Há pouco mais de seis meses à frente do Ministério da Fazenda, Fernando Haddad saiu-se como o grande vencedor da aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 45, da reforma tributária, por ter se empenhado em uma boa articulação com a Câmara. Agora, o ministro tem novos desafios dentro da pasta, como o de fazer passar a reforma no Senado sem grandes alterações em sua essência, assim como finalizar a votações do arcabouço fiscal na Casa e o projeto do voto de qualidade no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), que também foi aprovado pelos deputados na última sexta-feira (7).
Especialmente com o arcabouço, que institui novas regras fiscais em substituição ao teto de gastos, e a proposta do Carf, Haddad quer reequilibrar as contas públicas e cumprir a promessa de zerar o déficit em 2024.
Em entrevista ao podcast O Assunto nesta segunda-feira (10), o ministro reforçou essa intenção. Pelas contas do governo, ainda é preciso um incremento de R$ 110 bilhões nas receitas anuais. E, na entrevista, ele disse que será “possível” atingir esse patamar com as duas propostas.
“Se o Congresso e o Judiciário continuarem nos ajudando, como estão, não fazendo favor, mas sendo céleres (…) se nós continuarmos nesse caminho, a gente zera (déficit em 2024). O Executivo está fazendo sua parte, que é não criando novas despesas, que é combatendo gastos tributários, defendendo o Tesouro Nacional nos tributários superiores, tentando impedir que o Congresso aprove novas desonerações”, elencou.
Diante das vitórias obtidas no Congresso, o ministro disse que houve um arrefecimento da pressão sobre ele por parte de integrantes do próprio partido (PT) e dos críticos à sua nomeação ao Ministério da Fazenda, especialmente no mercado financeiro.
“Eu estou me sentindo menos na frigideira do que estava três meses atrás. O fogo inimigo também diminui. Falo por brincadeira ‘inimigo’, por esforço retórico. Tinha muita gente na chamada Faria Lima que dizia ‘olha Haddad não dá para ser ministro da Fazenda'”, disse.
Também explicou que, no começo, teve de defender seus pontos de vista sobre os rumos que a economia devia tomar. “Entre dezembro e fevereiro, nós tivemos muitas discussões sobre um caminho a seguir e legítimas. O presidente cobrando um horizonte e eu tendo a tarefa e o desafio de explicar para ele, que aquilo tinha que ser daquela maneira para atingir aquele objetivo”, afirmou.
Ao ser questionado sobre relação com o Banco Central, Fernando Haddad diz que tem uma “relação muito civilizada” com presidente da autarquia
Haddad classificou a articulação que vem ocorrendo em Brasília como “política com P maiúsculo” e, ao ser questionado sobre sua relação com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que é “muito civilizada”.
“Me dou muito bem com o presidente do Banco Central, não tenho nenhum problema com ele, muito pelo contrário. Temos uma relação muito civilizada, para as tensões que estão estabelecidas. Mas eu acho, sinceramente, que isso é a volta da política com P maiúsculo, para produzir os melhores resultados. Quando a política não produz os melhores resultados, ela está sendo mal feita”, disse.
No entanto, ele voltou a bater na tecla de harmonização na política econômica do governo com a política monetária do Banco Central. Para ele, o BC “vai ter que fazer sua parte” para melhorar a situação fiscal do país.
Haddad vê com preocupação o custo de crédito no Brasil e declarou que o país passou por uma década “trágica” na história, entre 2013 a 2022, com o baixo crescimento registrado.
“Obviamente, o Banco Central também vai ter de fazer a sua parte, porque a política monetária não pode estar em colisão com a política fiscal (…) Temos de estabilizar a economia e colocá-la numa roda de crescimento, não podemos voltar a continuar crescendo 1% ao ano em média”, disse o ministro.
Ele argumentou que a defesa da queda na taxa básica de juros (Selic) por parte do governo é baseada em “argumentos técnicos” e não em “queixas”.
Descontraído, durante a entrevista o ministro deu uma palhinha mostrando suas habilidades com o violão.
Redação ICL Economia
Com informações de O Globo e G1