havido afrouxamento das metas fiscais a partir de 2025. “Não é de nenhuma forma um afrouxamento da agenda fiscal – é o contrário. É fazer a calibragem correta de qual é o objetivo final e persegui-lo com afinco”, disse, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo desta segunda-feira (22).

“Nosso projeto econômico se mantém. Não há nenhuma alteração nas mudanças que a gente quer para o país e nos ajustes que precisam ser feitos. A primeira projeção das metas foi feita no ano passado. Atualizando os cenários para este ano, mantém os mesmos desafios. Mas é preciso fazer com que esse desafio seja cumprido”, enfatizou.

Voltando ao cenário econômico internacional, o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, já explicou como as decisões do Fed, o banco central dos EUA, tem afetado a economia mundial, incluindo o Brasil.

“A taxa de juros dos EUA é uma taxa de referência para as demais. Essa taxa define quanto pagam os títulos do tesouro americano, os quais o mundo inteiro usa para guardar as suas reservas. Esses são os títulos considerados mais seguros do mundo”, disse.

Na avaliação de Moreira, Jerome Powell, o presidente do Fed, tem de agir, na maioria das vezes, como “bombeiro e policial”, pois ele sabe do peso de suas decisões, não só para a economia doméstica, mas, também, para a mundial.

Da Redação ICL Economia
Com informações do site Metrópoles

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