O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o Brasil vive hoje o paradoxo de ter uma inflação menor que a dos Estados Unidos e de países europeus e, ao mesmo tempo, ter a maior taxa de juros real do planeta. Para ele, a taxa de juros no Brasil está num patamar fora de propósito. A opinião foi dada em entrevista de uma hora ao Brasil247, transmitida pelo canal do portal no YouTube. Ele também falou de câmbio, tema sensível para o Banco Central, que é independente. Segundo Haddad, o primeiro trimestre é crucial para a apresentação de um plano robusto de corte de gastos.
Em entrevista ontem (3), o secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, disse que a equipe econômica apresentará o “plano de voo” da economia, entre esta semana e a próxima, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na entrevista ao Brasil247, Haddad qualificou a atual situação como anômala: uma inflação comparativamente baixa e uma taxa de juros real fora de propósito para uma economia que já vem desacelerando. Ele ressaltou o aumento brutal da Selic, que saiu de 2% ao ano, em janeiro de 2021, para 13,75%, em agosto do ano passado. O ministro da Fazenda atribuiu o ajuste ao que chamou de “farra eleitoral” promovida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, e queixou-se do custo dessa farra não vir à luz com a clareza necessária.
O ministro da Fazenda também avaliou que a dicotomia dos juros com a inflação é o que deveria estar sendo discutido para entender as dificuldades para sanear as contas públicas. Segundo Haddad, se as “peças forem encaixadas direitinhas”, com todas as medidas necessárias para enfrentar esse problema, o Brasil poderá voltar a crescer com qualidade. “Com baixa inflação e baixo desemprego.”
Contudo, ele descartou a adoção, por parte do governo Lula, de uma meta para a taxa de câmbio. Para ele, é possível atuar com “governança” das contas públicas para estabilizar a taxa cambial e os juros, e não permitir tanta volatilidade nos dois.
Na avaliação do ministro, a taxa de câmbio e de juros são variáveis muito importantes para o investidor ter um longo horizonte de confiança no Brasil, com mais previsibilidade. Por esse motivo, a volatilidade cambial é um mal para a moeda brasileira, pois quem investe aqui como se planejar a longo prazo. “Alguém pode dizer que tem uma média. Mas, se a pessoa precisa de liquidez, ela não pode contar com a sorte”, disse o ministro.
Para Fernando Haddad, o grande mérito dos grandes governantes é aproveitar janelas de oportunidade quando o céu está azul
Haddad respondeu que o Brasil já viveu momentos de inflação e desemprego baixos. Mas ponderou que, às vezes, o cenário ajuda muito. Por exemplo, quando o mercado externo está bom e os preços dos produtos que o país exporta estão altos. “Existem condições mais e menos favoráveis. O grande mérito dos grandes governantes é aproveitar janelas de oportunidade quando o céu está azul”, disse, ressaltando que esses períodos benignos não são duradouros numa economia de mercado com a especulação financeira que existe no mundo.
Segundo o ministro, há bolhas especulativas para todos os lados. Ele avaliou que a crise internacional de 2008, na prática, não acabou até hoje. “Os Estados Unidos estão com inflação alta, 7% a 8%. Têm países na Europa com inflação de 10%, o que não acontecia desde a segunda guerra mundial.”
Sobre uma política substitutiva ao teto de gastos, regra fiscal que limita o aumento de despesas do governo à inflação passada, Haddad disse que vai enviar a proposta ao Congresso até o fim do primeiro trimestre. Com esse cronograma, ele acredita que, a partir de abril, com as comissões do Congresso já instaladas, o projeto poderá começar a ser discutido. Ele também prometeu que, a partir do fim de abril, vai começar a discutir a reforma tributária com o Legislativo.
O ministro da Fazenda também comentou que o governo Lula tem o papel de corrigir erros cometidos por seu antecessor, mas ponderou que ele ainda está nos primeiros dias de mandato.
A respeito dos altos e baixos da bolsa e do dólar desde que saiu o resultado da eleição e, principalmente, nos primeiros dias de governo, Haddad negou que a queda da bolsa na segunda-feira passada, por exemplo, se deva a um ataque especulativo ao início da sua gestão à frente da pasta. Para ele, se trata do legado desastroso deixado pelo governo Bolsonaro na economia. “As pessoas estão se apropriando dos números e do que aconteceu no Brasil em 2022. Estava um clima de que a economia estava em um rumo certo e esse clima está se desfazendo pela apresentação dos números”, disse.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do portal Brasil247