O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) deve anunciar, nesta quarta-feira (20), a manutenção das taxas de juros do país entre 5,25% e 5,50%, o maior patamar em 22 anos. Como estamos falando da maior economia do globo, a decisão traz implicações para todo o mundo e, principalmente, para países emergentes como o Brasil.
Embora a decisão já seja esperada, o fato é que a autoridade monetária norte-americana, a despeito dos juros elevados, não está conseguindo chegar próxima da meta de inflação de 2% ao ano. Por isso, muito mais do que a decisão em si, já esperada, os analistas estarão de olho na entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell, após o anúncio da decisão, e ao gráfico de pontos, em busca de sinais sobre quando, afinal, os juros começam a descer.
No início, as projeções indicavam entre seis e sete cortes de juros este ano. Mas, agora, o mercado espera apenas quatro, segundo pesquisa da Bloomberg, e o primeiro deles deve demorar pelo menos até junho para acontecer.
Em outubro, a inflação americana caiu de 4,15% para 4,07%, e o núcleo do indicador, que exclui preços mais voláteis — como alimentos e energia — saiu de 3,70% para 3,24%, indicando desaceleração da economia.
Isso trouxe euforia aos mercados, incluindo a bolsa brasileira, que teve seu melhor desempenho em quatro anos, movidos pelas apostas de que os juros americanos começariam a cair neste mês.
No entanto, o jogo inflacionário virou este ano, jogando um balde de água fria no otimismo dos mercados globais. O CPI (índice de preços ao consumidor americano) de fevereiro, dado de inflação mais recente divulgado nos EUA, acelerou a 3,2%, ficando levemente acima das projeções. Apesar da variação discreta, a avaliação é de que a alta de preços permanece resiliente e distante da meta inflacionária seguida pelo Fed.
Somado a isso, os dados de emprego também mostram um mercado de trabalho aquecido, o que traz mais pressões inflacionárias. Em suma, está armada a bomba da qual o Fed não consegue escapar, mesmo com os juros altos.
Eduardo Moreira explica como as decisões do Federal Reserve afetam a economia mundial
O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, já fez avaliações sobre o quanto as decisões da política monetária nos EUA afetam a economia global.
“A taxa de juros dos EUA é uma taxa de referência para as demais. Essa taxa define quanto pagam os títulos do tesouro americano, os quais o mundo inteiro usa para guardar as suas reservas. Esses são os títulos considerados mais seguros do mundo”, disse.
Na avaliação de Moreira, Jerome Powell, na maioria das vezes, tem de agir como “bombeiro e policial”, pois ele sabe do peso de suas decisões, não só para a economia doméstica, mas, também, mundial.
No meio disso tudo, o PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos cresceu mais de 3% no quarto trimestre de 2023, mostrando que, mesmo com os juros no maior patamar em mais de duas décadas, a economia norte-americana manteve-se forte.
Diante desse quadro, a pergunta é: como a economia dos EUA mantém-se forte? As conclusões ainda são incertas para analistas, mas, entre as hipóteses, estão mudanças estruturais do mercado de trabalho, recuperação de oferta e a persistência dos estímulos emergenciais adotados durante a pandemia de Covid-19. Mas, como dito, são só hipóteses.
Impactos dos juros dos EUA no Ibovespa
Os dados surpreendentes da bolsa brasileira no fim do ano passado não devem se repetir este ano, a menos que um milagre econômico aconteça.
Desde o início do ano, o Ibovespa, principal indicador da B3, acumula queda de 5,38%, depois de ter ultrapassado pela primeira vez o patamar de 134 mil pontos no fim de 2023.
Esse movimento ocorreu porque a perspectiva de queda de juros nos EUA, em geral, favorece a bolsa brasileira, pois leva a um redirecionamento de recursos do mercado americano para países mais arriscados e rentáveis, como o Brasil.
Enquanto as taxas americanas continuarem elevadas, esse potencial de investimento estrangeiro permanecerá retido.
Mas vale lembrar que parte da queda do Ibovespa também está ligada aos desempenhos da Vale e da Petrobras, as duas empresas de maior peso do índice, neste ano. Enquanto a mineradora vem sendo penalizada por uma forte queda do minério de ferro no mercado internacional, a petroleira tem sofrido as oscilações do preço do petróleo no mercado externo e à recente interpretação do mercado financeiro sobre a política de pagamento de dividendos extraordinários da companhia.
De todo modo, se os juros nos EUA começarem a cair, a bolsa brasileira deve ser beneficiada.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e da Folha de S.Paulo