Após aprovação do PL que regulamenta o mercado de carbono do país, Haddad diz que agro ‘vai querer retornar’ ao texto

Ministro da Fazenda comentou a retirada da proposta do setor que mais emite gases de efeito estufa no país, após lobby da bancada do boi na Câmara. “Acredito que, no curto prazo, essa decisão vai ser revista pelo próprio setor. Porque é benéfica", disse.
26 de dezembro de 2023

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o potencial de ganhos fará o setor agrícola querer retornar ao mercado de carbono. A fala o ministro está no contexto da aprovação do projeto que regulamenta o mercado de créditos de carbono, na quinta-feira passada (21), pela Câmara dos Deputados. Devido a mudanças feitas pelos deputados, o projeto terá que voltar ao Senado.

O segmento do agronegócio foi retirado da proposta aprovada pela Câmara. “Acredito que, no curto prazo, essa decisão vai ser revista pelo próprio setor. Porque é benéfica. A agricultura vai ter vantagens com isso [a inclusão no mercado de créditos de carbono]. Em algum momento, o próprio setor vai compreender”, afirmou Haddad na sexta-feira passada, em café da manhã de fim de ano com jornalistas.

Para o ministro, a regulamentação do mercado de carbono, medida que integra o plano de transição ecológica impulsionará as exportações brasileiras. “Esse tema é essencial para o sucesso econômico do país porque a falta de atenção à preservação dos biomas pode servir de pretexto para a elevação de barreiras [comerciais] contra produtos brasileiros”, explicou.

O PL 2148/15 cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), que estabelece tetos para emissões e um mercado de venda de títulos.

O relator, deputado Aliel Machado (PV-PR), propôs um texto que une projetos discutidos na Câmara a uma proposta já aprovada pelo Senado (PL 412/22).

Mercado de carbono: lobby da bancada do boi deixa agro fora da proposta, o que não faz sentido

O texto faz parte da pauta verde aprovada neste ano, que inclui a exploração de energia eólica no mar (PL 11247/18) e a produção de hidrogênio verde (PL 2308/23).

A ideia do projeto é criar um limite de emissões de gases do efeito estufa para as empresas. Aquelas que mais poluem deverão compensar suas emissões com a compra de títulos. Já as que não atingiram o limite ganharão cotas a serem vendidas no mercado.

No entanto, o projeto deixando de fora a agropecuária do sistema de metas de emissões. O setor, no Brasil, é o maior emissor de gases de efeito estufa, daí a sua retirada não fazer o menor sentido.

Com 299 deputados aliados, a “bancada do boi” manteve o texto aprovado no Senado em outubro, que retirava toda atividade primária agropecuária do escopo do modelo.

Durante a votação no plenário, o PSOL chegou a apresentar um destaque sugerindo a volta do agro ao mercado, mas a proposta foi rejeitada.

Desse modo, se o texto for aprovado como está no Senado, proprietários rurais podem ficar imunes aos tetos de emissões de gases de efeito estufa estipulados pelo órgão gestor do mercado. O mesmo não acontecerá, por exemplo, com a indústria.

Sem mencionar o agro, o relator da proposta na Câmara disse que o Brasil é, atualmente, um dos maiores emissores de gases de efeito estufa: cerca de 2 bilhões de toneladas de gás carbônico por ano. O objetivo da proposta é criar incentivos para frear as emissões e os impactos climáticos das empresas.

“Criamos mecanismos para incentivar, orientar e auxiliar os agentes econômicos a se conduzir de forma coerente com essa necessidade global, pela inibição de emissões de gases de efeito estufa nos processos produtivos ou, quando não for possível a inibição de novas emissões, pela compensação”, explicou.

Na última fase de negociações, ele atendeu ao lobby da Frente Parlamentar Agropecuária para excluir da regulamentação setores do agronegócio, como a produção de insumos ou matérias-primas agropecuárias (fertilizantes, por exemplo).

Durante a discussão em Plenário, foi incluída a previsão de compensação ambiental de emissão de gases por veículos automotores, com a compra de créditos de carbono pelos proprietários de veículos. Caberá aos órgãos de trânsito dos estados e do Distrito Federal regulamentar a regra.

O acordo também prevê a inclusão dos assentados da reforma agrária nas mesmas regras dos povos indígenas e originários, a pedido do PT.

Veja o que prevê o projeto

Poderão gerar créditos de carbono, entre outras ações:

  • A recomposição, a manutenção e a conservação de áreas de preservação permanente (APPs), de reserva legal ou de uso restrito e de unidades de conservação.
  • As unidades de conservação integral ou de uso sustentável com plano de manejo.
  • Os projetos de assentamentos da reforma agrária.
  • Povos indígenas e comunidades tradicionais serão autorizados a entrar no mercado por meio de associações.

Quem será regulado:

  • Terão algum tipo de controle as atividades que emitem acima de 10 mil toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano.
  • Empresas com emissões entre 10 mil tCO2e e 25 mil tCO2e deverão submeter ao órgão gestor do SBCE um plano de monitoramento das emissões, enviar um relato anual de emissões e remoções de gases e atender a outras obrigações previstas em decreto ou ato específico desse órgão gestor.
  • Atividades com emissões acima de 25 mil tCO2e por ano terão ainda a obrigação de enviar anualmente ao órgão gestor um relato de conciliação periódica de obrigações.

Esses patamares de emissão poderão ser aumentados levando-se em conta o custo-efetividade da regulação e o cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil perante a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (IPCC, na sigla em inglês).

O Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE) terá um órgão gestor, um órgão deliberativo e um comitê consultivo permanente.

Redação ICL Economia
Com informações da Agência Brasil, Agência Câmara e Folha de S.Paulo

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