A inflação da Argentina ficou em 3,5% em setembro, 0,7 ponto percentual a menos que em agosto (4,2%), segundo dados do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) divulgados ontem (10) pelo Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos) do país. Em 12 meses, o indicador chegou a 209%.
Contudo, o acumulado é menor do que o mês de agosto, quando era de 236,7%. Entre janeiro a setembro, a taxa chegou a 101,6%.
O setor de maior alta em setembro foi o de Habitação, Água, Eletricidade, Gás e Outros Combustíveis (7,3%). Na sequência, ficaram Roupas e Calçados (6%), Educação (4,3%) e Restaurantes e Hotéis (3,7%).
Desde que o anarcocapitalista Javier Milei assumiu o mandato, em dezembro do ano passado, o país enfrenta um arrocho, com amplo corte de gastos públicos que elevou a pobreza.
A economia da Argentina recuou 1,7% no segundo trimestre do ano ante os três meses imediatamente anteriores. Em seis meses, o PIB (Produto Interno Bruto) acumula queda de 3,4%. Assim, o país vizinho ao Brasil, se mantém há três trimestres consecutivos no vermelho. Os números aprofundam a recessão do país.
Entre as drásticas medidas implementadas por Milei, estão a paralisação de obras federais e do repasse de dinheiro às províncias. Foram também retirados subsídios às tarifas de água, gás, luz, transporte público e serviços essenciais, o que penalizou os mais pobres.
Quando esses incentivos foram retirados, houve aumento expressivo nos preços ao consumidor.
Embora Milei se vanglorie do fato de a inflação ter desacelerado desde que ele assumiu o governo (o indicador caiu de 25,5% registrados naquele mês até o percentual atual), parte da queda tem sido atribuída à diminuição de potencial de consumo dos argentinos, além de medidas para redução de impressão de dinheiro.
Além disso, a queda nas taxas ainda não reflete uma diminuição dos preços de serviços públicos, transporte e de alimentos. E o salário mínimo de 271,5 mil pesos (US$ 278,3) não conseguiu acompanhar a inflação anual de três dígitos.
Popularidade de Milei cai junto com a inflação
A avaliação positiva do presidente ultraliberal da Argentina caiu de 54%, em maio, para 42% em setembro, queda de 12 pontos percentuais em quatro meses, segundo pesquisas de opinião publicadas no jornal El País. Agora, mais argentinos o veem de forma negativa do que positiva.
Embora os dados ainda não preocupem, acendem um sinal de alerta ao governo. Desde o início do mandato, em dezembro, a avaliação negativa de Milei subiu 22 pontos desde o início do mandato.
Em dezembro de 2023, quando Milei assumiu a presidência, 24,54% dos argentinos o avaliavam negativamente, e 48,01% o viam de forma positiva. Porém, nas pesquisas de setembro a avaliação negativa alcançou 46,42%, enquanto a positiva ficou em 41,88%, 12 pontos abaixo do pico de 53,85% registrado em maio.
Analistas avaliam que os eleitores entraram na “fase do desencanto” com Milei, principalmente pelo fato de que os argentinos não veem mudanças positivas em seu dia a dia.
Além disso, estão vendo como negativo o estilo Milei. Na semana passada, por exemplo, ao discursar em um evento em Buenos Aires, ele xingou jornalistas, políticos, sindicalistas e empresários de “casta podre”.
O presidente argentino também revoltou parte da população ao vetar leis que garantiam o aumento das aposentadorias e melhorias no orçamento de universidades públicas, mesmo após uma manifestação de professores e alunos que reuniu 300 mil pessoas só em Buenos Aires.
Milei argumentou que não cederia aos deputados e senadores que colocam em risco sua política de controle dos gastos.
A sócia-diretora da Management & Fit, Mariel Fornoni, disse ao El País que, embora Milei precise de bons índices de popularidade, mais que outros presidentes, “também é verdade que há muito tempo a oposição não estava tão diluída como está neste momento. As pessoas que não querem Milei também não querem que nada do que já esteve ali. (…) Hoje ninguém vê uma opção superior ou que tenha o ‘músculo’ necessário para enfrentar Milei”.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do El País