Desde ontem (5), analistas pelo mundo tentam entender o que levou Donald Trump a ter uma vitória esmagadora na eleição presidencial dos Estados Unidos. E, a despeito dos bons números da economia norte-americana, a insatisfação dos mais pobres e da classe média pode estar entre as razões.
Embora acumule dois pedidos de impeachment, 91 acusações criminais e 34 condenações criminais, Trump também venceu a eleição no voto popular porque os americanos, em sua maioria, não estavam gostando do rumo que a economia do país vinham tomando. Portanto, eles viam no ex-presidente a possibilidade de mudança, algo difícil numa possível eleição de Kamala Harris, atual vice-presidente democrata.
Segundo a NBC, quase metade (45%) de todos os eleitores disseram que estavam em pior situação financeira do que há quatro anos. Esse foi um nível de insatisfação mais alto do que o registrado nas pesquisas de boca de urna em qualquer eleição recente desde 2008, quando a crise financeira impulsionou Barack Obama à vitória.
A mesma pesquisa apontou que 29% dos americanos disseram estar muito zangados com a atual administração, e que apenas 40% aprovavam a gestão Biden, enquanto 58% desaprovavam.
Em entrevista ao UOL, a economista e pesquisadora Monica de Bolle, disse que ainda é muito cedo para avaliar, mas deu algumas pistas. Segundo ela, os norte-americanos “são mais endividados que os brasileiros” e se autofinanciam com empréstimos para poderem consumir.
“Como os juros se mantiveram altos por muito tempo [para controlar a inflação], isso acabou encarecendo o custo do crédito para eles. Então, isso acaba pressionando o consumo”, disse Monica, salientando ainda que muitos norte-americanos também têm dívidas hipotecárias para compra da casa própria.
As taxas de juros nos Estados Unidos chegaram no maior nível histórico em duas décadas e o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) só iniciou o ciclo de baixa em setembro passado, quando promoveu um corte de 0,50 ponto percentual, para a faixa de 4,75% a 5% ao ano. Foi a primeira vez desde março de 2020 que a taxa sofre uma redução. Nesta quinta-feira (7), a autoridade monetária deve anunciar redução de 0,25 p.p. nos juros.
Conservadorismo do eleitor
No entanto, Monica ponderou que, por detrás da vitória de Trump, está um eleitor mais pragmático e cansado das pautas identitárias, sinais que, na avaliação dela, devem ser observados pelo Brasil. “Assim como nos EUA, os eleitores brasileiros também são conservadores”, disse.
O conservadorismo é tamanho que o republicano teve apoio da comunidade latina, apesar de ter como bandeira a pauta anti-imigração. Na Flórida, por exemplo, que tem a terceira maior comunidade latina dos EUA (5,7 milhões), Trump obteve 56% dos votos contra 43% de Kamala Harris.
Outra parcela importante do eleitorado também ajudou o candidato republicano. Segundo as pesquisas de boca de urna, Trump ganhou algo como 20% dos votos negros neste ano, ante apenas 13% dos votos da comunidade em 2020 e meros 8% em 2016, quando venceu o pleito nacional. Esse foi o nível mais alto de apoio dos eleitores negros para qualquer republicano desde George W. Bush, em 2000
Impactos do governo Trump para o Brasil
Em entrevista à Bandeirantes, Monica de Bolle abordou os impactos da eleição de Trump para o Brasil, embora ela tenha salientado que o republicano ainda não apresentou um plano de governo efetivo. Tudo ainda está no campo da promessa, segundo ela.
Na avaliação da economista, o presidente democrata Joe Biden fez “um governo com maior protecionismo do que o Trump havia feito nos seus quatro anos anteriores”. “Em 2016, o Trump iniciou uma virada na política econômica dos Estados Unidos e na política externa. Então, teve uma virada completa ali e essa virada completa ela mais ou menos continuou sobre o Biden [Joe Biden, atual presidente]”, disse.
Segundo ela, a política econômica de Trump, “sobretudo as políticas protecionistas”, elas continuaram e até foram reforçadas por Biden. “O Trump é um sujeito que gosta de protecionismo, gosta de ameaçar os seus parceiros comerciais com tarifas de importação e tem esse estilo de confronto, de ir para briga, para o confronto. Foi o que aconteceu com a China, por exemplo. O Biden, embora ele tenha adotado exatamente a mesma política, até de forma um pouco mais contundente do que o Trump, ele faz isso dentro de um contexto diplomático”, pontuou.
Em relação ao Brasil, ela acredita que o setor de commodities pode ser afetado. “O Brasil é um competidor dos Estados Unidos. A gente não pode esquecer que em vários produtos agrícolas, e na produção de várias commodities, o Brasil é competidor, e o mercado acredita que o Trump vai olhar para isso de uma forma muito diferente do que fazem os democratas”, avaliou.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias, Rede Bandeirantes e UOL