A diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva, disse que o Brasil “tem sido uma boa notícia para a economia mundial”, pois tem superado as projeções de crescimento, incluindo as do organismo internacional.
Ela está no Brasil, pela primeira vez, para participar da reunião dos ministros de Finanças e presidentes dos BCs do G20, que termina nesta quinta-feira (29), em São Paulo, com a presença física, pela primeira vez, do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que testou negativo pela Covid-19. Até agora, Haddad tinha participado virtualmente do encontro.
Em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico, ela elogiou o pacote “muito determinado” de reformas do governo brasileiro, citando, por exemplo, a mudança do sistema tributário, que deve elevar o crescimento potencial ao longo do tempo e a iniciativa que busca ampliar a oferta de proteção cambial para projetos ambientalmente sustentáveis, lançada na segunda-feira passada.
Ela também disse ver com bons olhos o novo arcabouço fiscal, conjunto de regras fiscais, que substituiu o teto de gastos, para limitar o crescimento de despesas em relação à arrecadação.
“O Brasil tem sido uma boa notícia para a economia mundial, porque superou as projeções, inclusive as nossas, nos últimos anos. Fico muito satisfeita com isso”, disse. “Mas, assim como o resto do mundo — que está crescendo a 3% — isso não é suficiente. Historicamente, o crescimento global nas décadas anteriores à pandemia foi, em média, de 3,8%”, complementou.
Em termos fiscais, segundo ela, “há um pacote muito determinado de reformas”. “A reforma do imposto sobre o valor agregado [a reforma tributária, aprovada no fim de 2023], que vai melhorar a perspectiva de crescimento potencial ao longo do tempo. A reforma de como o dinheiro público é usado para estimular mais investimentos privados, especialmente por meio de garantias sobre o risco cambial, além de uma revisão muito importante dos gastos. Desse modo, a qualidade do gasto público pode melhorar”, pontuou.
Sobre as perspectivas do Brasil na área de economia verde, com destaque para o Plano de Transformação Ecológica, a diretora-gerente do FMI observou que “o Brasil tem enorme vantagem competitiva”. “O país é uma potência em energia renovável, o que significa que, em um mundo que está se esforçando para tornar as indústrias verdes, ele pode ser um polo muito atraente. O conceito de usar créditos de carbono para estimular a transformação já está bastante desenvolvido”, disse.
Segundo ela, o fato de 85% da população usar o Pix no país, mostra o potencial digital da nação. “Seria importante usar ainda mais o fato de que vocês têm acesso à internet muito acima da média para desenvolver a economia digital, além de combinar energia renovável com investimento em habilidades e talentos humanos.”
Diretora do FMI diz que economia global parece caminhar para um “pouso suave” e que Brasil está “à frente” no controle da inflação
A respeito da economia mundial, a diretora-gerente do FMI disse que o mundo parece caminhar para um pouso suave, pois a inflação tende a voltar para as metas perseguidas pelos bancos centrais sem uma recessão.
“O que vemos é uma notável resiliência na economia mundial, apesar das altas taxas de juros. E isso se traduz em uma expectativa de que, de fato, um pouso suave ocorrerá este ano. Mas temos que reconhecer que a luta contra a inflação não foi totalmente vencida em todos os lugares”, disse.
Nesse aspecto, ela cita que o Brasil está “à frente”. “Vocês estavam à frente no combate à inflação por meio do aumento dos juros e estão à frente na capacidade de ver a inflação baixar a ponto de poder reduzir as taxas. No entanto, esse não é o caso em todos os lugares e, portanto, os bancos centrais precisam continuar a ser muito cautelosos quanto ao tempo de agir, guiados pelos dados”, alertou.
Com relação ao crescimento econômico mundial, Kristalina disse que, “embora o crescimento permaneça em território positivo e tenhamos aumentado ligeiramente nossas projeções para 2024, de 2,9% para 3,1%, também vemos um crescimento fraco ano após ano”.
Por isso, ela avalia que “as perspectivas para o mundo enfrentar desafios muito dramáticos se tornaram mais difíceis. Embora estejamos mais otimistas hoje do que há um ano, também estamos alertando as autoridades para que se guiem pelos dados e também para que se concentrem, neste ano melhor, em colocar a casa fiscal em ordem”.
Haddad vai participar do encerramento da reunião do G20
O ministro da Fazenda testou negativo para Covid e irá retomar a agenda presencial na reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais que acontece em São Paulo.
De acordo com o ministério da Fazenda, o primeiro teste foi feito ontem (28). Hoje, um novo exame foi realizado, desta vez com laudo, e novamente o resultado foi negativo.
Após permanecer em isolamento desde a sexta-feira passada (23), o ministro cumprirá presencialmente, na Bienal do Parque Ibirapuera, na zona sul da capital paulista, as agendas do último dia da Trilha de Finanças do G20, sob a presidência do Brasil.
Haddad foi diagnosticado com a doença no último domingo, após se sentir indisposto e realizar um teste.
O ministro participou dos compromissos virtualmente. Foi a segunda vez que Haddad testou para Covid. Em 2022, ele também foi diagnosticado com a doença.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e de O Globo