Um em cada quatro brasileiros (26%) afirma conviver com a falta de comida em suas casas, não tendo alimentos o suficiente para a família. O número foi revelado por pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 22 e 23 de junho e divulgada nesta segunda-feira (27).
O resultado significa aumento em relação ao levantamento anterior, divulgado em março, quando 24% disseram não ter comida suficiente em casa. Entre as pessoas com renda familiar de até dois salários mínimos, o número ainda é maior: 38% .
Segundo a pesquisa, apenas 62% dos brasileiros afirmam ter comida suficiente, enquanto 12% disseram ter mais do que o suficiente; números que também estão dentro da margem de erro. Os percentuais se mantém praticamente inalterados desde o início dos levantamentos, em maio de 2021.
A quantidade insuficiente de comida é maior nas regiões Nordeste (32%) e Norte (30%). No Centro-Oeste e no Sul, o percentual é de 24%. O Sudeste tem a menor taxa (22%).
Já entre os desempregados, 42% disseram que não tiveram alimento o suficiente (eram 38% em março). A insegurança alimentar afeta os que desistiram de buscar trabalho (39%), as donas de casa (38%) e os autônomos (27%).
Segundo o Datafolha, além da alta nos preços, o retorno do emprego com funções precarizadas e de baixa remuneração e o acúmulo de incertezas quanto ao ambiente político e econômico nos próximos meses fazem do custo dos alimentos uma preocupação central dos brasileiros.
Falta de comida no país existe apesar do salto na produção de grãos
Os resultados da pesquisa Datafolha contrastam com a produção nacional do agronegócio. Nos últimos seis anos, entre 2015 e 2021, a produção brasileira de grãos saltou de 186,7 milhões de toneladas, para 255,5 milhões, uma alta de mais de 36%. Os dados são da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Para a safra 2021/2022, a Conab elevou a estimativa de produção de soja e milho do Brasil. Segundo o 9º levantamento referente ao ano-safra que termina neste mês, e que foram divulgados no último dia 8 de junho, a safra total de grãos foi estimada em 271,3 milhões de toneladas, ou seja, 6,2% maior que a safra 2020/2021.
A produção de soja foi revisada pela Conab, de 123,8 milhões para 124,27 milhões de toneladas; e a produção de milho passou de 114,58 milhões para 115,2 milhões de toneladas. Para o feijão, a produção total é estimada em 3,1 milhões de toneladas, 6,6% a mais que na safra 2020/2021.
Um dos principais problemas para o acesso da população à essa produção são os preços praticados. Nestes últimos seis anos, o preço dos alimentos no Brasil subiu 62%, acima dos 50% de altas somadas do IPCA.
Além disso, vale ressaltar que a área plantada de apenas três culturas, soja (46%), milho (24%) e cana de açúcar (11%), corresponde a 81% da área plantada total no país. É o agronegócio voltado à agenda exportadora, sem atenção à alimentação do brasileiro, com culturas de feijão e arroz, por exemplo, cada mais vez escassas e “pesadas” ao bolso do povo.
Sobre a pesquisa Datafolha – Foram ouvidos 2.556 brasileiros em 181 cidades em todo o Brasil. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Redação ICL Economia
Com informações das agências