O governo do ultraliberal Javier Milei anunciou ontem (12) seu primeiro pacote fiscal para tentar conter a crise econômica da Argentina, uma das piores da história recente do país. As medidas anunciadas incluem a desvalorização do peso, suspensão de obras públicas, redução de subsídios para energia e transporte, aumento temporário de impostos, liberação das importações e redução dos repasses às províncias.
O pacote foi anunciado pelo novo ministro da Economia, Luis Caputo, em discurso gravado de 17 minutos.
O dólar oficial passou a valer 800 pesos fixos, ante os 366 pesos anteriores ao anúncio. O aumento é de 120%. Com isso, o dólar paralelo “blue” e todos os preços nas ruas também devem subir.
“Vamos ajustar a taxa de câmbio oficial para que os setores produtivos tenham os incentivos adequados para aumentar a produção”, disse o ministro.
Em relação ao aumento no imposto das importações, ele disse: “Assim, beneficiamos os exportadores com um preço melhor e equiparamos a carga fiscal para todos os setores, deixando de discriminar o setor agropecuário”, comentou.
Sobre a suspensão de novas licitações e cancelamento das obras públicas já iniciadas, o ministro disse: “Não há dinheiro para pagar mais obras públicas, que, como sabemos, muitas vezes terminam no bolso de políticos e empresários. As obras públicas têm sido desde sempre um dos focos de corrupção do estado e conosco isso termina. As obras de infraestrutura na Argentina serão realizadas pelo setor privado, já que o estado não tem dinheiro nem financiamento para executá-las”.
Com a redução do subsídio à energia e aos transportes, isso significa que as contas de luz e gás aumentarão, assim como os preços das passagens de trens e ônibus em toda a região metropolitana de Buenos Aires.
Segundo o ministro, o povo argentino deve “ter percebido que esses subsídios não são gratuitos, uma vez que são pagos com inflação: o que te dão com o preço da fatura, te cobram com os aumentos no supermercado”.
Por fim, o ministro disse que a redução de transferências às províncias acaba com a “moeda de troca” usada na história recente para “mediar favores políticos”.
Também foram suspensas a publicidade do governo por um ano, a não renovação de contratos de trabalho com menos de um ano, redução de 106 para 54 o número de secretarias; e de 18 para 9 o número de ministérios (já anunciado na posse de Milei).
Em seu discurso de posse no último domingo, Milei havia prometido um “remédio amargo” contra a inflação do país.
Para amortecer os efeitos das mudanças, os programas sociais à população mais pobre serão ampliados: as mensalidades pagas por filho subirão 100% e os cartões-alimentação, 50%.
Desde a vitória de Javier Milei, remarcação de preços disparou na Argentina
A remarcação de preços nos supermercados disparou com a vitória de Milei à Presidência. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, os papeizinhos azuis e redondos com o escrito “Preços Justos”, que costumavam ficar pregados junto a algumas mercadorias, já não existem mais.
Esses papeizinhos faziam parte do programa de acordo de preços que a gestão do ex-presidente Alberto Fernández fazia com fornecedores, armazéns, supermercados e outros setores para mitigar os efeitos da inflação crescente na Argentina.
Ainda segundo a reportagem, o último pacto negociado pelo ex-ministro da Economia Sergio Massa previa uma subida de até 12% em novembro e mais 8% em dezembro em uma lista de milhares de produtos, sob uma inflação mensal que deve ultrapassar essas cifras.
A chegada de Milei ao poder, no entanto, fez com que esses acordos fossem deixados de lado e novas listas de preços passaram a ser enviadas, para compensar os atrasos dos últimos meses.
A regulação de preços já foi chamada de “aberração” por Milei, indicando às empresas e à população que ela seria eliminada.
Segundo a reportagem, a remarcação tem feito com que muitos argentinos corram aos supermercados para conseguirem comprar hoje o que podem não conseguir comprar amanhã.
FMI chama medidas do novo governo de “audaciosas”
O FMI (Fundo Monetário Internacional) elogiou as medidas anunciadas pelo novo governo argentino, chamando-as de “audaciosas”.
“Essas ações iniciais audaciosas têm como objetivo melhorar significativamente as finanças públicas de maneira a proteger os mais vulneráveis na sociedade e fortalecer o regime de câmbio. Sua implementação decisiva ajudará a estabilizar a economia e estabelecerá as bases para um crescimento mais sustentável liderado pelo setor privado”, informou o órgão em nota.
O pacote era a medida mais esperada do novo presidente, que, durante sua campanha, prometeu cortes profundos na estrutura estatal.
No discurso de posse no domingo, ele disse que “não há dinheiro” no país e pediu que a população se preparasse para tempos difíceis antes de a situação melhorar.
A Argentina vive uma das piores crise econômicas de sua história recente, com 40% da população vivendo na pobreza e a inflação ultrapassando os 140% anuais.
Milei tem dito que o corte dos gastos públicos será equivalente a 5% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. Enquanto isso, muitos argentinos temem que as mudanças possam levar a um período de dificuldades e desafios sociais sem precedentes.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e Folha de S. Paulo