O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem (16) que “dois terços” da alta do dólar estão atrelados ao que vem acontecendo no cenário externo, incluindo a escalada das tensões no Oriente Médio e à política monetária dos Estados Unidos, onde a inflação se mantém resistente e deve levar o Fed (Federal Reserve, o banco central de lá) a demorar a baixar as taxas de juros.
“Tem muita coisa que está fazendo com que o mundo esteja atento ao que está acontecendo nos Estados Unidos e o dólar está se valorizando frente às demais moedas. Eu diria que isso não explica tudo o que está acontecendo no Brasil, mas explica dois terços do que está acontecendo no Brasil”, afirmou Haddad, que chegou ontem de manhã a Washington, nos Estados Unidos, para participar de encontros do FMI (Fundo Monetário Internacional), Banco Mundial e G20 (fórum de cooperação econômica internacional formado por 19 países mais ricos do mundo, mais União Africana e a União Europeia).
Ontem, o dólar alcançou o maior patamar desde março de 2023 ao encostar nos R$ 5,28. A moeda norte-americana terminou o dia a R$ 5,2688, alta de 1,61% no mercado à vista.
A disparada da moeda norte-americana ocorre após a equipe econômica apresentar o PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) com mudanças nas metas fiscais. Para 2025, a meta fiscal foi reduzida de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para zero, a mesma determinada para este ano. Pelas projeções do PLDO, a dívida pública só deve começar a diminuir em 2028, o que pode ter trazido apreensão à turma da Faria Lima.
Também pressionam a moeda norte-americana a expectativa de um adiamento do corte de juros nos EUA, devido à inflação persistente, e às tensões no Oriente Médio após o ataque de Irã em resposta a um bombardeio de Israel à embaixada iraniana na Síria, que podem afetar os preços do petróleo.
Questionado por jornalistas se o um terço restante das razões para a subida do dólar estaria atrelado às mudanças, Haddad disse que “precisamos explicar melhor” o que vai acontecer com as contas públicas brasileiras.
“Nós estabelecemos uma trajetória que é consistente com o equilíbrio da dívida pública, mas factível à luz dos movimentos do Congresso Nacional nesses 15 meses, quase 16 meses que nós estamos à frente do governo. Sopesando as forças que estão envolvidas para nós passarmos para a sociedade, para os investidores, uma trajetória que parece mais consistente do que aquela que foi anunciada em março do ano passado”, disse.
O ministro afirmou que está acompanhando o que está acontecendo “junto ao Tesouro e ao Banco Central”. “Está havendo uma reprecificação de ativos no mundo inteiro. Hoje, por exemplo, o peso mexicano está sofrendo mais do que o real brasileiro. Indonésia também”, disse a jornalistas.
Disparada do dólar: Haddad classificou momento atual como “turbulência semanal”
O ministro caracterizou o momento atual como uma “turbulência semanal” e ressaltou que, no governo Jair Bolsonaro, o dólar chegou a bater R$ 6 e os juros dispararam, mas que “essas coisas se acomodam depois”.
“É um momento tenso. O lado externo não está ajudando. O lado interno nós estamos corrigindo com diálogo no Executivo, no Legislativo. Já que a questão está mais delicada, vamos fazer neste momento um momento de repensar a estratégia e redefinir o papel de cada um para restabilizar as expectativas”, afirmou.
Sobre as mudanças nas metas apresentadas na segunda-feira (15), Haddad disse que o governo queria “antecipar o quanto antes o equilíbrio fiscal. Mas nós estamos numa democracia e nós estamos negociando as medidas com o Congresso”.
Sem mencionar explicitamente derrotas recentes do governo no Legislativo, Haddad afirmou que a Fazenda precisa “negociar todas as medidas, caso a caso e, em geral, com perdas”. “Na negociação, sempre a Fazenda acaba ficando desfalcada de algum pedaço que era importante para o fechamento das contas”, afirmou o ministro.
Questionado sobre a relação com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que fez críticas diretas ao ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Haddad disse que nunca teve problemas com o deputado e que os dois conversaram antes de sua viagem aos EUA.
“Nós aprendemos de março do ano passado para cá que nem tudo que nós entendemos que é justo, que é correto, que vai na direção correta, vai ser recebido pelo Congresso com a mesma sensibilidade. Esse trabalho está sendo feito, vai continuar a ser feito. Nós não temos dúvidas sobre a consistência das trajetórias”, afirmou o ministro.
Ontem, o Boletim Focus do Banco Central mostrou que o mercado financeiro reduziu a previsão de inflação para este ano, mas elevou a do PIB (Produto Interno Bruto) assim como a do dólar e da taxa Selic.
A respeito da previsão do mercado, o ministro da Fazenda disse que considera um movimento de curto prazo natural.
“Quando você tem más notícias de fora e alguma perturbação interna, nós tivemos o episódio da Petrobras que está dissipado, tivemos discussão sobre a Vale, que é uma questão que está superada. Tiveram vários arranhões que chamaram a atenção do mercado”, disse.
Para Haddad, os fundamentos da economia brasileira estão melhores do que há um ano, tanto do ponto de vista da receita quanto da despesa.
Ressaltando que a definição da taxa cabe ao Banco Central, Haddad disse acreditar que ainda há espaço para corte de juros porque o ciclo foi iniciado “muito recentemente”.
Desoneração da folha
Um dos projetos do escopo dos entraves na relação entre Executivo e Legislativo, Haddad lembrou que a desoneração da folha de municípios esbarra na reforma da Previdência.
O ministro disse que teve uma conversa ontem com o advogado-geral da União, Jorge Messias, que teria levado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sua preocupação com a possível perda de receitas resultante.
“Nós vamos tomar providências em relação a isso. Nós queremos levar para o Judiciário. Nós não queremos abrir novos precedentes de que a Previdência vai ficar desguarnecida das receitas necessárias para cumprir suas obrigações”, afirmou Haddad.
Sobre o Perse (programa para o setor de eventos), o ministro afirmou que é preciso levar o programa “para perto da razoabilidade”. “Está muito sem freio, está aberto a fraudes que aconteceram e já estão sendo combatidas pela Receita Federal.”
Da Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias