Haddad: ‘BC dialoga mais com o mercado do que com a Fazenda e relação com Campos Neto já foi mais harmoniosa’

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, ministro da Fazenda disse ainda que "muita gente ganha com a volatilidade do mercado".
31 de maio de 2024

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez um desabafo sobre a postura do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada na edição desta sexta-feira (31). Segundo o mandatário da pasta, a relação com Campos Neto já foi mais harmoniosa e ele ainda pontuou que os membros do BC mantêm uma comunicação “infinitamente mais intensa com o mercado financeiro do que com o Ministério da Fazenda”.

Haddad ainda comentou que, por vezes, parece que conversar com a Fazenda é visto como um erro, enquanto o diálogo constante com o mercado não é questionado. Na entrevista, ele ainda responsabilizou a volatilidade no mercado por problemas “inexistentes”.

Na semana anterior, durante uma audiência na Câmara dos Deputados, Haddad afirmou que críticas à política econômica “não têm amparo em dados” e que ruídos sobre a trajetória fiscal foram exacerbados por influências externas, sem mencionar nomes diretamente, mas aludindo às declarações de Campos Neto feitas em Washington, em abril.

Campos Neto sugeriu que uma eventual perda de credibilidade fiscal aumentaria os custos monetários, o que poderia impactar as decisões do Copom (Comitê de Política Monetária). Apesar de considerar a meta de inflação de 3% bastante rigorosa, Haddad negou qualquer intenção de modificá-la, explicando que seu comentário foi no contexto de elogiar a cooperação entre a Fazenda e o BC.

A propósito da postura de Campos Neto, o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, sugeriu que o presidente do BC tem feito uso político do Boletim Focus, publicação da autoridade monetária com projeções de indicadores macroeconômicas feitas pelo mercado financeiro.

Haddad ainda mencionou que não há pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que ele privilegie mais o governo do que o mercado.

Reconheceu que Lula voltou ao poder com uma “ansiedade” maior para responder às demandas sociais, mas destacou que isso não impediu a aceitação do novo arcabouço fiscal.

Haddad diz que “muita gente ganha com a volatilidade do mercado”

Ao Valor, o ministro da Fazenda disse ainda que os ruídos sobre a trajetória fiscal se agravaram recentemente devido a especulações infundadas e patrocinadas por interesses não identificados.

Haddad afirmou que “muita gente ganha com a volatilidade do mercado” e destacou a importância de uma comunicação eficaz para mitigar os efeitos dessa volatilidade, a qual, segundo ele, prejudica o pequeno poupador.

Sobre o plano de ajuste fiscal do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, Haddad disse que “80% do conteúdo do plano se inspira em medidas já adotadas pelo governo federal”.

A respeito das indicações feitas pelo governo Lula à diretoria do BC, o ministro afirmou que elas foram bem recebidas pelo mercado. “Há nove pessoas que vão decidir a política monetária e que vão fazer isso depois de interagir não apenas com a Fazenda”, disse Haddad, enfatizando a necessidade de uma comunicação equilibrada com diferentes setores.

Haddad mencionou ainda sua viagem para uma conferência em Roma, onde pretende discutir a taxação dos super-ricos e buscar uma audiência com o papa Francisco antes de retornar ao Brasil no dia 5 de junho.

Redação ICL Economia
Com informações do Valor Econômico

Continue lendo

Assine nossa newsletter
Receba gratuitamente os principais destaques e indicadores da economia e do mercado financeiro.