ICOMEX: Exportações para a China aumentam 49% no primeiro bimestre

ICOMEX registra que o superávit da balança comercial foi recorde na série histórica mensal do mês de fevereiro no valor de US$ 5,4 bilhões, e na do primeiro bimestre do ano com o valor de US$ 11,9 bilhões.
20 de março de 2024

Há pouco mais de um ano, o ICOMEX de fevereiro de 2023 chamava atenção para o aumento da safra agrícola brasileira que poderia impulsionar as exportações brasileiras. No entanto, o fim do lockdown na China ainda não havia se traduzido no crescimento da demanda chinesa por produtos brasileiros. Ao longo do ano de 2023, as expectativas desfavoráveis se reverteram a demanda chinesa aumentou e o país alcançou o maior superávit da sua história, US$ 98,8 bilhões.

Este ICOMEX (março) registra que o superávit da balança comercial foi recorde na série histórica mensal do mês de fevereiro no valor de US$ 5,4 bilhões, e na do primeiro bimestre do ano com o valor de US$ 11,9 bilhões. A China liderou o aumento das exportações brasileiras, e o saldo do bimestre com esse país explicou 43% do superávit da balança comercial brasileira. Começamos o ano com resultados favoráveis, mas há dúvidas que essa trajetória de resultados recordes possa se consolidar. As projeções indicam saldos ao redor de US$ 80 bilhões.

Duas questões ficam no radar. A primeira é relativa ao crescimento da China que poderá ficar abaixo dos 5% projetado pelo governo do país e, logo, afeta o crescimento das exportações brasileiras. A segunda, como os dados do ICOMEX ilustram, é a reafirmação da concentração das exportações em commodities e no mercado chinês. Em adição, o destaque da indústria extrativa no primeiro bimestre de 2024, liderada pelo petróleo, poderá ter um papel mais relevante que do que o da agropecuária.

O desempenho por setor de atividade mostra a liderança da indústria extrativa, onde as exportações cresceram em valor 53,1%, na comparação interanual em janeiro. Esse resultado é explicado pela variação de 44,4% em volume e de 5,9% nos preços. Destacam-se as vendas de petróleo bruto (17,8% do total exportado) com aumento de 53,4% em valor, impulsionado pelo aumento de volume (61,8%), pois os preços recuaram. Em seguida, as exportações de minério de ferro (participação de 10,5%), com aumento em valor de 56,9%, sendo 20% no volume e 30,8% nos preços. Lembra-se que, até meados de 2023, os preços do minério de ferro estavam caindo em relação a 2022. O aumento da demanda chinesa explica esse resultado.

Indicadores ICOMEX: uma comparação entre os dois primeiros bimestres de 2023 e 2024

As exportações aumentaram em volume 20,7% e as importações 13,3%, na comparação mensal do mês de fevereiro e os preços caíram para os dois fluxos do comércio, sendo mais acentuada a queda nas importações (-8,3%) do que nas exportações (-3,5%). Com esses resultados, a variação em valor das exportações foi de 16,3% e das importações de 2,4%. O mesmo comportamento foi observado na comparação dos dois primeiros bimestres de 2023 e 2024, levando a um aumento de 17,4% nas exportações e de 1,0% nas importações, em valor.

Os bons resultados nas exportações de fevereiro, assim como em janeiro, foram liderados pelas commodities (70% das exportações totais), pois as não commodities experimentaram queda de preços e volume.  Em termos de valor, a variação no valor exportado das commodities foi de 29,5%, entre os primeiros bimestres, com aumento de 33,2% no volume e queda de 2,8% nos preços. No começo do ano de 2023, a comparação de desempenho das commodities com o primeiro bimestre de 2022 era de recuo em 3,8% no valor, em 6,5% no volume e aumento nos preços de 3,9%. O efeito positivo do fim do lockdown na China ainda não havia ainda se manifestado.

As exportações por categoria de uso mostram a liderança dos bens não duráveis (26,0%) e dos bens intermediários (21,7%), em termos de volume. Os não duráveis explicaram 16,9% das exportações e os intermediários, 76,2%, no primeiro bimestre de 2024. A queda de 22,4% dos bens duráveis está associada ao recuo nas vendas do setor automotivo para a Argentina, o principal mercado para o Brasil. A categoria registrou participação de 1,5% nas exportações totais. As commodities se concentram principalmente nos bens intermediários, que foram o único grupo a registrar queda de preços.

Do lado das importações, todas as categorias aumentaram o volume e registraram queda de preços, entre os primeiros bimestres de 2023 e 2024. Os bens intermediários, que explicaram 68,3% das importações, cresceram 10,5% e registraram a maior queda de preços, 12,8%. Os bens duráveis aumentaram o volume em 44,2%, mas a participação na pauta é de apenas 3,6%.

Os maiores incrementos entre os primeiros bimestres de 2023 e 2024 nas importações de bens duráveis foram de ar condicionado (em valor, 352% e peso em Kg, 319%) e móveis (em valor 94,8% e em peso 100%). Esses produtos, porém, tem participação pequena na pauta das importações dos bens duráveis (0,6%, ar condicionado, e 1,5%, móveis). O principal item de importações são os automóveis, com participação de 62% e variação em valor de 59% e, em peso, de 54%.

A liderança das commodities se reflete no desempenho por setor de atividade. Na comparação dos primeiros bimestres de 2024 e 2023, o volume da extrativa cresceu, 47,1%, seguido da agropecuária, 29,3%, e, por último, a indústria de transformação, com aumento de 6,9%. Os preços da extrativa aumentaram em 6,7% e os da agropecuária recuaram 16,4%. %. A indústria extrativa superou a agropecuária ao registrar aumento de volume e de preços.

Selecionamos os dez produtos com maiores participações na pauta de exportações brasileiras, em fevereiro de 2024.

Os dez produtos explicaram 61,4% das exportações do país. Os três principais, soja, minério de ferro e petróleo bruto somaram 35,4% das exportações, portanto, mais do que a metade da participação dos dez produtos. Na agropecuária, com participação de 20,7% nas exportações totais, a soja explicou 60,4% das exportações totais do setor. Na extrativa, 24,5% das exportações totais, minério de ferro e petróleo tem participações similares e somam 93,7% das exportações do setor. A indústria de transformação respondeu por 54,4% das exportações totais e seis principais produtos 41,9% das exportações do setor.

A indústria de transformação apresenta uma pauta mais diversificada e sua participação (54,4%) supera a soma da agropecuária com a extrativa (45,2%), mas o índice de concentração de 35,4% em três produtos influencia o dinamismo das exportações. O resultado de fevereiro, como mostra a Tabela 1, registra aumento em valor dos três produtos, sendo a maior variação na comparação interanual do mês de fevereiro de 119,7% (petróleo), seguido pelo minério de ferro (41,4%) e a soja (4,5%). Os volumes crescem para os três produtos e os preços sobem apenas para o minério de ferro.

A concentração das vendas externas brasileiras nos três produtos coincide com a pauta de exportações para a China, na qual petróleo e minério de ferro participaram cada um com 25% das vendas brasileiras, e soja com 22%. Um índice de concentração de 72% em três produtos. No primeiro bimestre, a participação da China nas exportações brasileiras foi de 29,1%, com aumento em valor de 47% nas exportações. O saldo foi de US$ 5,2 bilhões, 43% do superávit total do Brasil.

Para o segundo principal mercado, Estados Unidos (participação de 12,1%), a pauta de exportações é mais diversificada, mas o petróleo é o principal produto, com participação de 15%, seguido das semimanufaturas de ferro e aço, 9,7%. O crescimento em valor foi de 19,4% nas exportações. Para a Argentina (participação de 3,4%), a queda no valor foi de 28%.

O Gráfico 6 do estudo completo (link o final do texto) mostra a variação nos volumes exportados e importados para os três principais mercados e mais a União Europeia. As participações e as variações dos três principais mercados já foram mencionadas. No caso da União Europeia, a participação nas exportações foi de 12% e houve um recuo no valor exportado em 6,2%. Observa-se que a China é o parceiro mais dinâmico em termos de volume exportado e importado. O comércio com os Estados Unidos avançou nas exportações, mas recuou nas importações. Com a União Europeia e a Argentina, perdeu-se nas exportações e importações. A queda em 28,7% das exportações brasileiras para a Argentina, concentrada no setor automotivo, afeta o desempenho da indústria no comércio exterior, pois não se vislumbra, no curto prazo, que mercado poderá substituir o da Argentina.

Considerações Finais

O que podemos concluir dos resultados em fevereiro da balança comercial? Não há fatos novos em relação a estrutura das exportações brasileiras. A China lidera as exportações e a concentração da pauta nas commodities. No caso das importações, destaca-se a diferença de comportamento das importações de bens de capital e bens intermediários pelo setor de agropecuária e na indústria.

O aumento das importações pela indústria de transformação sugere crescimento do nível de atividade. Ao mesmo tempo, a queda de preços, como alguns setores de bens intermediários tem destacado, a deflação liderada pelas importações chinesas prejudicaria a produção doméstica. Uma questão que poderá ganhar relevância no debate doméstico da política comercial, aumentando o caso de investigações sobre dumping em relação à China e/ou demandas para medidas protecionistas.

Acesse o estudo completo.

Do Portal FGV-IBRE

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