Gleisi Hoffmann segue Lula e diz que política monetária do Banco Central atua ‘contra o governo e contra o país’

Em entrevista à rede CNN, deputada federal criticou manutenção de taxa de juros em 13,75% ao ano, mas ressaltou que crtica não é sobre "uma pessoa", mas à política
10 de fevereiro de 2023

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, engrossou ontem (9) o coro de críticas à política monetária do Banco Central (BC). Em entrevista à rede CNN, ela disse que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, atua “contra o governo e contra o país” ao manter a taxa de juros em 13,75% ao ano. No entanto, ela reforçou que a discussão não é sobre “uma pessoa”, mas sobre a política adotada.

Assim, a deputada federal pelo estado do Paraná reforça as críticas que vêm sendo desferidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em discurso proferido na cerimônia de posse de Aloizio Mercadante como presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), na segunda-feira passada (6),  Lula voltou a criticar a taxa de juros imposta pelo BC. “Um dos maiores empresários brasileiros, Antônio Ermírio de Moraes, levantava e ia dormir fazendo críticas à taxa de juros”, disse, citando também seu vice nos primeiros mandatos, José Alencar, que não passava “uma reunião” sem reclamar dos juros.

“O problema não é Banco Central independente ou ligado ao governo, é que o Brasil tem uma cultura de juros altos que não combina com a necessidade de crescimento. Por que acabar com a TJLP pra não ter financiamento de longo prazo?”, questionou. “Não tem nenhuma justificativa para que a taxa de juros esteja em 13,75%, é uma vergonha o aumento e a explicação que deram para a sociedade”, continuou Lula.

Na entrevista, Gleisi disse que a única avaliação possível para ela é acreditar que Campos Neto esteja atuando de forma política, como um remanescente do governo de Jair Bolsonaro (PL). Vale lembrar que, embora tenha status de ministro mas atue de modo politicamente independente de governos, Campos Neto foi flagrado recentemente em um grupo de WhatsApp de ministros do mandato de Bolsonaro, como Paulo Guedes (Economia).

No ano passado, ele foi visto indo votar, no primeiro e no segundo turno, trajando uma camisa amarela da seleção brasileira, “uniforme” da horda bolsonarista. Além disso, participou daquela famigerada reunião de 22 de abril de 2020, a qual basta dar um google para ver.

Sobre a ligação de Campos Neto com o governo Bolsonaro, Gleisi foi mais explícita em uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. “O presidente do Banco Central declarou seu voto em Bolsonaro. O presidente do Banco Central estava em um grupo de ministros de Bolsonaro até há pouco tempo. Então ele tem um lado. Lado de Bolsonaro. Foi nomeado por ele. Ele não demonstrou a sua autonomia, sua independência política, por esses fatos. Quando o banco tem a decisão de manter as taxas nos níveis atuais, joga contra o Brasil”, disse Gleisi ao jornal.

O mandato de Campos Neto à frente do Banco Central vai até 2024. A independência do BC foi aprovada em 2021 com voto contrário da bancada do PT, conforme pontuou Gleisi.

Para Gleisi, BC segue adotando a política monetária do governo anterior, de Paulo Guedes

política monetária

Reprodução CNN

Durante a entrevista, a deputada federal petista disse que o Banco Central segue adotando a política monetária de Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Bolsonaro. No entanto, apesar de todas as evidências da ligação de Campos Neto ao governo anterior, ela disse que a discussão “não é sobre uma pessoa, e sim sobre a política monetária [do Banco Central]”.

“Não há justificativa para ter juros de 13,75%, nem para a meta da inflação estar fixa em 3%”, disse, acrescentando que o Brasil “está indo na contramão do resto do mundo” com esses números. Ela disse esperar uma explicação do BC para a taxa atual, uma vez que “não temos risco fiscal no país” que os justifique.

“Uma coisa é o Banco Central ter autonomia, outra coisa é ir contra o povo brasileiro”, falou Hoffmann. A petista ressaltou que a taxa de juros elevada dificulta que empreendedores consigam fazer investimentos e, consequentemente, barra o crescimento econômico do país, a mesma justificativa do presidente Lula para fazer as críticas.

Sobre a reação do mercado às falas de Lula contra a política monetária, a presidente do PT disse que “o mercado não pode ficar especulando sobre os juros futuros de um país e que é preciso acabar com o tabu sobre o debate de política monetária”.

“É algo que não pode se falar? Isso [a política monetária] é essencial para o futuro de um país, temos que discutir sim”, enfatizou. “O presidente Lula é presidente do Brasil. Tem direito e dever de falar sobre todos os assuntos. Não pode ser tolhido disso. Nós, como partido, achamos que está errada a política que está sendo implementada, que essa política monetária tem que ser mudada. Eu acho que o Conselho Monetário Nacional tem que se reunir, tem que reorientar as metas. E o Banco Central tem que cumprir”, afirmou a presidente do PT.

Ela também disse que é “uma barbaridade” exigir que o governo Lula defina uma nova regra fiscal, substituta ao teto de gastos, e indique onde pretende cortar gastos apenas um mês depois da posse. “Assumimos com o orçamento estourado, tivemos que recompor o orçamento feito pelo governo Bolsonaro”, ressaltou.

A respeito das metas de inflação, Lula tem criticado publicamente as metas fixadas para os próximos anos (3,25% em 2023 e 3% em 2024 e 2025), com margens de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse ontem que não está em discussão no governo, ao menos por ora, mudanças no regime de metas de inflação.

“Desconheço qualquer reunião nesse sentido”, disse Padilha quando perguntado por repórteres sobre possível discussão no governo sobre o tema.

Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias, da CNN e da Folha de S.Paulo

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