O índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) subiu 1% em maio, na comparação com abril passado, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (10) pelo Departamento do Trabalho americano. A inflação nos EUA é o ponto principal de atenção dos mercados porque o Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) está elevando a taxa de juro e cortando seu balanço patrimonial para tentar conter a escalada dos preços.
Na comparação com abril de 2021, a alta foi de 8,6%. É o pior resultado em 12 meses desde dezembro de 1981. Já o núcleo de inflação, que exclui alimentos e energia (cujos preços são mais voláteis), subiu 0,6% na comparação mensal e 6,0% na anual. Foi o maior nível em quase 41 anos.
Os dados vieram bem acima do esperado pelo mercado, pois a estimativa era de uma alta de 0,7% na comparação mensal para a inflação e 0,5% para o núcleo, segundo o consenso Refinitiv. Na base anual, a projeção era 8,3% para o índice “cheio” e 5,9% para o núcleo.
O relatório de inflação foi publicado antes do que deve ser a adoção de uma segunda alta consecutiva de 0,50 ponto percentual nos juros pelo Fed na próxima quarta-feira. Também já era esperado, antes do dado, que o banco central dos EUA eleve sua taxa básica em mais 0,5 ponto em julho. O Fed já aumentou os custos dos empréstimos em 0,75 ponto desde março.
Grande questão era sobre o ritmo de alta de juros a partir da reunião de setembro; com o novo dado, chances de aperto agressivo na taxa de juro aumentam.
Alguns analistas consultados já esperam que o Fed eleve os juros em 0,5 ponto percentual em setembro, versus a estimativa de alta de 0,25 ponto anteriormente, além dos movimentos de alta de 0,5 ponto em junho e julho.
O impacto no mercado de renda variável é claro, com as bolsas nos EUA em forte queda (Nasdaq em baixa de mais de 3%), enquanto o rendimento dos títulos dos EUA de dois anos superam a máxima em dois anos. No Brasil, o Ibovespa chegou a ter queda de cerca de 2% nas mínimas, enquanto o dólar sobe forte, chegando a superar os R$ 5 no intraday.
Após a divulgação do indicador, o rendimento de curto prazo dos títulos do Tesouro americano dispararam (para 2,908%, uma alta de 0,091 ponto percentual), e os índices futuros em Nova York se firmam no negativo (o Dow Jones futuro recua 0,85%; o S&P 500 futuro, 1,06%; e Nasdaq futuro, 1,48%)
O resultado também ficou bastante acima da alta de 0,3% de abril, quando a inflação já havia surpreendido o mercado, o que pode elevar os temores dos investidores de que o Fed precisará subir a taxa de juros mais do que o previsto atualmente pelo mercado para combater a inflação.
Inflação nos EUA é generalizada, envolvendo moradia, gasolina e alimentação
O Departamento de Comércio dos EUA diz que o aumento de preços em maio foi generalizado, com os índices de moradia, gasolina e alimentação sendo os que mais contribuíram para a inflação. Os preços de energia subiram 3,9% no mês, após terem caído em abril, e a gasolina ficou 4,1% mais cara. Comida subiu 1,2% e alimentação em casa, 1,4%.
Segundo comunicado do Departamento de Comércio, embora quase todos os principais componentes tenham aumentado ao longo do mês, os maiores contribuintes foram os índices de moradia; passagens aéreas; carros e caminhões usados; e veículos novos.
A alta anual de 8,6% do CPI (nos 12 meses encerrados em maio) é a maior para o indicador desde dezembro de 1981. Já o núcleo da inflação (que exclui alimentos e energia) sobe um pouco menos (6,0%).
Dos preços mais voláteis, os da energia acumulam alta de 34,6% em 12 meses, o maior nível desde setembro de 2005, puxados por gasolina (+48,7%) e óleo combustível (+106,7%). Já a inflação de alimentos sobe 10,1% em um ano, e pela primeira vez desde março de 1981 alcançou o patamar de dois dígitos. O Banco Mundial tem alertado para a alta de preços global por conta da escassez de fertilizantes, alimentos e energia.
Alguns economistas avaliam que a inflação nos EUA ainda não atingiu seu pico e deve continuar subindo. Eles dizem que a surpresa mais proeminente foi a alta em 12 meses ter acelerado de 8,3% em abril para 8,6% — acima da projeção mais pessimista, que era de 8,5%. A teoria de que a inflação já tinha atingido seu pico perde força.
Até o momento, a alta de preços foi concentrada em alimentos e energia, mas o efeito sob os núcleos também não foi desprezível. Ainda que o núcleo de inflação tenha desacelerado de 6,2% para 6,0% na base anual, a velocidade da queda foi inferior ao que boa parte do mercado esperava (pois a mediana das expectativas estava em 5,9%).
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias